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Mulheres trans temem ser convocadas para guerra na Ucrânia

Grupo relata dificuldades para deixar o país porque documentos oficiais indicam o sexo "masculino"; país obriga alistamento de homens

3 mar 2022 - 11h32
(atualizado às 14h20)
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Zi Faámelu está com medo de ser chamada para a guerra
Zi Faámelu está com medo de ser chamada para a guerra
Foto: Instagram/@zifaamelu

A guerra entre a Rússia e Ucrânia traz medo para qualquer morador das regiões atingidas por bombardeios russos, mas a população transexual ucraniana tem sofrido ainda mais. Em entrevista à Vice World News, mulheres trans relataram dificuldades para deixar o país. 

Como os documentos indicam o sexo "masculino" no gênero e no nome, elas dizem temer serem identificadas por forças ucranianas e obrigadas a servir ao exército. Isso por que autoridades locais têm impedido homens de 18 a 60 anos de deixar o país para lutar na linha de frente da guerra.

Zi Faámelu – uma cantora que já apareceu na TV ucraniana – aponta ser uma das poucas moradoras que restaram no bairro onde mora. Ela continua no país por temer ataques homofóbicos.

"Como centenas de pessoas transexuais na Ucrânia, eu sou mulher, mas tenho um passaporte 'masculino'. Isso é a 'guerra da guerra', e os transexuais ucranianos já lutavam antes por suas vidas", desabafou em entrevista à Vice World News.

Grupos de direitos humanos têm aconselhado, como apontou a publicação, que transexuais "percam" suas identidades para tentar fugir da Ucrânia.

Faámelu explicou que transexuais no país podem obter documentos de acordo com suas identidades de gêneros, mas o processo é "abusivo" e "humilhante", uma vez que os solicitantes precisam permanecer em hospitais por meses, sendo testados fisicamente e psicologicamente para "provar seu gênero".  

"Ninguém quer passar por isso, então nós mantemos nossos passaportes da forma como está e ficamos quietos", relatou. "A população trans está esquecida, negligenciada e abandonada. Somos invisíveis no momento. Precisamos da ONU, de organizações de direitos humanos. Precisamos que as pessoas nos ajudem a ter uma voz", resumiu.

Um morador ucraniano não-binário, que preferiu não se identificar, também teme o fato de migrar para outro país, como Polônia ou Hungria, locais que, segundo ele, sua identidade não é reconhecida ou, então, é ridicularizada. "Eu preciso escolher entre o meu país – onde eu aprendi a viver – ou um outro lugar onde eu poderia me sentir ainda mais excluído e em perigo", justificou.

Robert, nome fictício para um homem trans de 31 anos que vive em Kharkiv, fez a transição de gênero há seis anos, o que lhe garantiu uma imagem que "passa por um homem" na Ucrânia. Agora, ele teme que sua identidade, que traz seu gênero como feminino, traga memórias doloridas do passado. "Meus pais tentaram me matar quando contei a eles que sou trans", recordou. "Todo mundo aqui me conhece como 'ele'. Ninguém sabe da minha real situação. É por isso que estou tão em perigo agora", lamentou.

Zi Faámelu é cantora e diz ser uma das poucas moradoras que restaram no bairro onde mora
Zi Faámelu é cantora e diz ser uma das poucas moradoras que restaram no bairro onde mora
Foto: Instagram/ @zifaamelu

Uma organização pelos direitos LGBTQIA+ tem ajudado Robert e outros transexuais na Ucrânia. Segundo Rain Dove, dono do grupo, a ONG já ajuda mais de 700 ucranianos em situações como essa. "Sabemos que alguns transexuais estão sendo rejeitados nas fronteiras [ao tentar fugir da guerra], mas todos aqueles que nós ajudamos, eventualmente conseguiram escapar", pontuou.

Fonte: Redação Terra
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