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Não é de hoje que os Yanomami estão sendo massacrados

Já são mais de 100 anos de luta contra epidemias, exploração sexual e extrativismo

6 mai 2022 - 05h00
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Povos Yanomami sofrem há mais de 100 anos
Povos Yanomami sofrem há mais de 100 anos
Foto: Adriano Machado/REUTERS

Recentemente, a denúncia de que uma menina indígena teria morrido após ser violentada e de que outra teria desaparecido em um episódio envolvendo garimpeiros dentro da Terra Indígena Yanomami tem alertado o Brasil inteiro sobre os impactos da mineração ilegal no território. Nesta semana, a campanha CADÊ OS YANOMAMI tem tomado conta das redes sociais em posts de políticos e celebridades, chamando a atenção para o fato de moradores da aldeia em que a menina morta morava terem deixado local. À força ou por vontade? Ainda não se sabe. O fato é que a morte acompanha os povos Yanomami há muito tempo.

Foi em 1910 que os Yanomami começaram a ter contato com brancos: representantes da fronteira extrativista local (norte do Brasil), soldados da Comissão de Limites e funcionários do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e poucos viajantes estrangeiros. Até então, a relação era restrita a outros grupos indígenas vizinhos. No período que se estendeu até 1960, quando aconteceu a abertura de alguns postos do SPI e de várias missões católicas e evangélicas, junto à serviços de assistência sanitária aconteceram surtos epidêmicos de doenças como sarampo, gripe e coqueluche, que dizimaram parte da população.

De lá para cá, a morte e a luta pela preservação do próprio povo e de todo o ecossistema local têm sido a vida dos Yanomami. As informações são do ISA (Instituto Socioambiental), que atua desde 1994 ao lado de comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas e tem equipes e escritórios permanentes em São Paulo, Distrito Federal e quatro estados amazônicos, além de compromissos de longo prazo com parceiros nas regiões do Vale do Ribeira, Xingu e Rio Negro.

Durante os anos 1970 e 1980, em especial no oeste de Roraima, começam a surgir projetos de estradas, fazendas, serrarias, canteiros de obras e os primeiros garimpos, fatores que contribuem para o aumento de doenças e problemas ambientais. Lançado pelos governos militares da época, o “Plano de Integração Nacional” tinha como foco principal a abertura de um trecho da estrada Perimetral Norte (1973-76) e de programas de colonização pública (1978-79) que invadiram o sudeste das terras Yanomami.

Essa movimentação, atrelada ao projeto de levantamento dos recursos amazônicos RADAM (1975) que detectou a existência de importantes jazidas minerais na região, desencadeou a invasão garimpeira, que acabou agravando-se no final dos anos 1980. Estimativas apontam entre 30 a 40 mil garimpeiros ocupavam a região até então, cerca de cinco vezes a população indígena ali residente. Cabe destacar que 60% do território Yanomami está coberto por requerimentos e títulos minerários registrados no Departamento Nacional de Produção Mineral por empresas de mineração públicas e privadas, nacionais e multinacionais.

Por fim, foram implementadas, desde 1985, também três bases militares do “Projeto Calha Norte”: Pelotões Especiais de Fronteira / PEF de Maturacá, Surucucus e Auaris, induzindo graves problemas sociais como exploração sexual nas populações locais, o que já suscitou protestos de lideranças yanomami de Roraima.

Protesto em Brasília contra garimpo ilegal durante Acampamento Terra Livre, em abril
Protesto em Brasília contra garimpo ilegal durante Acampamento Terra Livre, em abril
Foto: Estadão Conteúdo

Segundo o MapBiomas, iniciativa para contribuir com o entendimento das transformações do território a partir do mapeamento da cobertura e uso do solo no Brasil, a terra Yanomami sofre a pior onda de invasão garimpeira em 30 anos. De 2016 a 2020, a área de floresta destruída pelo garimpo cresceu 3.350%. De acordo com mapeamento da Hutukara, o desmatamento causado pela atividade aumentou 46% em 2021, em relação a 2020.

Cabe ressaltar ainda que mais da metade da população Yanomami, aproximadamente 16 mil pessoas, sofre com os impactos do garimpo, como o desmatamento e a contaminação do solo e dos rios, segundo o ISA.

Fonte: Redação Nós
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