Não é de hoje que os Yanomami estão sendo massacrados
Já são mais de 100 anos de luta contra epidemias, exploração sexual e extrativismo
Recentemente, a denúncia de que uma menina indígena teria morrido após ser violentada e de que outra teria desaparecido em um episódio envolvendo garimpeiros dentro da Terra Indígena Yanomami tem alertado o Brasil inteiro sobre os impactos da mineração ilegal no território. Nesta semana, a campanha CADÊ OS YANOMAMI tem tomado conta das redes sociais em posts de políticos e celebridades, chamando a atenção para o fato de moradores da aldeia em que a menina morta morava terem deixado local. À força ou por vontade? Ainda não se sabe. O fato é que a morte acompanha os povos Yanomami há muito tempo.
Foi em 1910 que os Yanomami começaram a ter contato com brancos: representantes da fronteira extrativista local (norte do Brasil), soldados da Comissão de Limites e funcionários do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e poucos viajantes estrangeiros. Até então, a relação era restrita a outros grupos indígenas vizinhos. No período que se estendeu até 1960, quando aconteceu a abertura de alguns postos do SPI e de várias missões católicas e evangélicas, junto à serviços de assistência sanitária aconteceram surtos epidêmicos de doenças como sarampo, gripe e coqueluche, que dizimaram parte da população.
De lá para cá, a morte e a luta pela preservação do próprio povo e de todo o ecossistema local têm sido a vida dos Yanomami. As informações são do ISA (Instituto Socioambiental), que atua desde 1994 ao lado de comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas e tem equipes e escritórios permanentes em São Paulo, Distrito Federal e quatro estados amazônicos, além de compromissos de longo prazo com parceiros nas regiões do Vale do Ribeira, Xingu e Rio Negro.
Durante os anos 1970 e 1980, em especial no oeste de Roraima, começam a surgir projetos de estradas, fazendas, serrarias, canteiros de obras e os primeiros garimpos, fatores que contribuem para o aumento de doenças e problemas ambientais. Lançado pelos governos militares da época, o “Plano de Integração Nacional” tinha como foco principal a abertura de um trecho da estrada Perimetral Norte (1973-76) e de programas de colonização pública (1978-79) que invadiram o sudeste das terras Yanomami.
Essa movimentação, atrelada ao projeto de levantamento dos recursos amazônicos RADAM (1975) que detectou a existência de importantes jazidas minerais na região, desencadeou a invasão garimpeira, que acabou agravando-se no final dos anos 1980. Estimativas apontam entre 30 a 40 mil garimpeiros ocupavam a região até então, cerca de cinco vezes a população indígena ali residente. Cabe destacar que 60% do território Yanomami está coberto por requerimentos e títulos minerários registrados no Departamento Nacional de Produção Mineral por empresas de mineração públicas e privadas, nacionais e multinacionais.
Por fim, foram implementadas, desde 1985, também três bases militares do “Projeto Calha Norte”: Pelotões Especiais de Fronteira / PEF de Maturacá, Surucucus e Auaris, induzindo graves problemas sociais como exploração sexual nas populações locais, o que já suscitou protestos de lideranças yanomami de Roraima.
Segundo o MapBiomas, iniciativa para contribuir com o entendimento das transformações do território a partir do mapeamento da cobertura e uso do solo no Brasil, a terra Yanomami sofre a pior onda de invasão garimpeira em 30 anos. De 2016 a 2020, a área de floresta destruída pelo garimpo cresceu 3.350%. De acordo com mapeamento da Hutukara, o desmatamento causado pela atividade aumentou 46% em 2021, em relação a 2020.
Cabe ressaltar ainda que mais da metade da população Yanomami, aproximadamente 16 mil pessoas, sofre com os impactos do garimpo, como o desmatamento e a contaminação do solo e dos rios, segundo o ISA.