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"Não foi uma operação, foi um massacre", relata morador da Vila Cruzeiro (RJ)

Até o momento, ao menos 25 pessoas foram mortas durante a operação e sete ficaram feridas; conforme moradores, há relato de pessoas desaparecidas

25 mai 2022 - 16h23
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Foto enquadra um grupo de pessoas em frente ao IML do Rio de Janeiro
Foto enquadra um grupo de pessoas em frente ao IML do Rio de Janeiro
Foto: Pedro Borges / Alma Preta Jornalismo / Alma Preta

Familiares e conhecidos das vítimas mortas durante uma operação policial na Vila Cruzeiro, na Penha, estiveram em frente ao Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (25), em busca de identificar os corpos e prestar informações sobre as vítimas.

O padrasto de uma das vítimas identificada como Douglas da Costa Inácio Donato, de 23 anos, relatou que a operação assustou todos os moradores já que, segundo Carlos*, os policiais teriam entrado atirando na comunidade. "Pelo que eu vi, aquilo não foi uma operação, foi um massacre", diz o padrasto.

À Alma Preta Jornalismo, Carlos* informou que, após sair do trabalho, Douglas avisou a mãe que iria para o curso de vigilante e depois iria para o aniversário de um colega, em uma rua acima da casa onde morava.

No entanto, por volta da 1h30 da madrugada, Douglas teria saído do aniversário e deu uma carona de moto para um amigo. Quando estava voltando para casa, o jovem teria sido atingido pelos disparos da polícia.

"Quando ele foi levar o colega de moto e desceu, foi quando o caberão veio subindo e foi quando teve uma 'mutueira' (sic) de tiros e a mãe dele acordou desesperada, ligou para ele e não conseguiu falar", relata Carlos*.

Até o momento, ao menos 25 pessoas foram mortas durante a operação policial conjunta na Vila Cruzeiro, que teve início na madrugada da última terça-feira (24) e contou com atuação de Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com informações da Polícia Federal (PF). Além disso, sete foram baleadas, inclusive um policial civil que participava da operação.

Conforme a Polícia Militar, o objetivo da operação era prender chefes do tráfico do Comando Vermelho que estavam escondidos na Vila Cruzeiro e pretendiam migrar para a Rocinha.

Um mês da Chacina do Jacarezinho: pelo fim do regime de exceção nas favelas

Segundo os moradores, há relatos de diversas pessoas que estão desaparecidas, incluindo um mototaxista identificado como Juninho. Segundo Bruna Velloso, assessora jurídica do mandato do deputado federal David Miranda (PDT), pessoas da comunidade informaram que encontraram a carteira e o capacete do mototaxista escondidos em uma região de mata.

De acordo com a assessora, o mototaxista estava com uma companheira, que deu entrada no Hospital Getúlio Vargas, mas ele segue desaparecido.

"As famílias estão buscando informações, a polícia não está deixando o pessoal subir e circular direito pela comunidade, principalmente a gente que está aqui para ajudar", afirma Bruna Velloso. Além disso, os familiares apontam dificuldade no reconhecimento das vítimas porque parte delas foi baleada no rosto.

"Um ano depois da chacina do Jacarezinho, tudo isso está se repetindo e a pergunta que fica é: quantas vidas mais a gente vai ter que perder para que as pessoas entendam que a guerra não vai levar a gente a lugar nenhum?", completa Bruna.

Defensoria pede esclarecimentos

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) acompanha o caso e solicitou informações sobre a operação realizada na Vila Cruzeiro.

Em vídeo, o defensor André Castro, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, disse que DPRJ fez uma interlocução com os agentes policiais para um cessar fogo humanitário, porém, a operação prosseguiu mesmo assim.

O órgão também enviou um ofício ao COI (Centro de Operações e Inteligência) para compreender os motivos excepcionais para a realização da operação. Atualmente, uma decisão do Supremo Tribunal Federal proíbe operações policiais durante a pandemia, principalmente em regiões localizadas próximo a escolas, hospitais e creches.

Para o defensor André Castro, a operação é "uma das maiores cachinas ocorridas no estado". "Presenciamos um verdadeiro cenário de terror. Escolas fechadas, hospitais fechados, o comércio completamente fechado, uma situação de comoção com as famílias implorando para que pudessem resgatar parentes feridos e retirar corpos de parentes mortos", comenta o defensor.

Posicionamento

Em nota, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que, após receber pedido de apoio da PM do Rio de Janeiro, atuou em conjunto com os órgãos de segurança pública Estadual e Federal para o cumprimento de mandados de prisão e desarticulação de organizações criminosas na comunidade.

Disse também que o Comando Vermelho é responsável por cerca de 80% dos crimes cometidos no Rio de Janeiro, inclusive nas rodovias federais.

Além disso, a PRF informou que no dia da operação, lideranças do tráfico no Pará, em conjunto com outros criminosos, se preparavam para invadir uma outra comunidade.

A Alma Preta Jornalismo aguarda um posicionamento da Polícia Militar, que também atuou na operação.

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Alma Preta
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