Negritude: o que é o movimento
A negritude é um movimento que se iniciou em 1930. Conheça a origem e a luta pela valorização da cultura negra e o combate ao racismo.
A negritude é um movimento político e literário que busca reafirmar a identidade negra, resgatar histórias e culturas africanas e combater o racismo estrutural e eurocentrismo. No Brasil, onde a população preta e parda é maioria, o movimento tem especial relevância ao promover a valorização da herança africana e igualdade racial.
A busca por identidade e a afirmação de valores culturais são pilares fundamentais na trajetória de diversos grupos sociais. No contexto da diáspora africana e da luta contra o racismo, nasceu um movimento, político e literário, chamado negritude.
Esse movimento não surgiu do nada, ele é fruto de séculos de violência e apagamento impostos pela escravidão e pelo colonialismo, que tentaram desumanizar e desvalorizar as culturas africanas e seus descendentes.
No Brasil, que segundo dados do IBGE, pretos e pardos representam 56% da população brasileira, essa busca por identidade e afirmação ganha contornos ainda mais urgentes.
Há um passado escravocrata que deixou marcas profundas na estrutura social e nas relações raciais, sendo o último país a abolir a escravidão nas Américas.
Bem longe de ser só sobre uma maior incidência de melanina na pele, a negritude se configura como um movimento que busca resgatar a história, valorizar a estética e construir um futuro de igualdade para pessoas negras em todo o mundo.
A partir disso, muitos intelectuais negros, como Kabengele Munanga, passaram a produzir conhecimento a partir desse ótica, e reafirmar que “a identidade consiste em assumir plenamente, com orgulho, a condição do negro, em dizer com cabeça erguida: sou negro”.
Ao ressignificar a experiência negra e confrontar o racismo estrutural, o movimento impacta não somente como pessoas negras se veem, mas também como são vistas e como a sociedade deve ser antirracista em sua essência, não apenas quando convém.
O que é negritude?
A negritude pode ser definida, basicamente, como a consciência da condição de ser negro, assumida em sua totalidade: com suas histórias, culturas, experiências e potencialidades.
No contexto brasileiro, essa consciência implica em reconhecer a herança africana que moldou a cultura do país, desde a culinária e a música até a religiosidade e as formas de organização social.
Além disso, não deve ser vista exclusivamente como uma simples identificação racial. Pelo contrário, para além de ter a cor da pele preta ou parda, e ser “lido” como uma pessoa negra na sociedade, é preciso desenvolver um sentimento de pertencimento.
Esse sentimento, no entanto, não deve se basear unicamente na opressão e na violência da escravidão, mas sim na resistência e na celebração da rica herança cultural e intelectual.
Ou seja, assume um papel importante no processo de reafirmação da identidade frente a séculos de marginalização e apagamento histórico.
O que é o conceito de negritude?
O conceito de negritude ganhou força como um movimento intelectual e literário, principalmente entre as décadas de 1930 e 1950, reunindo intelectuais e artistas de diferentes partes do mundo, como Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor e Léon Damas.
Esses são os principais nomes do movimento, que floresceu em um período de intensa luta anticolonial e de questionamento das narrativas eurocêntricas dominantes.
Em um contexto de colonialismo e racismo científico, a negritude surgiu como uma resposta à tentativa de inferiorização do negro e de sua cultura. Por muito tempo, o conhecimento negro, oriundo do continente africano, foi visto como algo que não tinha valor no universo acadêmico e cultural ocidental.
Essa visão se refletiu na marginalização das manifestações culturais afro e na tentativa de apagamento da história e das contribuições da população negra.
A partir disso, o movimento passa a defender que era preciso romper com o eurocentrismo e com a necessidade de olhar para os povos africanos e afrodescendentes como subalternos e não donos das suas próprias intelectualidades.
O conceito busca resgatar a história africana pré-colonial, exaltar as tradições, a arte e a filosofia dos povos africanos, antes da chegada do colonizador e da tragédia da escravidão. Tudo isso para construir uma identidade negra orgulhosa.
O movimento da negritude se propunha a ser um instrumento de libertação intelectual e cultural, pavimentando o caminho para a luta política por igualdade racial ao redor do mundo.
Um dos responsáveis pelo movimento, Aimé Césaire, conceituou a negritude como:
“Uma forma de revolta, primeiro contra o sistema mundial da cultura tal qual se tem constituído durante os últimos séculos o, qual se caracteriza por um certo número de preconceitos, de pressupostos que levam a uma severa hierarquia. De qualquer maneira, a Negritude foi uma revolta contra o que chamarei de reducionismo europeu.”
Pode usar o termo negritude?
Sim, o termo negritude não só pode como deve ser usado. Ele é fundamental para nomear e dar visibilidade a esse movimento e a necessidade de valorizar as pessoas negras, em diáspora ou não.
No entanto, não pode ser utilizado “de qualquer jeito”. É preciso ter consciência, respeito e principalmente, compreender a importância de se construir uma sociedade antirracista, para assim, entender sua profundidade histórica e seus múltiplos significados.
É importante reconhecer que o termo pode gerar diferentes interpretações e debates, inclusive no próprio movimento negro. Algumas críticas apontam para o risco de essencialização da identidade negra, como se houvesse uma única forma de ser negro.
No entanto, a negritude, em sua essência, busca justamente a valorização da diversidade na experiência do que é ser uma pessoa negra, reconhecendo as particularidades de cada contexto cultural e histórico. Se está em diáspora ou não.
Qual a importância da negritude?
Mesmo que esse movimento tenha iniciado muito a partir de uma perspectiva intelectual e científica, a negritude desempenha um papel fundamental na luta contra o racismo e na promoção da igualdade racial.
Isso porque, ao incentivar que pessoas negras reconheçam suas histórias, é um passo a mais para garantir que essa narrativa eurocêntrica que coloca pessoas negras em lugares, majoritariamente, negativos, não siga sendo a responsável por construir a identidade negra.
Além disso, esse movimento ofereceu uma bagagem teórica e política que permite combater a discriminação e a opressão racial na sua raiz, sendo permitindo que as pessoas possam ter orgulho de ser quem são, indo contra a forma em que o racismo opera.
Ao promover o orgulho da identidade negra, a negritude contribui não só para o fortalecimento individual, mas também para o coletivo, para toda a população negra.
Impulsiona a criação de obras artísticas e intelectuais que expressam a visão de mundo, as experiências e as lutas da comunidade negra, além de conectar diferentes diásporas africanas, fortalecer a solidariedade e a luta por justiça em escala global.
Essa “revolta” intelectual e cultural foi fundamental para desconstruir as bases ideológicas do racismo.
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