Neidinha, Txai Suruí e outros indígenas sofrem emboscada em Rondônia
Cerca de 50 homens cercaram e intimidaram durante quatro horas o grupo que estava indo em direção ao posto da Funai
No último domingo, 14, a ativista e indigenista Neidinha Suruí, sua filha Txai Suruí, a indigenista Ivaneide Bandeira, o artista de rua Thiago Mundano e outros indígenas do povo Uru-Eu-Wau-Wau sofreram uma emboscada em uma estrada que dá acesso ao posto de vigilância da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Rondônia.
Neidinha revelou para o Portal Amazônia Real que cerca de 50 homens cercaram e intimidaram durante quatro horas o grupo que estava indo em direção ao posto da Funai, onde Mundano iria realizar um trabalho.
A estrada fica na região do Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) Burareiro e é reconhecida pela Funai como terra indígena do povo Uru-Eu-Wau-Wau. Os homens que abordaram a equipe de Neidinha alegaram que são assentados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e que não há indígenas naquela área.
Para o Portal Amazônia Real, Neidinha afirmou que registrou boletim de ocorrência na Polícia Federal na última segunda-feira, 15. “Não sei o que poderia acontecer conosco se não fosse a equipe de documentaristas que a gente estava acompanhando. Agora com a cabeça mais fresca, percebo que foi uma emboscada, eles sabiam quem a gente era. Eles estavam muito preparados e orientados. Atravessaram a estrada quando a gente passava.”
A mãe de Txai Suruí, que é fundadora da Associação Etnoambiental Kanindé, revelou ainda que o comportamento dos homens durante a abordagem foi hostil e que ela própria decidiu filmá-los como uma forma de autodefesa.
“A gente estava acompanhando o Mundano e uma equipe de um diretor estrangeiro. O Mundano iria fazer uma intervenção artística na região da barreira da Funai, a barreira 2, por conta da simbologia e da pressão da grilagem que tem na área. Passamos por aquela estrada, que é uma estrada de trânsito de todos nós. Quando estávamos no início ainda eles nos fecharam. Colocaram carro por todos os lados e não nos deixaram passar, nos cercaram”.
Neidinha ainda contou que os homens estavam a todo momento filmando o grupo. “Tinham uns que estavam calmos, mas outros bem agressivos. Mas quase todos com celular gravando na nossa cara, em cima da gente. Diziam que ali nunca tinham visto índio”.
Ainda segundo ela, a abordagem foi planejada, pois, além de cercarem e prenderem o grupo por tanto tempo, os homens queriam forçá-los a aguardar a chegada de um jornalista. “Eles queriam que a gente ficasse lá. Queriam filmar e nos expor. Eu fui perdendo a paciência e disse que o que eles estavam fazendo era cárcere privado e que íamos denunciar na Polícia Federal”.
Após um longo momento de conversa, Neidinha conseguiu se retirar, mas outras pessoas que estavam presentes, como a equipe de documentaristas e Mundano, continuaram sob o poder dos homens na estrada. “Eles tiveram que continuar lá até chegar o tal jornalista. Foram coagidos a falar e a dar entrevista”.
“O que aconteceu ontem foi totalmente surpresa. Nunca passou pela nossa cabeça que iríamos ser emboscados dessa forma pelos invasores do Burareiro”, disse a ativista.
Ainda para o Portal Amazônia Real, Neidinha revelou que aguarda pelo retorno de policiamento para a estrada e para o posto da Funai. “Isso é resultado de terem tirado a PM e a PF de lá. Por que o pessoal do Batalhão Ambiental saiu também? Ali ninguém está seguro. O que esses homens fizeram ontem foi muito grave”, concluiu.