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"Nossa presença incomoda", diz fundador do 1º time de basquete trans do Brasil

Equipe surgiu após Thiago Peniche, criador do Dourados, sentir que o esporte não era um lugar seguro para ele

13 nov 2024 - 05h00
(atualizado às 12h40)
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Resumo
Dourados é o primeiro time de basquete trans do Brasil, criado na comunidade do Dourado, no Rio de Janeiro, com o objetivo de criar um espaço de inclusão e acolhimento para pessoas trans e travestis.
Dourados, primeiro time de basquete trans do Brasil, nasceu em 2022
Dourados, primeiro time de basquete trans do Brasil, nasceu em 2022
Foto: Reprodução: Instagram/douradosbasquete

O esporte, presente na vida de muitas pessoas, pode ser um refúgio ou um lugar de exclusão. Para Thiago Peniche, 27 anos, essa realidade sempre foi muito presente. Criador de conteúdo e professor de inglês, Thiago, que é uma pessoa trans não-binária e utiliza pronomes masculinos, teve dificuldades em se sentir confortável em quadras de rua, chegando ainda a sofrer agressões físicas e verbais quando jogava futebol.

Em muitos desses espaços, que ele classifica como predominantemente cisgênero, a presença de pessoas trans ainda causa estranhamento ou até hostilidade. "Cheguei a pensar que o esporte não era um lugar seguro para mim", conta em entrevista ao Terra NÓS.

Com o desejo de mudança, Thiago publicou um convite nas redes sociais chamando outras pessoas trans para jogarem basquete na comunidade do Dourado, na zona norte do Rio de Janeiro. A resposta foi rápida: no primeiro encontro, três pessoas transmasculinas apareceram.

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"Eles elogiaram a ideia e cada um contou como também se sentia da mesma forma que eu. Conforme mais encontros aconteciam, mais pessoas se abriam comigo sobre a importância daquele espaço, onde todos podiam jogar basquete sem medo de preconceito", disse.

Assim nasceu o Dourados, o primeiro time de basquete trans do Brasil, em 2022. "A experiência de treinar e competir em um ambiente esportivo inclusivo é incrível. Mais que um 'time', a palavra que define a gente é 'coletivo', porque estamos construindo uma verdadeira irmandade", explica ele, destacando que o Dourados tem como foco acolher e apoiar pessoas trans e travestis.

Esse ambiente acolhedor, no entanto, não elimina os desafios. Mesmo dentro de um time que promove apoio mútuo, Thiago e seus colegas ainda enfrentam julgamentos e comentários transfóbicos ao tentar jogar em outros bairros.

"Já aconteceu de as pessoas não respeitarem nossos pronomes ou de se reunirem para nos observar como se fôssemos uma atração exótica. Sabemos que, em uma sociedade transfóbica, a nossa presença incomoda", relata Thiago.

O Dourados tem como foco acolher e apoiar pessoas trans e travestis
O Dourados tem como foco acolher e apoiar pessoas trans e travestis
Foto: Reprodução: Instagram/douradosbasquete

Entre os integrantes do Dourados, cada um tem uma história marcada pela busca de um espaço de pertencimento. Segundo Sayonan Souza Fernandes, 33 anos, um homem trans negro, o time é, acima de tudo, uma família. "Me entendi como trans aos 25 anos, mas só comecei a terapia hormonal por volta dos 29. Eu estava me sentindo sozinho, sem ter outras pessoas trans ao meu redor", compartilha. 

No Dourados, Sayonan encontrou uma comunidade onde pode ser ele mesmo. “Nossos corpos já são resistência e ativismo. Muita gente não quer a nossa existência, imagina um time.”

Thaian Paixão, 29 anos, também encontrou no Dourados uma conexão profunda. Desde a adolescência, já percebia que sua identidade de gênero não correspondia às expectativas sociais. Aos 25 anos, iniciou a transição de gênero. 

"Cada passo nesse caminho tem sido uma afirmação da pessoa que eu sempre soube que era", disse ao Terra NÓS. Para ele e muitos outros integrantes, o Dourados representa mais do que apenas um grupo de jogadores, sendo um espaço de resistência em um esporte historicamente binário e excludente.

"Nós estamos em constante luta por espaço e respeito, provando que corpos como os nossos têm tanto direito de ocupar as quadras quanto qualquer outro. Nossos corpos são políticos e ativistas, e estar nesse time é uma forma de resistência contra uma sociedade que, muitas vezes, é transfóbica", afirmou Thaian.

O apoio da comunidade trans e de movimentos sociais tem sido uma fonte de força para o Dourados. “Recentemente, recebemos uma moção honrosa na Câmara Municipal da vereadora Monica Benicio, no prêmio ‘De Cria pra Cria’, que reconhece coletivos de favelas do Rio de Janeiro”, celebra Thiago.

Segundo o criador do time, o Dourados é um ponto de partida para uma mudança maior. "O nosso maior legado será poder abrir portas e construir um caminho para que as futuras gerações de atletas trans não tenham que enfrentar as mesmas dificuldades que nós enfrentamos. Queremos deixar claro que, em todos os espaços, a diversidade deve ser celebrada, e que a luta pela inclusão e pelo respeito não é só nossa, mas de toda a sociedade", afirma o criador do time.

Fonte: Redação Nós
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