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O que é linguagem neutra? Entenda o que é o termo usado no Hino Nacional em comício de Boulos

Comício de Guilherme Boulos no sábado, 24, teve trechos do Hino Nacional cantados para abranger pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino; entenda

28 ago 2024 - 20h05
(atualizado em 29/8/2024 às 12h49)
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BRASÍLIA - Um vídeo do Hino Nacional sendo performado com o uso da linguagem neutra durante um comício do candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, repercutiu negativamente e virou a principal notícia da política paulistana na terça-feira, 27. O verso "dos filhos deste solo, és mãe gentil" se tornou "des filhes deste solo, és mãe gentil" na versão cantada no evento, que ocorreu no sábado, 24, e contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As alterações buscaram incluir pessoas que não se sentem incluídos nos gêneros masculino e feminino.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava em comício de Boulos onde o Hino Nacional foi cantado com o uso da 'linguagem neutra'
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava em comício de Boulos onde o Hino Nacional foi cantado com o uso da 'linguagem neutra'
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

A linguagem neutra foi criada para incluir pessoas não-binárias (que não se identificam como homem ou mulher) em diálogos. Os defensores do termo acreditam que a mudança na língua portuguesa abraça ainda pessoas com mais de um gênero e é uma alternativa para quando não se sabe qual pronome deve ser utilizado para se dialogar com determinado indivíduo.

A linguagem neutra também busca retirar predominância do gênero masculino da língua portuguesa. Quem a utiliza argumenta que os dois pronomes definidos de gênero presentes na língua portuguesa - "o" e "a", para homens e mulheres, respectivamente -, não atendem a todas as pessoas falantes do idioma. Por isso, propõe a utilização da terminação "e" para palavras ambivalentes ou sem gênero intrínseco, além da inclusão da vogal como pronome definido de gênero neutro.

Um exemplo comumente usado é como se referir a um ambiente composto por nove mulheres e um homem: usa-se "todos" e não "todas". O uso do termo "todes" busca aglomerar todos os gêneros, de forma neutra.

Na linguagem neutra falada, como foi empregado no comício eleitoral de Boulos, "dos" e das" se tornam "des", "filhos" e "filhas" se tornam "filhes". Há outros exemplos: "ele" ou "ela" viram "elu" e "amigo" ou "amiga" viram "amigue".

Não há uma definição universal da forma de se utilizar a linguagem neutra em textos. Alguns utilizam a letra "X" símbolos para substituir pronomes em textos. Desta forma, "ele" e "ela" se tornam "elx" ou "el@" e "todos" e "todas" podem virar "todxs" ou "tod@s".

Linguagem neutra não está prevista na norma padrão da língua portuguesa

Este tipo de linguagem não está previsto na norma padrão da língua portuguesa, que estabelece que o papel do pronome neutro é exercido pelo artigo masculino. Por isso, o uso em vestibulares e concursos públicos pode acarretar penalizações por desvios da utilização da grafia formal.

Porém, apesar de não estar na norma padrão, o uso da linguagem neutra não é proibido. Em fevereiro do ano passado, o STF derrubou uma lei que proibiu a utilização no Estado de Rondônia em livros didáticos. Os magistrados entenderam que as legislações interferem em diretrizes e bases da educação, que é de competência da União.

Em maio deste ano, o ministro Flávio Dino suspendeu uma lei do Amazonas semelhante a que vigorou em Rondônia. Na ocasião, Dino afirmou que a língua portuguesa é viva e "está sempre aberta a novas possibilidades". "A gestão democrática da educação nacional exige, inclusive para adoção ou não da linguagem neutra, o amplo debate do tema entre a sociedade civil e órgãos estatais, sobretudo se envolver mudanças em normas vigentes", afirmou.

Boulos apagou vídeo do comício e opositores criticaram uso da linguagem neutra

Horas depois da repercussão do Hino Nacional cantado com "des filhes deste solo, és mãe gentil" no comício de Boulos, o candidato do PSOL à Prefeitura apagou o vídeo do comício das redes sociais dele.

Para a Coluna do Estadão, a assessoria de imprensa do candidato afirmou que a campanha nunca solicitou ou autorizou a alteração na letra do Hino Nacional. A equipe de Boulos alegou que a "produtora, organizadora do evento, foi responsável pela contratação de todos os profissionais que trabalharam para a realização da atividade, incluindo a seleção e o convite à intérprete" responsável pela performance.

Políticos contrários à linguagem neutra utilizaram as redes sociais para criticar Boulos. Uma delas foi a economista Marina Helena (Novo), também candidata à Prefeitura de São Paulo, que repostou o trecho do Hino. "Essa é a extrema-esquerda lulista que quer assumir a Prefeitura de São Paulo: lacração, desrespeito e destruição de nossos símbolos nacionais mais sagrados", afirmou a candidata no X (antigo Twitter).

Segundo a Lei nº 5.700 de 1971, "em qualquer hipótese, o Hino Nacional deverá ser executado integralmente e todos os presentes devem tomar atitude de respeito". A norma determina que não haja alterações na letra ou na melodia do hino nem a "execução de quaisquer arranjos vocais do Hino Nacional", sob pena de multa.

Também pelo X, o ex-ministro da Cultura e deputado federal Mário Frias (PL-SP) disse a modificação "não é apenas uma mudança de palavras — trata-se de um desrespeito aos símbolos nacionais, à nossa cultura e à nossa língua".

"Nas imagens, Lula aparece ao lado do psolista quando a canção é distorcida, e o trecho 'dos filhos deste solo' é alterado para 'des filhes deste solo'", declarou a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

"Em um só movimento a dupla Lula/Boulos conseguiu agredir o Hino Nacional, a língua portuguesa e o aparelho auditivo de quem foi submetido à 'apresentação'. É de onde menos se espera que não vem nada mesmo...", escreveu o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro e presidente do Progressistas.

Estadão
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