"O racismo estrutural não mata só os filhos, ele mata as mães também"
Débora Maria da Silva, líder do movimento Mães de Maio, participou da Virada ODS 2023 para discutir racismo e xenofobia
Débora Maria da Silva, ativista de direitos humanos e principal líder do movimento Mães de Maio, não mediu palavras para começar seu poderoso discurso: "Se o Brasil fosse acolhedor, eu não estaria aqui. O Brasil precisa lapidar a democracia para ela ser de raça, de classe e de gênero. Essa democracia preta é a que nós precisamos para acabar com o racismo no nosso país", disse.
A ativista participou de uma das palestras da Virada ODS 2023, evento que aconteceu no último domingo, 18, com o objetivo de conscientizar a população sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A morte e a cor da pele
Com uma democracia "branca de asfalto", nas palavras de Débora, é preciso continuar trabalhando no significado de um Estado Democrático de Direito. "Se nós temos um Estado Democrático de Direito, por que a política do genocídio é vigente?", indagou.
Débora também abordou o descaso da sociedade sobre a morte violenta da população negra. Para ela, barrar essa "política de morte" é uma prioridade. "É uma política da morte perversa que quando a gente vê não é só brasileiros que morrem pela cor da pele e pela sua classe. Estamos falando também dos imigrantes, que vêm do Haiti e do Congo", disse a líder do movimento Mães de Maio.
Desobedecer a hierarquia de uma instituição é crime, mas matar jovens negros aparentemente não é, de acordo com Débora. "Matar os meninos não é crime e não podemos aceitar isso. O racismo estrutural não mata só nossos filhos, ele mata as mães também", ressaltou.
"Nós estamos falando de mães que perdem os filhos e elas perdem a vida", disse Débora. "Então é violência de gênero, sim, porque quem vai à luta geralmente são as mulheres, mães, e nós não podemos aceitar essa situação."
Perseguidos
Débora ainda explicou que o racismo, até hoje, mata pessoas negras e, por isso, não é possível dizer que a abolição da escravatura foi "perfeita". "Nós, negros, somos perseguidos o tempo todo como negros fujões", afirmou Débora, que ainda destacou que as instituições precisam ouvir as mães para acabar com o racismo estrutural.
"Falar em segurança pública é pedir a abolição dessa polícia que mata. Falar em segurança pública é abolir o sistema prisional. Falar em segurança pública é investir na educação, que é a arma melhor contra esse sistema fascista e racista do nosso país", disse Débora Maria.
A palestra “Combate ao racismo e à xenofobia” foi mediada por Elisa Lucas, secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania, e contou ainda com a presença de Hortense Mbuyi, membro titular no Conselho Municipal de Imigrantes da cidade de São Paulo, Liliana Jubilut, doutora e mestre em Direito Internacional, Ismália Afonso da Silva, analista de programa de Gênero e Raça do PNUD Brasil, e Marcelo Haydu, co-fundador do Instituto Adus.