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Opinião: Não é só por uma braçadeira

De que valem as campanhas realizadas pacificamente em países democráticos − ou seja, na zona de conforto − mas não onde realmente importam?

22 nov 2022 - 10h58
(atualizado em 23/11/2022 às 18h57)
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Sete seleções de futebol queriam dar o exemplo, representando os valores "ocidentais" no Mundial do Catar.
Sete seleções de futebol queriam dar o exemplo, representando os valores "ocidentais" no Mundial do Catar.
Foto: Reuters

Controvérsia sobre braçadeira colorida "One Love" chama atenção para tudo o que a Copa do Catar não representa: diversidade, tolerância e liberdade de opinião.De que vale uma campanha se for cancelada sob ameaça de sanções? De que valem as campanhas realizadas de forma pacífica e unânime em países democráticos − ou seja, na zona de conforto − mas não onde realmente importam?

Sete seleções de futebol queriam dar o exemplo, representando os valores "ocidentais" no Mundial do Catar: a seleção da Holanda, onde a campanha começou, assim como Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Suíça, Dinamarca e Alemanha.

A braçadeira de capitão "One Love" seria uma importante contribuição para essa mensagem, afirmou o capitão da Alemanha, Manuel Neuer. Uma braçadeira com um coração com listras coloridas e a inscrição "One Love" (um amor) − um gesto contra homofobia, antissemitismo e racismo e pelos direitos humanos.

A braçadeira de capitão "One Love", um incômodo para a Fifa
A braçadeira de capitão "One Love", um incômodo para a Fifa
Foto: DW / Deutsche Welle

Agora, as sete federações nacionais de futebol desistiram da iniciativa. Por quê? Porque temem consequências esportivas.

Sanções esportivas, como um cartão amarelo, por uma peça de roupa? Ou até mesmo a exclusão do torneio? É loucura, mas é possível, porque a braçadeira da Fifa com mensagens próprias é uma peça oficial do uniforme segundo a regras da Copa do Mundo. O uso de roupas "incorretas" pode ser punido pelo árbitro.

A Fifa deixou claro que os capitães poderiam até ser forçados a deixar o campo, diz um comunicado conjunto das sete federações. Como resultado, elas recomendam a seus capitães não usar a braçadeira para evitar colocar os jogadores em tal situação, mas disseram estar está frustradas com a decisão sem precedentes.

Medo de braçadeira com coração

Sem precedentes? Certamente! E é preciso deixar claro aqui mais uma vez: não se trata de uma braçadeira do arco-íris. O arco-íris como símbolo do movimento LGBTQ nem aparece nela. Trata-se de uma braçadeira de coração, bastante discreta, com um simbolismo significativamente reduzido.

E, no entanto, essa peça causou tanto furor na Fifa que ela reagiu com sua própria campanha "Sem discriminação": declarações de "Proteja as crianças" a "Salve o planeta" agora estão nas braçadeiras oficiais da Fifa para os 32 capitães de equipe − "One Love" não aparece, claro. Uma jogada inteligente da Fifa, que agora parece ter se imposto com todas as suas forças.

Esporte e política não podem ser separados

Mas o que esse recuo diz sobre as sete federações de futebol? "Elas só querem jogar futebol" não pode mais ser um argumento. Esporte e política não podem ser separados, mesmo que Fifa, COI e companhia assim o desejem.

As sete seleções tomaram uma decisão muito clara a favor desta campanha antes do início da Copa do Mundo. Todo manifestante toma sua decisão com antecedência e sabe das possíveis consequências − seja na Alemanha, no Irã ou no Catar. Mas tal decisão também requer coragem e vontade absoluta de realmente querer fazer a diferença − aconteça o que acontecer.

As sete federações europeias de futebol tiveram oportunidade para isso. Elas poderiam ter ficado unidas, mostrando coragem e uma postura comum. Tudo o que resta são promessas vazias e mais um enorme dano à imagem da Copa do Mundo.

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Olivia Gerstenberger é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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