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Por uma santa intervenção sem inquisição: do orgulho ao barulho!

No Mês da Visibilidade Lésbica explico meu afeto a cada lésbica cis ou trans que ousa encarar um mundo tão conservador

22 ago 2023 - 17h08
(atualizado em 26/10/2023 às 09h25)
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Papa Francisco afirma que mulheres trans "são filhas de Deus" e que  "Jesus ensina a não colocar limites"
Papa Francisco afirma que mulheres trans "são filhas de Deus" e que "Jesus ensina a não colocar limites"
Foto: Reuters / Reuters

Devo, antes de tudo, salientar que estamos no Mês da Visibilidade Lésbica. Explico aqui o meu afeto e carinho a cada lésbica cis ou trans que ousa a "re'existir" diante de um mundo tão conservador. Um salve para todas sem perder de vista as suas pluralidades infinitas, afinal de contas 'lesbianizar' é vital, necessário e preciso. Nessa perspectiva, a pesquisadora Zuleide Paiva afirma que "lesbianizar é visibilizar o amor vivido e celebrado pelas lésbicas. Mais que celebrar o amor entre as lésbicas, lesbianizar é se organizar em defesa desse amor".

Portanto, não poderia começar essa prosa sem o afeto político-social lésbico até mesmo porque a lesbianidade me traz aqui como uma ação política e revolucionária que me sustenta e me leva a tecer essa escrita. Embora o caso do menino Gabriel, de apenas 10 anos, que morreu na porta de casa em uma ação da polícia militar na Bahia, na cidade de Lauro de Freitas, tenha me abatido violentamente esses dias, sigo no refúgio do afeto lésbico como fonte de vida e esperança. E o que para alguns pode até soar como contraditório, aqui é bálsamo de cura e fortaleza. Assim caminho na insurgência e desobediência lésbica para dar início a essa escrevedura. 

É nessa linha de afeto político que faço desse copilado de palavras um instrumento de desabafo. Oras! O tom debochado se deságuas nas lágrimas que tive que me ancorar nos últimos dias, mesmo sabendo que devo seguir por caminhos ardilosos. É inacreditável saber/ver que a transfobia bem como o racismo não nos dão paz! Infelizmente, nesses últimos acontecimentos muitas lágrimas se encontraram com sangue no chão derramado, o que faz dessa escrita uma decodificação de feridas e dores.    

10 lésbicas que dão muito orgulho ao Brasil 10 lésbicas que dão muito orgulho ao Brasil

Agraciadas/os/es pela benção e gesto nobre do reverendo, uma atitude bastante relevante diante do caos imposto. O pontífice é bastante contundente ao ratificar que "Jesus ensina a não colocar limites", mas os grilhões da colonização racista cisheterosexista entoa nas estruturas sociais, amordaçando os nossos direitos e legitimando diversas barbáries, dentre elas o racismo e a transfobia. 

O medo  nos assombra diariamente!

Nessa não leveza que vivenciamos cotidianamente, o horror das inúmeras violações de direitos e de mortes desenfreadas, para além da benção e das palavras do pontífice, seja necessária uma intervenção mais audaciosa dele, até mesmo porque em suas santas palavras não há crime onde o delito não existe. Pasmem: eu não sou criminosa. Ou seja, porque tantas ações condenatórias para corpos e corpas que borram, rompem com a cisgeneridade e heterossexualidade compulsórias?

É incalculável a dimensão real da obstrução de corpos e corpas nesse curso de vidas que deveriam importar. A carnificina é a prole mantenedora desse "cis'tema". Não obstante, presenciamos a olho nu a execução de uma Ialorixá cujo papel central era findado na garantia de direitos de uma população historicamente marginalizada. Bernardete Pacífico era uma liderança não só religiosa, mas comunitária quilombola. A dor se faz nesse pacto colonial que de maneira explícita e por diversas formas nos diz que devemos nos silenciar.

As trincheiras de luta seguem como túmulos, pois se normalizou fazer do luto à luta uma dialética que fere as existências diante de um cárcere colonial que ainda vivenciamos corriqueiramente. Será que precisaremos reivindicar, para além da benção do papa Francisco, uma santa intervenção? Para acabar com essa inquisição? 

E quais pactos precisam serem feitos para assegurar o direito à vida? Quais caminhos são cruciais para efetivação das políticas públicas que lidem literalmente com a diversidade humana e garanta pleno gozo da sua cidadania? Indagações que precisam ser feitas diariamente para que não nos percam de vista, pois se a truculência estrutural cotidiana não é capaz de fazê-lo, enxergar a forma desumana arrogante que racismo, machismo, patriarcado, transfobia, dentre outras que, nos matam, o barulho se estronda em meio ao silêncio, pois se esse já não nos favorecem sigo nessa frase dentro do pensamento lésbico de Audre Lorde quando a mesma ratifica que "o silêncio não nos protege". Convoco o pensamento de Dilma Rousseff que diz que "é mais válido viver no barulho da democracia do que no silêncio da ditadura". Mas será que estamos vivenciando a  democracia ou estamos em um estágio de conquista dessa tal democracia? Me sinto amordaçada pela santa inquisição.  

Não se enganem! Vivemos em estado de tensão, na província não republicana quem dera que fosse democrática. Aproveito o momento de descontentamento e solicito ao STF para "liberar meu xixi". E para não perder o tom da prerrogativa em questão, trago a letra da música "Coragem" da saudosa e bem lembrada Elza Soares: "Entre eles e nós, a lei protege quem? E assim cantarolamos, coragem meu bem porque o medo da morte leva a vida também"...continuaremos em um próximo texto.

Dia Nacional da Visibilidade Lésbica: "Eu existo, resisto. Vocês queiram ou não":
Fonte: Redação Nós
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