Léo, Fontenelle, Baldi: quanto vale a vida de alguém?
"Os três são tão criminosos quanto o estuprador que, a propósito está ileso e solto por aí para praticar mais atrocidades contra mulheres"
A dinâmica de trocas nas redes sociais desde 2018, ano do aprofundamento das milícias digitais e da proliferação venenosa das fake news, deveria ser alvo de maior atenção do nosso senso crítico. Aliada às práticas condenáveis de um pseudo-jornalismo totalmente comprometido com as fofocas e a desinformação tendenciosa, transforma a opinião pública em um boomerangue perigoso que se volta contra ela mesma, haja vista os ecos dos resultados das próprias eleições de 2018.
A grande moeda das redes, os likes e compartilhamentos, despertaram o viés narcisista da sociedade e vem dando dia após dia sinais de que em um futuro não tão distante, uma catarse social vai se concretizar. As pessoas fazem tudo pelo engajamento, uma vez que estão entorpecidas pelo culto a vida fictícia e as futilidades como válvula de escape que as redes, atualmente, oferecem. De um importante aparelho de mobilização e conscientização, a internet caminha a passos largos para um lodo social onde as vaidades são despejadas e vida real condenada a uma ‘criminalização’ da normalidade cotidiana.
Alguns acontecimentos são pedagógicos para nos despertar do ‘som da flauta’ de pessoas que hipnotizam, seduzem com suas vidas perfeitas, seus clichês de convivência social e suas pirotecnias que escondem com eficiência midiática irretocável, o poço de frustração e o vazio que suas vidas são na realidade. Isso é fácil de comprovar. Léo Dias é um importunador profissional que usa o jornalismo para fazer fofocas em uma sociedade que naturaliza esse mau hábito institucionalizado de querer saber e falar compulsivamente da vida alheia, desrespeitando a privacidade e os todos os limites do bom senso.
Certa vez me deparei com uma entrevista onde ele tentava constranger uma cantora a quem ele chamava de amiga, mas, que era possível sentir a distância o desrespeito com que ele a tratava. Essa sua “amiga” viria a ser alvo de suas maldades verbalizadas algum tempo depois. Sim, estamos falando do embate entre ele e Anitta, onde esta última levou a melhor. Mas desde então ele já deveria ter caído na descredibilidade pública e perdido espaço. Só que não. Já ostenta milhões de pessoas que obviamente perderam o amor pela própria saúde mental seguindo, engajando e engordando a conta bancária desse jornalista que nada informa, uma vez que informação é sempre útil a sociedade e o que ele “noticia” só alimenta outras almas abduzidas pela sua apelação.
Antonia Fontenelle e Mateus Baldi, embora de nichos ligeiramente diferenciados, são da mesma linhagem: sedutores de pessoas que se perderam de si mesmas e são prezas fáceis do produto que essas pessoas vendem: futilidades para entorpecer o vazio de uma vida sem propósito. Mas a tal Lady Fontenelle apresenta um risco duplo, pois alça voos na política institucional. Na atual conjuntura ela não apenas tem futuro como tem perfil no circo de horrores que o governo atual instaurou e infelizmente parece longe de acabar. Mas o que esses três tem em comum? Bem, parecem inofensivos mas são destruidores de vidas, seja pela sedução que exercem que lhes permite manipular pessoas enfraquecidas e vitimadas pelo nosso sofrível sistema de ensino que não estimula o senso crítico, seja pelas vias midiáticas que lhes permite despejar suas frustrações e vazios em alvos aleatórios, como é o caso da vítima de estupro, Klara Castanho.
As tramoias já conhecidas desses três ultrapassaram todos os limites da desumanidade ao criarem um imbrólio tão grande de especulações, insinuações, meias-verdades e fofocas pesadas sobre uma moça de apenas 21, obrigando essa a tornar público um trauma do qual ela lutava para se curar.
Cabe lembrar aqui que, embora naturalizado em nossa sociedade, a ponto de termos programas de televisão e páginas em grandes veículos de comunicação de massa destinados a essa prática antiética de especular e expor de maneira covarde a vida alheia, mais conhecida como fofoca, jamais é inocente ou corriqueira. É sim uma manifestação de perversão com altas doses de projeção dos desequilíbrios comportamentais do fofoqueiro no alvo da fofoca e muitas vezes, delineada pela inveja ou cobiça mantida em segredo pelos algozes, seja pela vítima ou pelo que ela representa.
A ação desses três somada a falta de ética dos profissionais envolvidos aprofundou as dores de um ser humano violentado que teve sua intimidade invadida e sua paz, mais uma vez roubadas. São tão criminosos quanto o estuprador que, a propósito está ileso e solto por aí para praticar mais atrocidades contra outras mulheres, do mesmo modo que os fofoqueiros que mimetizam jornalismo também continuarão recebendo likes, mimos, compartilhamentos e afins, até aparecer a próxima vítima com a vida e a saúde mental destruída graças às suas perversões extravasadas da maneira mais covarde. E aos que continuarão os apoiando, rezem para que não sejam vocês ou alguém que fazem parte do seu círculo de afetividade.
Todo amor e carinho a Klara Castanho e a todas as vítimas da maldade e perversidade que circulam em nossos meios.