O cinema brasileiro já está pronto para o protagonismo indígena?
No Brasil temos diretores indígenas, roteiristas, câmeras, atores e, por que não temos uma grande obra originária nos grandes veículos?
Todas as séries que assisto que tem um grande protagonismo indígena são séries criadas por indígenas da América do Norte. E observando a indústria do áudio visual deles, percebo o quanto as produções feitas por indígenas estão cada vez maiores.
No Brasil, os filmes com enredo indígena ou que abordam sagrados da cultura de um povo originário são sempre produzidos por brancos. Vamos dar uma voltinha ali no passado não muito distante para refrescar como grandes diretores e autores erraram feio.
Alma Gêmea (2006) - novela de Walcyr Carrasco e direção de Jorge Fernando
A protagonista da novela era Serena, uma mulher indígena, filha de uma mulher indígena com um garimpeiro. Serena foi interpretado por uma mulher branca, Priscila Fantin foi a escolhida para o papel. A novela reforçou muitos estereótipos sobre nós indígenas. Foi um verdadeiro desserviço, mas ainda tem quem diga que na época os diretores não tinham conhecimento da causa indígena. Acredito que a novela foi escrita por brancos e se tivessem vários indígenas ajudando na criação os personagens não teriam ficado tão estereotipados, mas o que eles realmente queriam é vender a imagem da índia selvagem.
Eu poderia citar inúmeras obras que foram feitas por brancos e que tiveram o nome de obras feitas por indígenas, mas não quero dar mais palco para o desserviço, então vou fomentar aqui uma das lindas produções que assisti e adorei.
Reservation Dog é uma série de comédia e drama adolescente que gira em torno de uma narrativa indígena. A série foi escrita por indígenas, dirigida por indígenas, produzida por indígenas e contou com um elenco de 98% indígena.
A série foi toda filmada em Oklahoma. Para quem não sabe, Oklahomna é o terceiro estado com o maior número de povos indígenas, perdendo apenas para o Alaska e a Califórnia.
A produção estreou no dia 9 de agosto de 2021, isso mesmo, no Dia Internacional dos Povos Indígenas. Eitaaaa, que flechada boa!
A série já tem a primeira temporada legendada para português e a segunda já está liberada em outros países.
No Brasil temos diretores indígenas, roteiristas, câmeras, stylist, atores e, por que ainda não temos uma grande obra originária nos grandes meios de comunicação? Nas principais plataformas? Qual a diferença entre as organizações artísticas dos indígenas do Norte e das nossas? Às vezes parece que o homem não branco não quer perder nenhum protagonismo e ele fará de tudo para impedir isso.