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Ataques racistas marcam o final da Copa do Mundo

Jogadores negros são alvo de ambas as torcidas após a derrota da França

19 dez 2022 - 15h47
(atualizado às 17h34)
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Nos pênaltis, dois jogadores negros perderam suas cobranças para o time da França, o que gerou ataques racistas da própria torcida francesa
Nos pênaltis, dois jogadores negros perderam suas cobranças para o time da França, o que gerou ataques racistas da própria torcida francesa
Foto: Reuters

Ontem (18), aconteceu a final da Copa do Mundo. França e Argentina fizeram uma partida icônica, sem dúvida nenhuma a melhor final de copa que muitos já viram. Para a maioria, ficará marcada como a final do hat-trick do Mbappé ou a final do Messi. Para uma minoria, sobretudo negra, ficará marcada como o final dos ataques racistas.

Fazendo uma explicação rápida para quem não acompanha futebol ou não assistiu a partida. A Argentina fez dois a zero na França, Mbappé, que é negro e tem sua descendência camaronesa, fez os dois gols e possibilitou que a França fosse para prorrogação. Já na prorrogação a Argentina fez três a dois e, novamente, Mbappé em empatou a partida, levando o jogo para as penalidades máximas. Nos pênaltis, dois jogadores negros perderam suas cobranças para o time da França, Kingsley Coman e Aurielien Tchouaméni, e isso gerou ataques racistas da própria torcida francesa. Vale lembrar que TODOS os cobradores da seleção francesa eram negros.

Dentro dos ataques racistas o mais utilizado era o emoji do macaco. Foi tanto absurdo que os jogadores tiveram que privar suas contas nas redes sociais. Não por coincidência algo similar aconteceu com a seleção inglesa. Após a derrota para Itália nos pênaltis, na final da Eurocopa, jogadores negros perderam as cobranças e o mesmo tipo de ataque foi feito. Não podemos esquecer que Mbappé, aquele que fez três gols na final de ontem e o mesmo que fez dois gols, com apenas 19 anos, na final da Copa do Mundo passada que a França venceu, já falou que pensou em deixar de jogar pela seleção francesa por causa de racismo.

Jogadores de ascendência africana que jogam por clubes europeus relatam, constantemente, que são alvos de xenofobia e racismo quando não atendem às expectativas dos torcedores. Relatam também como isso, por vezes, afeta a saúde mental e seu senso de identidade. Como relatou Romelu Lukaku “quando as coisas vão bem eu sou o atacante da Bélgica, quando não, eu sou o jogador descendente de congoleses.”

Como se já não bastasse o racismo e xenofobia dos seus “irmãos de pátria", os jogadores franceses tiveram que lidar também com o racismo, já conhecido, de parte da torcida da Argentina. Nesse caso o alvo principal foi, ao meu ver, o melhor jogador em campo, Kylian Mbappé. Dentre todos os absurdos como pode ser vista na imagem abaixo, o que mais me incomodou foram as mensagens de pessoas tentando invalidar sua identidade francesa, o que, infelizmente, já é comum para todos os jogadores negros que jogam pela França. "Você é africano, não francês, meu amigo. Saia do time!" foi apenas uma das mensagens dirigidas para os jogadores.

Jogadores franceses tiveram que lidar também com o racismo de parte da torcida da Argentina
Jogadores franceses tiveram que lidar também com o racismo de parte da torcida da Argentina
Foto: Reprodução/Twitter

A torcida Argentina já tinha uma música específica para os jogadores franceses, já que, em 2018, já tinham sido eliminados pela França com dois gols do mesmo Mbappé. "Eles jogam na França mas são todos de Angola. Que lindo vão correr, comem travestis como o p*** do Mbappé. Sua velha é nigeriana, seu velho é camaronês, mas no documento é naturalizado francês" diz trecho do ataque em forma de cântico. A parte transfóbica da música faz referência ao suposto namoro do atacante com a modelo trans Ines Rau.

Confesso que eu já esperava por coisas como essa. Afinal, como dito acima, já temos um histórico de coisas similares. Pessoas negras, principalmente em diáspora, sempre serão vítimas de racismo e isso tem muito a ver com toda a colonização feita por países como a França. E o racismo é algo tão intrínseco na sociedade atual que até mesmo países colonizados, que tiveram sua origem com sangue indígena e suor negro, herdaram dos colonizadores o racismo e fazem questão de perpetuar isso em todas as esferas sociais. O que fica de lição dessa copa é que pessoas negras jamais estarão a salvo de ataques racistas no mundo particular do futebol. Se vão bem são vítimas da torcida adversária, se vão mal são vítimas da própria torcida.

Fonte: Redação Nós
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