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Até quando o racismo será visto como mal menor?

Se ser expulsa de um voo é microagressão, só a morte de corpos negros gerará punições adequadas

2 mai 2023 - 15h09
(atualizado em 26/10/2023 às 17h32)
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Samantha foi obrigada a se retirar de um avião da Gol
Samantha foi obrigada a se retirar de um avião da Gol
Foto: Reprodução/Twitter/@ManoelSoares_ / Estadão

Na última semana, vimos o caso da Samantha Vitena, uma professora e pesquisadora negra que foi expulsa de um voo da Gol. O motivo? Não achou um funcionário para ajudá-la a despachar a mala de mão. O mais interessante é que, segundo uma testemunha, uma outra mulher branca tinha acabado de ser ajudada a guardar três malas de mão no bagageiro da aeronave. É sabido que depois que as empresas começaram a cobrar para as malas serem despachadas, ou seja, irem no “porta-mala” do avião, muitas companhias aéreas têm dificultado esse trâmite de levar a mala de mão, contudo ninguém despacha um notebook, já que, por vezes, as malas não são tratadas com muito esmero, esse foi o caso da Samantha.

Fato é que o assunto ganhou mídia, porém, infelizmente, ganhar mídia tem seu lado bom, mas também tem um lado ruim. Muitas pessoas tentaram mitigar a violência sofrida pela professora, ou tentando colocar a culpa na sua postura ou no tamanho da sua mala e até mesmo colocando o interesse coletivo como algo determinante para situações como essa. Pessoas que nitidamente faziam malabarismo para fazer da situação qualquer coisa, menos mais um caso de racismo. Nem mesmo a Gol, que até o momento que esse texto está sendo escrito, não se pronunciou sobre o caso.

Outro elemento visto na repercussão foram pessoas tratando essa situação como um mal menor. Para isso traziam notícias que também precisam ser repercutidas, como a mulher que acusa policiais militares de a terem algemado, xingado e estuprado, talvez em uma tentativa de hierarquizar as mazelas. O que muitas dessas pessoas não entendem é que o mecanismo usado para expulsar uma pesquisadora da Fiocruz do avião é o mesmo que valida o genocídio negro pelo Brasil. O racismo, e todas as suas variáveis, não é algo que se destrincha e se observa separadamente. Ele  é uma estrutura que se apresenta de várias formas e todas elas devem ser combatidas com rigor, sobretudo essas vistas como “microagressões”.

Aliás, microagressão para quem? Quem somos nós para dizer o que é micro ou macro para as pessoas que passam por um caso de racismo? Será que a comoção só vale quando termina em morte? Será que a Samantha só merecia ser acolhida, e defendida, se o fato culminasse em agressão física? Será que as pessoas negras só são vistas com empatia quando seu sangue estampa a capa dos meios de massa?

A forma com que a sociedade menospreza com as “microagressões” é fundamental para a perpetuação do racismo. Se esse caso tivesse revoltado uma parcela da sociedade, tal qual o caso da capivara Filó, situações com finais mais trágicos certamente diminuiriam. É como diz o ditado: "cortar o mal pela raiz”.

Quando não lidamos com coisas tidas como menores de forma contundente, damos condições para que o pior aconteça. Se você cala quando uma mulher negra é expulsa de um avião, um homem negro é seguido no mercado ou param uma pessoa negra por não acreditarem que aquele carro é dela. Não se assuste, ou se indigne, quando uma criança negra cair do prédio por negligência da patroa da mãe dela, ou quando um homem negro for assassinado por seguranças de um supermercado e nem quando houver chacinas nas periferias, pois todos os casos relatados partem do mesmo lugar, o racismo.

Fonte: Redação Nós
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