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BBB: Gatilhos raciais como o da Camila são mais comuns do que se imagina

Tentar diminuir um sentimento que não se sabe de onde vem e chamar um choro de mimimi é violência em dobro

30 jan 2025 - 10h04
(atualizado às 11h52)
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Aline consola Camila após falas de Renata
Aline consola Camila após falas de Renata
Foto: Reprodução Globoplay

Ontem no BBB 25 rolou uma dinâmica em que um grupo dos confinados decidiram uma certa punição para determinados participantes da casa. Durante essa interação o nome de Camila foi ventilado e a justificativa para não amarrarem ela a outro participante -- como pedia a punição -- foi que “se a gente amarrar ela, a gente se lasca, né? Porque a gente que tá na xepa e ela cozinha para gente” disse Renata. Ao ouvir isso Camila cai no choro e sua irmã Thamiris, junto com Aline, correm para consolar sua dor.

Camila é uma mulher negra e Renata é uma mulher branca. Quando pensamos nas construções raciais, essa fala tem sim um lado bem problemático. E com isso eu não quero dizer que a Renata sabia o que estava fazendo, porém isso não importa, o foco deve ser a dor criada e não a intenção. O que piora o quadro é quando a pessoa que fere, mesmo que, talvez, de forma inocente, tenta fazer da dor do outro algo menor ou que não deveria ser externada. Logo, não a preocupação com a ferida cutucada, e sim como isso pode afetar a imagem de quem a cutucou, no caso, pareceu que as pessoas, dentro ou fora do programa, estavam mais preocupadas em como o choro da Camila poderia queimar a Renata, do que da cor genuína da Camila.

Gatilhos emocionais não precisam seguir uma lógica linear. Pessoas super parecidas, criadas no mesmo ambiente, frequentando espaços similares, podem adquirir experiências e traumas bem diferentes. Não cabe a mim e nem a você dizer se a dor do outro existe ou não. Até mesmo o choro de um rico pode ser verdadeiro. Ele pode tá chorando pela coisa mais fútil do mundo, que é a coisa mais boba do mundo, mas ele está sentindo a dor. Se a dor desse cara é validada, porque  a dor de uma mulher preta que tem como um dos estereótipos racistas a subserviência, deve ser tratado como algo menor? Se tem gente chorando porque casal de reality se separou, porque uma mulher preta que cresceu na sociedade que ama uma Tia Nastácia, tem sua dor mitigada?

Eva, uma das meninas que faziam parte da conversa, disse o seguinte: “Não importa a intenção, o que importa foi o que ela sentiu. Se ela se sentir assim, eu vou pedir desculpas. Eu faço questão”. Ainda assim, podemos ver comentários terríveis nas redes sociais chamando Camila de mimizenta, tentando invalidar a dor dela e trazendo narrativas do jogo para justificar a invalidação. Dizendo que ela fala de todo mundo e coisas nesse sentido. O que não muda absolutamente nada. Tem também aquela pessoa que diz que tem uma amiga negra que não se incomodou com a fala, como se todas as pessoas negras fossem umas iguais às outras e que ser negra fosse a única identidade, excluindo assim toda subjetividade e experiências individuais que fazem cada ser humano único.

Me parece que as dores oriundas do racismo ainda são invisíveis para uma população em geral. Boa parte dessas pessoas acham que racismo é apenas quando chamam o outro de macaco ou quando fala explicitamente que não gosta de tal pessoa por ser negra. Existe uma resistência em ter empatia por pessoas negras. Os gatilhos causados pelo racismo são diversos e irão atingir pessoas negras de maneira distinta. Não cabe a ninguém, sobretudo pessoas brancas, dizer como as pessoas pretas devem lidar com suas dores. Se a massa tivesse mais preocupada em entender sobre o racismo e menos preocupada em justificá-lo, muita coisa, em todas as esferas da sociedade, estariam diferentes.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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