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BBB: Por que ainda julgam negros de forma mais rígida?

Tratamento de Douglas Silva no BBB22 difere de outros participantes

22 fev 2022 - 07h00
(atualizado em 24/3/2022 às 18h50)
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O jogo ou o entretenimento não deve, ou melhor não deveria, se sobrepor à pautas sociais, sobretudo em locais que se dizem progressistas
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Foto: Reprodução/Instagram Big Brother Brasil

O BBB não é, nem nunca será, um espelho fiel da sociedade brasileira. Vinte e dois participantes é pouco para representar a pluralidade do Brasil. Contudo, não há como negar que dentro do Big Brother alguns comportamentos se assemelham, e muito, com o que acontece no cotidiano. Um dos diversos pontos a se analisar é como o racismo estrutural leva diversos integrantes negros a serem taxados de agressivos enquanto os participantes brancos, com atitudes iguais ou piores, não sofrem o mesmo julgamento.

O ator Douglas Silva já foi taxado de agressivo várias vezes no BBB22. A participante Laís disse que “ele, Douglas, tem cara de que quando fica descontrolado a coisa fica feia”. O curioso é que a própria Laís falou: “Quando fiz massagem nos pés do Douglas, deveria ter socado um prego embaixo de cada pé”. Disse também: “Na hora que ele [Douglas] deu aquela sambadinha, quase peguei a perna dele e virei para trás. Se tivesse agressão, seria naquele momento.” Mesmo com essas declarações, ela não é classificada como agressiva ou raivosa. Esse não foi o único caso.

Douglas Silva ficou conhecido pelo personagem Dadinho, na fase da infância, no filme Cidade de Deus e foi o primeiro ator brasileiro indicado ao Emmy
Douglas Silva ficou conhecido pelo personagem Dadinho, na fase da infância, no filme Cidade de Deus e foi o primeiro ator brasileiro indicado ao Emmy
Foto: Reprodução/Instagram Big Brother Brasil

A necessidade de taxar o homem negro como agressivo é fundamental para que as violências sobre seus corpos sejam aceitas e não questionadas. Não à toa, homens negros são a maioria das pessoas assassinadas no Brasil. Negros representam três em cada quatro vítimas de homicídio no país, segundo o Atlas da Violência 2021. De acordo com o estudo, para a população negra (soma de pretos e pardos) a taxa de homicídios por 100 mil habitantes foi 37,8, enquanto entre os não negros (brancos, amarelos e indígenas) a taxa foi de 13,9, o que significa que os negros têm 2,7 vezes mais chances de serem assassinados do que uma pessoa não negra.

No BBB, a punição é o paredão, e ele foi. Por pouco, não foi eliminado por uma participante que insinuou que travestis não conseguiam empregos por falta de 'coragem', além de ter perguntado ao próprio DG se “falar mulata é errado?”.

O BBB, assim como outros produtos da indústria cultural, mostra muito bem como o corpo negro é digno de menos empatia. O que leva a sociedade a ver dois corpos fazendo as mesmas coisas e dar interpretações diferente a ambos? O racismo estrutural é tão enraizado dentro da sociedade que ele atua no subconsciente, ou seja, as pessoas, ainda que sem consciência, julgam o indivíduo negro de forma mais rígida e sem condescendência. O fenótipo do Douglas Silva não é visto nos príncipes da Disney nem como galã da novela das 21h. A imagem do DG, dentro do imaginário racista, é ligada a quem trafica, rouba e mata.

DG chorou falando sobre o abandono paterno, e como isso reflete na sua postura como pai; já fez dancinha, do mesmo jeito que faz com sua filha no TikTok; acolheu a Jessi, e chorou junto com ela, em um de seus momentos de vulnerabilidade; foi o primeiro a consolar a Nathalia depois do “massacre” sofrido por ela no último jogo da discórdia; foi líder, foi ao paredão, foi monstro, foi “abençoado” ´pelo anjo. Agressivo, não. DG foi muita coisa no BBB, mas não foi agressivo. A trajetória do Douglas é repleta de momentos que provam que ele é um homem sensível – e esse rótulo que a Laís insiste em colocar nele pode servir para que a gente reflita sobre o lugar em que o homem negro é colocado.

Abraço de acolhimento de DG em Nathalia foi uma das coisas mais bonitas da edição até agora
Abraço de acolhimento de DG em Nathalia foi uma das coisas mais bonitas da edição até agora
Foto: Divulgação/ Globo
Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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