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Beyoncé é mais uma pessoa negra pelo mundo que romantiza a Bahia

Negros e negras em diáspora sentem algo inexplicável pela africanidade das terras baianas

22 dez 2023 - 12h35
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Beyoncé não é a primeira a artista a ter algo especial por Salvador
Beyoncé não é a primeira a artista a ter algo especial por Salvador
Foto: Reprodução: Instagram/beyonce

Na última quinta-feira, 21, as redes sociais vieram abaixo com a aparição da rainha Beyoncé em solo soteropolitano. A diva pop veio à cidade baiana para participar da festa de lançamento do documentário "Renaissance: A Film by Beyoncé". Importante falar que o lançamento do filme foi mundial e ela preferiu está aqui do que em qualquer lugar do mundo.

Os fãs brasileiros estavam meio chateados com queen B porque ela não veio ao Brasil com sua turnê, mas ao que tudo indica essa aparição deu uma equilibrada nas coisas. A cantora já tinha disponibilizado bolsas para negros e indígenas que empreendem no Brasil e pretende passar o Natal em terras baianas.

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Ela não é a primeira a artista a ter algo especial por Salvador. O rei do pop, Michael Jackson, também se declarou para São Salvador, gravou clipe e fez questão de ter sua imagem vinculada à cidade. Outro que também adora Salvador é o diretor Spike Lee, que, em uma das suas interações com nosso estado, criticou a falta de pessoas negras em espaços de poder.

Salvador foi, se não a mais, uma das cidades que mais recebeu pessoas escravizadas do continente afriano, se tornou a primeira capital do Brasil por estar na região de maior quantidade de Pau Brasil, por ser a principal produtora de açúcar e também por sua localização que facilitava a exportação de tudo que era roubado de nossas terras.

Outro ponto que é adorado pelas pessoas, sobretudo as que não conhecem a verdadeira história, é o pelourinho. Era nos “pelourinhos” que escravizados eram punidos por tentarem conseguir sua liberdade. Não dá para cogitar quantas pessoas negras foram assassinadas, humilhadas e torturadas nesses locais.

Outro local muito comentado é o subsolo do mercado modelo. Durante muitos anos foi dito que lá era onde vários escravizados esperavam sua documentação ser regularizada para ser vendido como se fosse um animal, e que certa feita, durante uma enchente, alguns escravizados foram esquecidos nesse subsolo e morreram afogados. Hoje, boa parte dos historiadores desmentem essa narrativa e falam que foi uma jogada de marketing, porém eu sei bem o que senti quando desci lá há 20 anos atrás.

Podem pensar que é fantasia, podem não acreditar na questão espiritual e de ancestralidade, mas minha sensação é que toda pessoa negra diaspórica sente esse peso que temos em terras baianas. O peso não só da escravidão e de todo mal que ela causou - e ainda causa - à população negra, mas também de como resistimos e nos mantemos firmes. O peso dos milhares de quilombos, o peso das centenas de levantes, como o levante dos malês, o peso de figuras como Maria Felipa de Oliveira e Luiz Gama, o peso de saber que a historia do negro fora da África tem a Bahia como um dos principais locais de luta, resistência e sobrevivência.

Contudo, não estou aqui para romantizar minha cidade, que é linda quando pensamos dessa maneira mais leve e lúdica. Muitos chamam de a Meca Negra, outros falam que todo negro tem que ir pelo menos uma vez em Salvador e tudo isso porque mais de 80% da popualção é negra e que, segundo dizem, respiramos africanidade. A realidade do negro que mora em Salvador, entretanto, é muito dura e pouco se afasta da realidade da escravização. Apesar da população ser majoritariamente negra, nunca fui atendido por uma médico negro, andando em bairros de elite não se vê pessoas negras. O que estou querendo dizer é que a “Meca Negra” segue massacrando a população que, em tese, representa a cidade.

Eu não tenho dúvida de que Salvador é a capital, fora da África, que mais exala negritude e africanidade. Dificilmente outra cidade do mundo, fora o continente afriano, se beneficiou tanto do sangue e do suor de pessoas negras, mas o que vemos no dia a dia é que, na prática, os poucos brancos que aqui vivem seguem sendo detentores do capital e se beneficiando dessa imagem romantizada de Salvador.

Fonte: Luã Andrade
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