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Brincadeira do 'cabelo maluco' pode abrir espaço para o racismo

Colocar penteados que são comuns em cabelos crespos como 'maluco' preocupa e isso precisa ser questionado

13 out 2023 - 11h06
(atualizado em 26/10/2023 às 09h01)
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Preocupa ver que um cabelo que representa cultura, estilo e identidade de uma raça seja retratado como "maluco", coisa de doido e daí para pior
Preocupa ver que um cabelo que representa cultura, estilo e identidade de uma raça seja retratado como "maluco", coisa de doido e daí para pior
Foto: iStock/Delmaine Donson

O Dia do Cabelo Maluco, que antecede o Dia das Crianças, tem como prática a criação de penteados diferentes. Para isso, as escolas esperam que juntos mães, pais e filhos elaborem algo surpreendente, inusitado e divertido.

Nas redes sociais, este ano, vimos vários tipos de cabelos bem interessantes, onde a criatividade foi explorada 100%. Outra percepção foi que cada tipo de cabelo tem mais facilidade para determinados penteados. E também conseguimos notar que existem penteados que podem ser feitos simplesmente com qualquer tipo de cabelo.

Teve menino se aventurando no estilo calvo, ou seja, ele raspou a parte superior da cabeça deixando apenas os lados com cabelo. Teve uma menina que fez do cabelo um balanço, teve cabelo em forma de rosquinha, em forma de sorvete. Uma coisa é fato: criatividade nunca falta para a meninada.

Mas nem tudo são flores, não é mesmo? E quero dizer, desde já, que eu não quero culpabilizar os pais e as mães das crianças. Acredito que, na maioria das vezes, esse tipo de erro ocorre por falta de informação, desatenção ou inocência. Penso também que poucas vezes há algum tipo de maldade ou consciência do que está sendo feito, porém dois penteados me chamaram muito a atenção de forma negativa. Ambos abrindo espaço para o racismo, mas de formas ligeiramente distintas.

Um foi o que lembra o penteado de origem afro bantu knots, popularmente conhecido como coquinhos, que são pequenos coques, e não cocos, feitos na extensão da cabeça, muito comum em cabelos crespos. Nesse, minha preocupação, sobretudo quando falamos em crianças e no ambiente escolar, é um cabelo que representa cultura, estilo e identidade de uma raça como "maluco", coisa de doido e daí para pior. É o tipo de penteado que mulheres negras usam normalmente, no dia a dia, que não têm nada a ver com maluco. Por exemplo, você não costuma ver uma menina com uma boneca se balançando na cabeça em forma de penteado, mas é comum ver pessoas de cabelos crespos com penteados diversos e que só é visto como estranho por pessoas racistas.

Já o outro me pegou ainda mais. Era uma menina preta que o penteado dela era um vaso sanitário e, ainda que não fosse a intenção de quem confeccionou, o cabelo da menina dava a entender que eram fezes. Agora, pense isso no país em que cabelo crespo é visto como cabelo ruim, em um ambiente que constrói vários traumas e que, por vezes, racismo recreativo é visto como brincadeira? Principalmente quando falamos de meninas negras, que o cabelo é fruto de vários problemas de autoestima.

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Na minha cabeça, se isso não for questionado, logo o black power (que nem é um penteado, mas tem pai mandando a criança de peruca), tranças nagô, null dread, wave e outros elementos da cultura negra vão ser vistos como malucos e os cabelos crespos como, com o perdão da palavra, merda. Eu não imagino uma criança de chanelzinho de bico indo ao colégio no Dia do Cabelo Maluco. Agora posso imaginar uma criança de cabelo liso indo com o cabelo que simula fezes, com latrina e tudo mais, e acho aceitável, sabe por quê? Cabelos lisos não são vistos como ruins, sobretudo quando estão em cabeças brancas, fora que pessoas brancas são vistas como indivíduo, ou seja, o que ela faz reverbera apenas sobre ela, já pessoas negras, não. Por todo histórico de racismo, todo cabelo crespo no contexto proposto será visto como “merda”.

Eu sei que é triste termos tantas coisas para pensar quando o assunto é uma simples brincadeira de colégio, mas infelizmente vivemos em uma sociedade que está sempre apta a oprimir quem não tem o fenótipo parecido com europeu. E repito que a intenção não é criminalizar as mães e pais que fizeram os penteados, mas, sim, alertar todas as pessoas que o racismo está aí, à espreita para traumatizar mais uma criança negra.

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Fonte: Luã Andrade
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