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Choro é usado para manipular participantes e público no BBB23

A 'lágrima da mulher branca', como mostrou a escritora Luvvie Ajayi, é uma arma potente de empatia e faz com que o acusador vire acusado

12 abr 2023 - 11h57
(atualizado às 17h43)
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Bruna é uma das participantes que usa o artifício do choro com maestria
Bruna é uma das participantes que usa o artifício do choro com maestria
Foto: Reprodução

Eu acredito que muitos aqui esperavam que o texto de hoje fosse sobre a segunda eliminação do Fred Nicácio e realmente seria. Iria falar como o homem, gay e preto que defende causa raciais, foi preterido a uma mulher branca que já teve uma série falas de cunho duvidoso que gerou polêmica na internet - e isso vai de chamar uma mulher preta de 'urublue' até dizer que outra mulher negra, que tem anos de projeto sociais voltados para a causa feminina, era uma feminista de araque. Mas depois da discussão entre a Larissa e o Cezar Black na madrugada de hoje, 12, fora que já fiz um texto apontando a diferença entre Bruna e Sarah essa semana, preferi falar sobre a lágrima da mulher branca.

Dentro do programa, já vimos a força da lágrima da mulher branca algumas vezes. Bruna, não por coincidência, é uma que usa esse artifício com maestria. De forma pensada ou não, o fato é que muitos erros dela são mitigados após seu choro. O Ricardo Alface já foi vítima desse choro mais de uma vez, em uma cena emblemática, ao menos para mim, quando ele foi acusado de fazer jogo duplo e falou que Fred Bruno, Bruna e Larissa faziam o mesmo. Então, Bruna o chama de um monte de coisa e depois começa a chorar sendo acolhida por todos e estimulando ainda mais ataques ao Alface. Também teve uma vez em que ela o manda tomar naquele lugar, bota o dedo na cara dele e agride Amanda sem querer, durante a ação do patrocinador que é um sabonete. Depois, ela chora de novo e até o próprio Alface vai consolá-la. Isso mesmo, a vítima foi consolar sua agressora.

Hoje, o alvo preferido disso tem sido, de novo, não por coincidência, outro homem negro. Cezar Black durante a prova do líder da semana passada teve uma briga com Bruna. Ele fala para ela parar de dar desculpas por ter perdido. Ela manda ele “tomar por dentro”, e ainda o chama de babaca. Quando Cezar fala para ela calar a boca, aparecem todas as outras mulheres do Deserto mandado-o respeitar Bruna e tentando pintar Cezar de machista. Depois da prova, elas vão para a varanda e, de novo, Bruna chora dizendo: "Não estou bem, gente. Não estou mais aguentando isso aqui. Não aguento mais essas pessoas, eu juro."

Na madrugada, a situação foi bem desse jeito. Cezar está lá cozinhando, chegam as meninas do Deserto e começam a provocar. Larissa toma a frente e o acusa de não fazer nada. Nesse momento, a magia acontece: Cezar Black diz para Larissa não esquecer que já saiu, explica que ela teve oportunidade de ver os próprios erros e voltar. Nesse momento ela se altera, o chama de sem conteúdo e arregão. A própria galera do Deserto, percebendo os equívocos da sua colega de quarto, começa a tirá-la de cena e as pessoas começam a tentar colocar a culpa nos dois, na tentativa de induzir o entendimento das pessoas que tinha sido chumbo trocado.

Ponto importante é que pouco antes de começar a chorar, Larissa diz que ela veio de fora e trouxe tudo para todos numa boa. Que não pegou no pé de ninguém (esqueceu que ficou chamando Domitila de machista e que não faz o que fala), principalmente de Black, que teve atitude escrota com ela, falando do corpo dela no quarto do líder. E ela está certa! Não passo pano para erro não! Mas ela esqueceu de mencionar, na sua chegada, que ela, Bruna e Fred Desimpedidos fizeram o mesmo com Cezar Black, no mesmo quarto do líder, falando do volume do Cezar Black. E, por mais que para muita gente isso seja falsa simetria, venho lembrar a todos que a hiperssexualização do homem negro, sobretudo ao que tange  o tamanho de pênis e desempenho sexual, também é uma problemática que não é muito disseminada porque tem como foco um dos maiores alvos de desumanidade da sociedade brasileira. Grande parte da casa vai lá acolher Larissa, enquanto ela segue falando e provocando. Uma das pessoas que consola Larissa é Domitila, fala que percebeu que aquilo era um ponto sensível dela e a tranquiliza.

No texto “About the Weary Weaponizing of White Women Tears” tem uma passagem que diz “As lágrimas das mulheres brancas são especialmente potentes… porque estão ligadas ao símbolo da feminilidade”, explica a escritora Luvvie Ajayi . “Essas lágrimas estão saindo dos olhos daquela escolhida para ser o protótipo da feminilidade; a mulher que foi pintada como desamparada contra os caprichos do mundo. Aquela que obtém a maior proteção em um mundo que faz um trabalho de merda em geral de valorizar as mulheres.”

É claro que esse viés de proteção do mundo é oriundo do machismo do patriarcado, contudo mulheres negras não gozam nem dessa vantagem. No oposto da mulher branca, quem está é o homem negro, esse corpo é visto como a maior ameaça dentro de sociedade racista, pintado como perigoso e por isso é que um jovem negro morre a cada 23 minutos no Brasil.

Essa semana vimos uma mulher branca no Rio de Janeiro agredindo um homem negro em plena luz do dia, tivemos o caso de outra mulher branca contra um funcionário de bar em Santa Cruz do Sul, tivemos um caso com esse mesmo perfil contra um trabalhador em Uberaba, a mesma coisa ocorreu em Curitiba na Câmara Municipal. Não sei se para todos, mas a sensação que me dá é a de que a mulher branca tem uma liberdade de ser racista/agressiva com homens negros pois sabem que a estrutura da sociedade jamais permitirá que um homem preto seja reativo de forma veemente contra uma mulher branca sem que isso se torne fatídico para sua vida.

É importante entender que esse texto fala de situações específicas. Não é para dizer que todas as lágrimas de mulheres brancas são tentativas de escapar ou acusar, tão pouco dizer que homens negros são santos e que não pode ser algozes de mulheres brancas. Esse texto é uma tentativa de elucidar as pessoas sobre as nuances que determinadas situações apresentam e que o racismo não nos deixa perceber. Aqui está é o link traduzido do texto citado para quem deseja ler mais sobre o tema.

Fonte: Redação Nós
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