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Domingo de eleição devemos redobrar a atenção com a falsa representatividade

Nem todo negro é aliado, assim como nem todo branco é inimigo

5 out 2024 - 05h03
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Foto: Reprodução Instagram

Neste domingo (06), teremos eleições para prefeito e vereadores no Brasil. Eu até poderia escrever um texto tentando incentivar as pessoas a votarem, explicando a importância desses cargos e até sugerindo alguns candidatos nas capitais. Contudo, acredito que se você teve interesse em ler sobre isso, você está antenado na importância do seu voto e como não deve desperdiçar a oportunidade de participar do futuro do seu município.

Diferente do que disse o Tiririca anos atrás quando se candidatou pela primeira vez, sempre dá para ficar pior. Eu nem preciso citar exemplos, já que a maior cidade da América Latina vem esfregando isso diariamente na nossa cara. E foi a partir de um debate pela prefeitura de São Paulo, promovido pelo Terra em 14 de agosto, que me veio a importância de escrever esse texto. Na ocasião, a jornalista da casa Luciana Pioto perguntou a dois candidatos sobre a desigualdade racial nas escolas e como eles pretendem otimizar a lei 10639. Um dos candidatos disse, em meio a muita enrolação, que ele era o único a ter uma vice negra, nitidamente, ao menos para mim, em uma tentativa de mitigar a luta racial a uma representatividade. Isso tem sido uma maneira corriqueira da direita de fugir dos problemas sociais usando uma única pessoa, que muitas vezes nem tem voz ativa, para fingir inclusão.

Essa representatividade vazia consiste em colocar uma pessoa de alguma minoria, mas que pensa de forma conservadora. Pensamento esse que, no futuro, se tornará um voto a mais contra a minoria que ele, ou ela, pertence. Votar em um negro que é contra cota racial ou em uma branca que é a favor? A resposta com base na representatividade vazia será que no negro, já que, mesmo sendo contra, será um de nós lá. Já o pensamento coletivo irá dizer que no na branca, porque cotas raciais nas universidades e concursos publicos irão beneficiar muito mais pessoas negras do que um unico negro em uma cadeira de vereador. 

Imagine você votar na "Negona do Bolsonaro" achando que está colocando uma mulher negra como sua representante e no final saber que ela votou contra uma lei para mitigar a violência policial na periferia? Imagina você votar em uma mulher conservadora e no futuro a ouvir dizer que a mulher vitima de estupro tem que gestar porque Deus quer assim? Imagina você LGBTQIAPN+ votar em algum conservador da sigla e no dia seguinte vê-lo falar tem um jeito certo de ser gay e não é desmunhecando? Infelizmente, casos como esses são muitos reais e tem muita gente caindo nessas armadilhas. Essa pessoa pode não ser você, ou ser amigo que consome conteúdo progressista, mas com aquela sua tia negra, que não se aprofundou no debate e acredita que colocar seu voto em uma mulher negra já é o suficiente, talvez funcione.

Então eu vou falar algo que pode deixar você boquiaberto, sobretudo se você me lê há muito tempo, um homem branco, hétero, cis que vote a favor de pautas alinhadas com questões sociais, vai fazer mais pelo coletivo que um negro trans que faz arminha. Até porque nós sabemos com muita convicção para onde essas arminhas apontam. Afinal, as balas perdidas sempre acham os mesmos corpos, não é mesmo?

A gente gostando ou não, a política ainda é o meio mais eficaz para mudanças que visam a melhoria na vida das pessoas. Muito mais que seus textos ou meus posts. É lá que decidem de maneira legal o nosso futuro. Então domingo votem em pessoas que pensam como você, que pareçam com você e, de preferência, que tenham chances de ser eleitas, principalmente para vereador(a). Não deixem de votar, pois é assim que mudaremos o destino da nossa nação.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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