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Em tempos de normatização neonazista, Dia de Combate à Discriminação Racial se faz ainda mais necessário

Diante do cenário atual, onde cada vez mais vemos discursos extremistas sendo tratados como "opinião", a luta racial deve ser exaltada

3 jul 2024 - 09h25
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O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, assim como outras datas que buscam a equidade social, nunca se fez tão necessário nos últimos anos
O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, assim como outras datas que buscam a equidade social, nunca se fez tão necessário nos últimos anos
Foto: Imagem de freepik

No dia 3 de julho é comemorado o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial. A data foi escolhida por causa da aprovação da Lei Afonso Arinos, que estipulou, em 1951, que racismo seria contravenção penal. Após 73 anos, o cenário do Brasil, que outrora parecia animador, decai e, a cada dia que passa, vemos atitudes e falas racistas sendo colocadas “apenas” como opinião, camufladas como liberdade de expressão.

Uma coisa bem comum que anda acontecendo, sendo bastante utilizada por esse tipo de pessoa são os famigerados "apitos de cachorro", que nada mais é que um "easter egg". Compliquei ainda mais, mas pelo menos quem curte cinema já entendeu. Explico: é como se fosse um código escondido. Gesticular determinada coisa durante um discurso, um símbolo em segundo plano dentro de uma foto que parece ser inocente ou um gesto que, sem contexto, não teria nada demais. Tudo isso pode passar despercebido pelo cidadão comum, contudo alarma e inflama as pessoas que entendem os códigos e sabem que ali tem um semelhante.

Um copo de leite foi usado pelo ministro da propaganda nazista para passar a ideia de superioridade genética. Era incentivado, em reuniões do partido, o consumo seguindo essa lógica. Hoje, infelizmente, se tornou comum imagens de pessoas que têm ligações com ideias de supremacia branca bebendo um copinho de leite de forma despretenciosa, para deixar claro para outros como ele que ali existe um discurso similar. Tem uma explicação mais extensa sobre o porquê do leite, mas é muita viagem, então nem vou perder tempo com isso.

O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, assim como outras datas que buscam a equidade social, nunca se fez tão necessário nos útimos anos. Reivindicar nossos espaços, lutar por mais direitos e brigar para que não haja retrocesso no que já foi conquistado são apenas alguns exemplos de elementos a serem trazidos para o debate em dias como o de hoje. Tentar trazer mais pessoas negras para o letramento racial, levar consciência de classe e entendimento de como nossa sociedade se desenvolve com sangue e suor de gente preta e pobre.

O que é ser antirracista? O que é ser antirracista?

Eu posso ser um pouco descrente, mas não penso no dia de hoje como uma data para levar a consciência para extremistas racistas. Essa galera não quer entender. Ou melhor, eles até entendem, mas não querem perder o direito ao privilégio, pois sabem que são medíocres e sem o privilégio não conseguem as regalias que têm hoje.

Na minha cabeça, dias como o de hoje são para alertar pessoas de bem, sobretudo pessoas negras que ainda percorrem o caminho trilhado por pessoas brancas e burguesas que as fazem acreditar que qualquer migalha é banquete. Pegar essa galera que, lamentavelmente, não tem tempo para pensar nas nuances da nossa sociedade. Uma parcela grande da população que só tem tempo para trabalhar e sustentar sua casa. Um grupo que, dadas as dificuldades da sociedade racista, não tem tempo para nada senão pensar em sobrevivência.

Fato é que, em 2024, estamos vendo mais gente defendendo o direito de neonazi se expressar do que pessoas divulgando o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial. A chama da pauta racial, que se acendeu com a infeliz morte de George Floyd, vem se apagando cada vez mais rápido com o passar dos anos.

Em 2024, fica claro a queda do interesse das pessoas na igualdade racial. A impressão que dá é que o interesse era apenas enquanto falar sobre isso dava mídia e algum tipo de retorno. Isso me faz ainda mais preocupado, já que, ao que me parece, o que vem dando retorno hoje em dia são os apitos de cachorro de pessoas que visam uma sociedade totalmente oposta ao que propõe o antirracismo.

Meu desejo para esse 3 de julho é que todas as pessoas negras possam viver com dignidade e que todos possamos pensar atitudes que façam os que flertam com neonazismo voltarem a terem medo de se mostrar.

Fonte: Luã Andrade
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