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Existe necessidade de se posicionar em palco de festival?

Racionais denuncia o genocídio negro no palco do Rock in Rio e demonstra na prática a importância de se posicionar

5 set 2022 - 13h19
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Racionais Mc 's subiu ao palco do Rock in Rio na noite de sábado (3) e - mais uma vez - fez dura crítica social
Racionais Mc 's subiu ao palco do Rock in Rio na noite de sábado (3) e - mais uma vez - fez dura crítica social
Foto: Reprodução/Instagram

No Rock in Rio do último sábado (3), os integrantes do grupo Racionais Mc 's (Edi Rock, Ice Blue, KL Jay e Mano Brown) durante a música “Nego Drama”, fizeram uma linda homenagem a pessoas negras que morreram de forma violenta. Foram elas: Ágatha Vitória, Cláudia Ferreira, Durval Teófilo, Genivaldo de Jesus, João Pedro, Kathlen Romeu, Luana Barbosa, Moïse Kabagambe, Miguel Otávio, Moa do Katendê e Marielle Franco. Algumas pessoas não entenderam o porquê, outras acham que política não se faz em festival e teve até quem não sabia quem eram aquelas pessoas. Todos esses apontamentos só mostram a necessidade de se posicionar, sobretudo quando o foco é a violência sofrida por pessoas negras.

Apesar da grande massa não racionalizar isso de forma prática, todos sabem, ainda que inconscientemente, que as pessoas negras são a maioria dos crimes violentos no Brasil. Essa violência não se dá apenas de forma direta, como ter seu corpo arrastado no asfalto por uma viatura, mas acredito que não há quem discorde que também é um tipo de violência deixar uma criança de cinco anos à deriva em um prédio enquanto a sua mãe passeia, em plena pandemia, com o seu cachorro. Esses crimes caem no esquecimento com grande facilidade e relembrá-los é, talvez, fazer com que a cobrança por justiça aumente, afinal se não fosse pelo show dos Racionais a imprensa não estaria relembrando esses casos.

Infelizmente a violência é um "patrimônio” do Brasil. Dois exemplos sobre esse "patrimônio" é o fato de que o Brasil, país que, em tese, não tem guerra, matou cerca de 550 mil pessoas em onze anos (Ipea 2018). Mais pessoas do que a guerra da Síria que, à época, havia matado 500 mil pessoas em sete anos. O outro exemplo é que nesses onze anos o Brasil teve mais mortes violentas do que França, Itália e Inglaterra perderam de soldados durante a segunda guerra mundial. Viver nesse contexto faz com que a gente não dimensione o quão absurdo é essa quantidade de morte e acabamos lidando como se isso fosse algo normal.

"Se não fosse pelo show dos Racionais a imprensa não estaria relembrando esses casos"
"Se não fosse pelo show dos Racionais a imprensa não estaria relembrando esses casos"
Foto: Reprodução/Instagram

Racionais é um grupo político, mas não se engane, não falo de política partidária, falo de política relacionada com grupos sociais dentro de uma estrutura que, no caso dos negros e pobres, os esmaga. E aí não só os Racionais, mas o RAP como um todo é responsável por trazer pessoas como eu para esse debate. Pois é, mesmo sendo negro, e sabendo disso, mesmo vendo como eu era tratado de forma diferente, mesmo vivenciando racismo diário, foi só através do som dos Racionais que eu fui começar a entender, e dar nome, aquilo que eu vivia no cotidiano.

Se posicionar não é para todos. Se posicionar em uma sociedade como a nossa é abrir mão de muita coisa. Dinheiro, fama, contrato, mídia e etc. Eu tento não julgar a galera que veio de baixo e por vezes é omissa. Cada um sabe pelo que passou, sabe o quanto sangrou e suou para chegar onde está. Uma galera que é arrimo de família e sabe que se posicionar pode trazer consequências graves para todos que ama. Porém não tem como não se emocionar com aqueles que escolheram tomar um lado e ajudar uma galera a entender um pouco sobre seu lugar na sociedade. Pessoas que abrem mão de muita coisa que muitos sonham.

Não são só artistas não, tá? São professores que estão sendo perseguidos por terem seus pensamentos progressistas, são criadores de conteúdos que não são requisitados pelo mercado publicitário, pois abordam conteúdos "polêmicos", são portais que perdem anunciantes por darem voz a quem nunca teve.

Finalizo com uma frase do Emicida que corrobora um pouco sobre o dito nesse texto: “Tem gente dizendo que não é de bom tom falar de política no palco de festival. Mas, se eu estou vivo aqui, é porque o Racionais decidiu falar de política 30 anos atrás".

Fonte: Luã Andrade
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