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Fred Nicácio jamais ganhará o BBB23

Pautar o racismo em um país racista como o Brasil é esfregar na cara da população aquilo que ela nega ser

24 mar 2023 - 08h56
(atualizado às 09h01)
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O massacre que Fred Nicácio vem sofrendo, principalmente no Instagram e no Facebook, me fez, durante um devaneio, torcer para que ele não entrasse para não vê-lo sofrer
O massacre que Fred Nicácio vem sofrendo, principalmente no Instagram e no Facebook, me fez, durante um devaneio, torcer para que ele não entrasse para não vê-lo sofrer
Foto: Reprodução: Redes Sociais

Eu poderia finalizar esse texto agora falando: Fred é um homem preto retinto, gay, de religião de matriz africana e com características que no Brasil só são bem vistas quando pessoas brancas as têm. Porém, irei me esforçar para tentar elucidar com mais precisão meu ponto de vista.

No programa da última quinta-feira, 24, o Big Brother Brasil fez uma repescagem. A dinâmica consistia em o público escolher, dentre os eliminados, qual deles iria voltar para a casa mais vigiada do Brasil. Fred Nicácio foi um dos escolhidos para poder voltar e teve APENAS 3% de vantagem em relação à Key, aquela mesma que foi racista com a religião do médico e ainda foi premiada pela emissora para participar do reality no México. Todos os eliminados foram confiados em um mesmo ambiente e rolou muita lavação de roupa suja.

No retorno à casa, Fred falou sobre muitas coisas: os memes criados, as tretas homéricas, acolhimento fora da casa, participações em programas e outras várias coisas acerca do tempo que passou fora do programa. Ele contou também sobre o atentado terrorista que rolou em Brasília no dia 8 de janeiro, onde o gado do ex-presidente invadiu o congresso e quebrou tudo. Falou sobre o desrespeito à democracia e desdenhou dos bolsominions citando em alto e bom tom que o ministro do STF Alexandre de Moraes, o "Xandão", prendeu geral.

Além de ter exposto uma parcela significativa da população, já que o Bolsonaro teve 52 milhões de votos, Fred falou bastante sobre questões raciais como um todo. Sempre que podia deixava claro o marcador racial da edição -  e fora dele. Contou que Paula foi questionada por uma jornalista se a bolsa que ela tinha comprado, de 15 mil reais, tinha sido comprada mesmo ou se era permuta e, em seguida, questionou se isso ocorreria se Paula fosse uma mulher branca.

Nicácio disse também que queria uma final de pessoas negras, que a edição estava pautando as questões raciais, que o público que assiste cada passo de brothers e sisters estava fazendo analogias sobre dois pesos e duas medidas. Fred ainda falou sobre como Sarah vem ressignificando a forma dos afetos de mulheres negras, contou que a troca entre ele e Black causou certo espanto pois dois homens pretos, sobretudo um deles sendo gay, trocando carinho não era comum. Ele explanou muita coisa e, sempre que podia, falava sobre a questão racial.

Eu assisti aquilo vibrando, achei maravilhoso, mas rapidamente pensei: se eu, que sou taxado de chato, estou gostando, logo… Rapidamente a ficha caiu! Existe uma parcela gigantesca do Brasil que irá transformar a maneira genuína que Fred pauta as questões raciais como algo pejorativo. Irão falar que essa narrativa é montada, que ele odeia pessoas brancas, provavelmente o assunto do racismo reverso irá voltar, entre outras coisas que ocorrem quando pessoas negras têm orgulho de sua luta.

O que eu falei no primeiro parágrafo marca a nossa realidade. O mesmo dois pesos e duas medidas que vimos dentro do BBB23 é corriqueiro no nosso dia a dia. Todas as identidades citadas sobre o Fred, ainda que ele seja um médico bem sucedido, mostra que pessoas negras, sobretudo sendo gay e de Axé, sempre serão vistas de maneira bem distorcida por aqueles que ainda estão absorvidos pelo ideal branco e cristão da sociedade.

O massacre que Fred Nicácio vem sofrendo, principalmente no Instagram e no Facebook, me fez, durante um devaneio, torcer para que ele não entrasse. Não queria vê-lo chorando e sofrendo para gozo dos racistas. Dói, enquanto telespectador, saber que as mesmas características que fizeram outras pessoas campeãs, no corpo do Fred, o fazem ser achincalhado. Fingir que isso não está acontecendo é dar as mãos ao racismo e corroborar com a perpetuação de um sistema que condena pessoas negras todos os dias, de todos os jeitos e em todas as esferas da sociedade.

Fonte: Redação Nós
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