Há brancos questionando a falta de negros nos espaços que frequenta?
Luã Andrade: Às vezes - confesso - me pergunto onde estão os antirracistas
Nem todo branco acha que preto é subalterno.
Mas todo branco já foi incentivado a pensar que sim.
Nem todo branco chama preto de macaco.
Mas todo branco conhece outro que já fez isso.
Nem todo branco debocha do cabelo crespo.
Mas todo branco cresceu ouvindo que cabelo bom é o cabelo liso.
Nem todo branco hiperssexualiza ou fetichiza o corpo negro.
Mas todo branco reconhece esse comportamento em seu círculo de amigos.
Nem todo branco se considera o mais bonito, inteligente e poderoso.
Mas todo branco é incentivado a agir como tal pelos meios de massa e produtos da indústria cultural.
Nem todo branco tem condição financeira tranquila.
Mas todo branco usufrui do racismo estrutural e estruturante que inferioriza o negro.
Nem todo branco tem cargo de chefia na empresa.
Mas todo branco conhece várias empresas onde não há funcionários negros nos cargos mais elevados.
Nem todo branco ocupa um espaço de poder na sociedade.
Mas todo branco sabe que a cor dele é a predominante nesses locais.
Nem todo branco tem vida fácil.
Mas todo branco não tem sua vida dificultada pelo racismo.
Nem todo branco tem medo ou se sente ameaçado por um negro na rua.
Mas todo branco já ouviu de uma colega que ao cruzar com um negro sentiu medo de ser assaltada.
Nem todo branco está consciente do quanto racismo afeta a sua subjetividade. E de como suas atitudes podem impactar, ainda que inconscientemente, um indivíduo negro.
Nem todo branco consegue perceber a influência do privilegio racial na própria trajetória. Alguns, infelizmente, jamais conseguirão olhar com carinho para as questões raciais. Outros nem fazem questão de mergulhar em si mesmos, em busca da desconstrução e da empatia.
Eu, por vezes, perco a esperança.
Há brancos usando seu privilégio para combater o racismo?
Há brancos questionando a falta de negros nos espaços que frequenta?
Há brancos dispostos a equilibrar a balança?
O branco precisa entender que a baixa produtividade econômica decorre da descriminação da principal mão de obra, que é a negra. E que assim nunca teremos um desenvolvimento sustentável.
Às vezes - confesso - me pergunto onde estão os antirracistas. E em seguida me lembro: não é fácil abrir mão de privilegio. Não é fácil reconhecer que nem tudo na sua vida é só o seu esforço. A tal meritocracia. Para pra pensar: quantos negros suas atitudes já humilhou, feriu, diminuiu e fez sangrar?
Eu entendo.
A dificuldade que vocês têm com raça, eu tenho com gênero.
É árduo se admitir algoz.
Coragem cara gente branca! Quem mais tem poder estrutural para mudar isso são vocês!