Jogador é atacado por ser do candomblé, enquanto técnico condenado por crime sexual é defendido.
A sensação que dá é que o futebol vive alheio às leis e à moral social tão defendida por uma parcela da população.
Que o conservadorismo é regado de hipocrisia nós já sabemos. Não tem novidade em dizer que a maioria dos que se autodenominam conservadores são os que mais se comportam de maneira inadequada. Pessoas de lógica própria que, ao meu ver, se escondem atrás das máscaras para na surdina revelarem o pouco escrúpulo que os rege.
No futebol muitas dessas hipocrisias ficam escancaradas. É dentro dos estádios que acontecem vários crimes que ficam impunes ou sem consequências sérias. Homofobia, racismo, violência entre torcidas, violência policial, invasão de campo são apenas a ponta do iceberg quando tratamos de impunidade dentro dos estádios. Logo é nesse contexto que vemos muita gente passando pano para pessoas que cometeram crimes graves que em outro contexto provavelmente não seriam aceitos.
Quando eu falo grave, é grave mesmo. Estou falando de sêmen sendo encontrado no corpo da vítima de treze anos. E essa informação não foi dada por revistas de fofoca não. A Diretora do Arquivo de Berna (Suíça) mostrou a jornalistas a página do processo onde confirma as informações já citadas, o que culmina em crime sexual. Ainda munido de todas essas informações tem gente que tem coragem de fazer malabarismo para defender o cidadão que, como vocês já devem ter percebido, não quero nem citar o nome, mas em uma simples pesquisa pode ser encontrado.
Por outro lado temos Paulinho, um jogador que sofre preconceito simplesmente por ser de uma religião de matriz africana. Tudo começou há poucos anos atrás quando, ao fazer um gol pela seleção brasileira, comemorou fazendo a flecha do orixá da caça Oxóssi. O que esse rapaz sofreu de hate foi um absurdo. A sensação que tive à época foi que se ele tivesse feito o gol da final da copa do mundo, e comemorado daquele jeito, teriam racistas religiosos desmerecendo o título. Após esse episódio chegou ao conhecimento da massa a religião de Paulinho, logo nos posts que anunciam ele em um novo clube, há vários comentários que em um país sério estampariam as manchetes dos jornais. São torcedores dizendo que não querem macumbeiro no clube, fazendo chacota da fé do jogador, insultos diversos e se ele tiver em uma má fase as coisas tomam uma proporção ainda maior.
É adoecedor notar o quão a sociedade tem deturpado o que é certo e o que é errado. Não há lógica possível que faça um acusado de estupro ter defesa e um cara que quer cultuar sua fé seja atacado. Não por coincidência muitos que defendem um, são os mesmos que atacam o outro. Por que será? Por que as pessoas que se incomodam tanto com as religiões de matriz africana, são os mesmos que fingem não enxergar um cara, que teve o esperma encontrado dentro do corpo de uma menina de 13 anos, sendo contratado pelo seu clube? Me parece que vale tudo pelo resultado esportivo, menos ser do candomblé.
Estou falando de futebol, mas essa lógica consegue ser aplicada tranquilamente em qualquer esfera da nossa sociedade. O que tem de pessoas do Axé que perderam emprego, chance de ser promovida, que sofrem dentro da própria casa pela sua escolha religiosa e outras coisas mais, não está escrito. Esse caso é um pequeno exemplo de como as religiões de matriz africana são severamente perseguidas. Enquanto o racismo religioso não for duramente combatido, ao meu ver, não há lógica em chamar o Brasil de país laico.