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Lágrimas de Day McCarthy é o desespero merecido para todos os racistas

Fica a expectativa que as condenações por racismo não seja um privilégio à família Ewbank/Gagliasso

30 ago 2024 - 14h35
(atualizado às 14h42)
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Socialite foi condenada a 8 anos e 9 meses em regime fechado
Socialite foi condenada a 8 anos e 9 meses em regime fechado
Foto: Mais Novela

Para cortar qualquer tipo de possível polêmica, começo o texto dizendo que nada aqui é uma crítica ao casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, muito pelo contrário. Máximo respeito e admiração pela forma que ambos conduzem a criação dos seus filhos, principalmente suas preocupações de cunho racial. Acho também que eles podem ser um ótimo exemplo para pessoas brancas que já adotaram ou pretendem adotar crianças negras. Entender suas particularidades e promover ambientes e convívios com seus pares de raça. Contudo não dá para ignorar o fator peculiar de que no país do privilégio branco, pais brancos de crianças negras são os primeiros a conseguirem uma punição devida para as violências sofridas pelos seus filhos. País onde jovens negros são mortos por engano, presos sem provas e encarcerados em massa.

O racismo no Brasil é algo tão enraizado que muita gente acha que ser racista é comum, que faz parte da cultura brasileira e que deve ser preservada. Poder ofender uma pessoa negra pelas suas características fiscais e sociais virou, para alguns, sinônimo de liberdade de expressão. E é a partir dessa falácia que boa parte da população ainda aponta problema em condenações contra o racismo. O que, na minha leitura, é só o medo de amanhã ou depois ser ela a condenada, afinal, quem defende um racista preso, se não alguém que compactua com suas ideias? Graças ao fato de muita gente não ver racismo como um crime menor, as punições oriundas dele geralmente são brandas. Isso quando tem algum tipo de punição.

A gente vê essa mitigação com crimes raciais em diversas esferas da sociedade. Na própria rede social a ofensa racista por vezes não gera nenhum tipo de punição, mas a resposta dada a ela sim. Ou quando você posta um vídeo ou um print com elementos racistas e o próprio agressor entra com pedido para derrubar a publicação porque infringe o direito de imagem. E isto que citei acima não é o que eu acho, ou o que li, e sim o que vivi em anos de internet.

Eu fiquei bastante contente com a condenação da socialite Dayane Alcântara. Acredito que é um pequeno passo dentro da luta racial, mas também é bastante significativo, sobretudo porque gera jurisprudência, ou seja, amanhã ou depois uma outra advogada pode usar essa condenação como exemplo e tentar aplicá-la em uma outra pessoa que tenha cometido o crime de injúria racial. Fiquei muito feliz também pois foi uma condenação a um crime contra uma criança. Isso mesmo. Vemos tanta gente hoje que se diz defender criança, mas quando essa criança é vítima de racismo esses mesmos fingem que não aconteceu nada. E só quem sabe o quanto o racismo prejudica o bom desenvolvimento de um cérebro infantil dá a devida importância a crimes como esse.

Comemorações a parte, não dá para fechar os olhos para preocupação de qualquer pessoa que pensa em um Brasil sem racismo e observa esse caso. Ter pessoas brancas e famosas à frente desse marco é bastante surreal, sabe? E repito, nada contra eles. Eles fizeram o certo. O que qualquer pai e mãe fariam no lugar deles. Mas a quantidade de mãe preta que já foi esculachada com o corpo do filho ainda quente no asfalto não é brincadeira. A quantidade de famílias pretas que já fizeram protesto na pista e foram destratadas por policiais e pelo povo não tá escrito. Uma galera negra que na busca dos seus direitos, e sem dinheiro, já ouviu até deboche de advogados que, em tese, estavam ali para lutar por eles.

O que estou tentando dizer é, que bom que uma racista teve o que merecia. Que ótimo, conseguimos uma bela condenação por racismo. Que maravilha que tem pessoas brancas aliadas na causa racial. Mas não tem nada realmente bom enquanto esse tipo de conduta não se estender aos pobres. Enquanto essa condenação for exceção nenhum tipo de mudança real acontecerá. Enquanto pessoas negras dependerem da imagem de pessoas brancas para terem suas dores validadas, nada muda na lógica racista. O poder segue na mão dos mesmos. O que precisa acontecer é pessoas negras, sobretudo pobres, conseguindo esse mesmo resultado contra brancos e ricos, aí sim, poderemos começar a falar sobre mudanças que de fato irão contra o racismo institucional brasileiro.

Fonte: Luã Andrade
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