Luisa Sonza segue em busca do perdão por racismo estrutural?
Genuíno interesse ou limpeza de imagem? A pergunta que ecoa na cabeça de muitos
A cantora POP Luisa Sonza se tornou embaixadora oficial do Instituto Negras Plurais. O anúncio foi feito pelo instagram da instituição na terça-feira(3). Segundo a legenda da publicação, a cantora visitou pessoalmente o local para ver a situação na época das enchentes, ajudou de forma significativa para uma nova sede e está envolvida em projetos que beneficiarão comunidades negras e indígenas.
Há um ano mais ou menos, Luiza fechou um acordo com uma advogada para pôr fim a um processo de acusação de racismo. Sonza foi acusada de pedir para que uma mulher negra do direito fosse buscar água para ela durante um evento, provavelmente a confundindo com uma serviçal por causa de suas características físicas. Isso por si só já seria péssimo, mas a cantora conseguiu piorar a situação quando negou que tivesse sido racista. Confesso que todos têm direito ao erro e ao perdão, que nem tudo seja cancelado e nem toda agressão racista seja igual. Contudo, sobretudo quando você se diz aliada da causa racial, você cometer um ato racista e negar, você expõe a pessoa negra a violência do racismo e o rótulo de mentirosa, que não deixa de ser uma outra agressão, que junto com ela, principalmente nesses casos, possibilitar que os outros pensem que a vítima está se utilizando de algo seríssimo para ganhar dinheiro.
Não sei ao certo o porquê, mas a Luísa fez um acordo e o processo foi findado, mas o pequeno estrago a imagem já havia ocorrido e seguia sendo repercutido nas redes sociais. Lembro que quando saiu o caso da traição do chico moedas, por exemplo, vários usuarios brincavam dizendo que ele vingou as pessoas negras, que ele era um antirracista de verdade e outos gracejos nesse sentido. Esse tipo de fala sempre gerava muito engajamento e, talvez, a partir disso a assessoria da cantora buscou formas de mitigar essa imagem de racista que foi vinculada a ela.
Importante falar que isso não se resume a Luisa Sonza, muitas pessoas da mídia ao cometerem erro despertam um certo tipo de curiosidade ao tentar limpar sua imagem. Será que é um arrependimento real? Será que perdeu patrocínios? Será que é oportunismo barato?
Sendo bem sincero, meu interesse em saber a verdade ele se dissolve ainda que de forma parcial, quando vejo dinheiro entrando e sendo utilizado para melhorar a vida de pessoas em locais de vulnerabilidade. A real é que se a gente bater na porta de quem está sendo ajudado, eles tão pouco se importando do motivo da ajuda. Em um país tão racista como o nosso, que condena pessoas negras à miséria, toda ajuda é bem vinda. O que gera um certo incômodo é a síndrome de protagonista que alguns têm. Isso de fato me chateia. Usar o racismo como marketing social me aborrece, porém repito, para quem está na base sendo ajudado isso pouco importa, e por mais que me incomode isso pode ser um fator de mudança de vida para o indivíduo agraciado.
Triste de verdade é notar que para ter esse tipo de participação nas causas sociais, por vezes, é necessário acontecer uma transgressão por parte de famosos. Ninguém precisa esperar ser racista para colocar grana, tempo e amor em causas sociais. As pessoas que têm influência deveriam gastar tempo com isso por compaixão, por não querer ver pessoas sendo vítimas de racismo e sendo desassistidas por quem deveria garantir dignidade a elas. Várias ongs, institutos e associações voltadas para ajudar pessoas negras e periféricas estão fazendo malabarismo para conseguir ajudar ao próximo. E aí eu fico me questionando quantos artistas precisaram ser pegos sendo racistas para haver colaboração e atenção a essas causas? Se intitular antirracista é muito fácil e lucrativo, dificil é abrir mão do privilegio e ganhar o reconhecimento de quem faz isso pela sobrevivência e não pela imagem ou dinheiro.