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Mudança racial de uma personagem incomoda mais que o racismo

Personagens fictícios que se tornam negros incomodam, mas personagens reais que viram brancos jamais sofreram questionamentos

12 set 2022 - 14h34
(atualizado às 15h55)
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Produção tem como protagonista Halle Bailey, atriz negra
Produção tem como protagonista Halle Bailey, atriz negra
Foto: Reprodução

Na semana passada foi lançado o primeiro teaser do filme live action da Pequena Sereia. O filme tem como protagonista Halle Bailey, atriz negra, e desde o dia em que foi anunciado ainda em 2019, que ela seria a Ariel, a produção recebeu vários ataques racistas. Não foi diferente agora com o lançamento do primeiro trailer. Na manhã de hoje, 12 de setembro, o vídeo já tinha nove milhões e meio de visualizações, 344 mil likes e, impressionantes, 1 milhão e duzentos mil dislikes.

Primeiro de tudo, devemos recordar que muitas histórias de princesas foram criadas em um período onde pessoas negras eram escravizadas e nem eram vistas como seres humanos, não se falava de segregação racial, época que eram vistas como cidadãs de “terceira classe”. A Pequena Sereia, por exemplo, foi criada em 1837, na Dinamarca, país que, diferente do que muitos pensam, também usufruiu da escravização africana.

Lá a escravização acabou em 1803, 34 anos antes de o conto ser escrito, se até hoje observamos a dificuldade de pessoas em serem retratadas nas produções da indústria, imagine naquele período. 

Devemos lembrar também que mesmo após períodos como os citados acima, a indústria cinematográfica continuou colocando pessoas negras em segundo plano. O primeiro desenho com uma princesa negra da Disney, só foi lançado em 2009, 72 anos após a criação da primeira princesa.

O mais engraçado é que a mudança racial só incomoda quando escurece, porque quando branqueia, ninguém,  jamais questiona. Como no filme “O preço da Coragem” que a Angelina Jolie interpreta Mariane Pearl que é uma mulher negra, como no filme “Os 33” que a atriz Juliette Binoche interpreta Maria Segóvia que é uma chilena bem longe de ser branca, ou quando Johnny Depp interpretou "Tonto" um personagem indígena.

No Brasil tivemos um caso recente de um ator bem famoso interpretando o saudoso Tim Maia e ninguém falou um “A” sobre. Isso quando as pessoas brancas não se pintavam de negras, fazendo blackface, para interpretar pessoas negras de forma jocosa com intuito de humilhá-las e ridicularizá-las. E esse processo de embranquecimento aconteceu também com figuras históricas como Jesus, Cleópatra e Machado de Assis.

Eu sou a favor da saída da Halle Bailey como Ariel se no lugar dela colocarem uma sereia de verdade. E se a Ariel negra destruiu a sua infância, lembre-se que sua infância já passou tem pelo menos 20 anos, logo não dá para ser destruída. Brincadeiras à parte, acredito que colocar personagens negras, sobretudo em conteúdos infantis, é super importante para construir autoestima em crianças negras.

Cinema, novelas, séries, etc., tem um grande poder na construção de valores sociais. Representatividade importa, sim, e quem discorda disso são as pessoas que sempre se viram representadas e não tem a menor experiência de como é não se ver em nada que consome. Logo, o racismo dessa galera, disfarçado de apego personagem fictício, não é mais importante do que reparações históricas.

Fonte: Redação Nós
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