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Mulheres podem, e devem, temer homens em quaisquer circunstâncias

A violação da mulher é fruto de toda uma cultura que valida certos comportamentos masculinos que culminam em atitudes criminosas contra elas

19 jul 2022 - 05h00
(atualizado às 17h21)
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Anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso após ser flagrado abusando de uma paciente durante uma cesariana.
Anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso após ser flagrado abusando de uma paciente durante uma cesariana.
Foto: Redes Sociais/Reprodução

Nos últimos dias um crime bárbaro – que foi filmado, ganhou repercussão nacional. O vídeo mostra o anestesista Giovanni Quintella Bezerra, estuprando uma mulher durante uma cesariana.

Após o flagrante, o médico foi preso e o caso ganhou enorme repercussão na mídia e nas redes sociais. Este crime trouxe para a lembrança dos brasileiros que as mulheres podem, e devem, temer homens em quaisquer circunstâncias. Trouxe também à tona o fato de não existir classe, intelectualidade ou profissão, quando o assunto é estupro. 

Esta é mais uma prova de como a cultura do estupro atravessa a todos homens cisgêneros independente de suas particularidades.

Esse caso também é importante para refletirmos sobre a imagem que a sociedade racista geralmente atribui ao estuprador. O mito do estuprador negro, que paira no inconsciente coletivo desde a época da escravização, é constantemente quebrado por situações como essa e ainda assim, a população de forma geral acredita que certos crimes só são cometidos por pessoas negras e pobres. 

Pessoas essas que, quando cometem qualquer tipo de contravenção, e às vezes até mesmo sem cometer, são severamente punidas enquanto pessoas brancas e ricas são agraciadas com delicadezas e regalias.

A afirmativa acima se faz ainda mais consistente quando se pega esse relato de um suposto vizinho do anestesista: "ele era rico, tinha uma condição boa, uma namorada linda. Ele tinha tudo, não dá para entender”. Ainda hoje, a sociedade tem dificuldade de admitir que todos os homens estão absorvidos pelo machismo e sexismo que facilitam a violação do corpo da mulher sem que haja consequências mais duras.

Outra coisa que facilita muito as violações aos corpos femininos é a certeza da impunidade, sobretudo se a vítima for negra e o criminoso for branco. Ainda nesse sentido, e voltando para o caso, um fato me deixou extremamente atônito. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, pediu sigilo no processo e fixou indenização em favor da vítima, em valor não inferior a 10 salários mínimos. Como assim o valor mínimo são apenas 10 salários mínimos? Como o estado acha plausível que tal violação incalculável deva ter apenas 10 salários como punição mínima? 

Eu não consigo dizer qual seria o valor mínimo a ser pago a uma gestante, que no possível momento mais importante da sua vida, teve seu corpo violado pelo profissional que, em tese, deveria estar ali para conduzi-la de maneira indolor, e não causando uma dor que ela jamais irá esquecer.

A abordagem da polícia ao estuprador é algo que também chamou bastante atenção, principalmente pelo assassinato do Genivaldo há pouquíssimo tempo. De um lado um homem negro com problemas psiquiátricos abordado por estar sem capacete e na sequência assassinado de forma perversa por agentes da lei, do outro, um homem branco e rico conduzido com toda cautela e cuidado após estuprar uma mulher durante o parto.

Nesse curto tempo de investigação, Giovanni Quintella já está sendo investigado por outros 30 casos de estupro, que segundo a delegada do caso, Bárbara Lomba, algumas dessas possíveis vitimas dele já foram identificadas. O que era só uma questão de tempo, né? 

Para chegar ao ponto das enfermeiras gravarem a cena, muito provavelmente não era a primeira vez que elas presenciaram aquela cena, e isso levanta outros questionamentos. Será que já havia tido denúncias sobre esse criminoso? Será que as enfermeiras tiveram medo de ir denunciar sem provas concretas com receio de serem rechaçadas. Será que estavam fazendo “olho grosso” para esse tipo de conduta execrável?

Por fim, é importante ratificar que ele não é louco. Afirmações como essas além de serem capacitativas, tiram a culpabilidade do indivíduo em questão. A violação de mulheres não é fruto de problemas psicológicos. E sim de toda uma cultura que valida certos comportamentos masculinos culminando em atitudes perversas e criminosas contra elas. 

Quem nega a vigência dessa realidade está totalmente desconexo do dia a dia de uma mulher, ou talvez esteja se beneficiando disso de forma covarde, logo não tem motivação nem intuito de pôr fim a isso.

O que leva um homem a violentar uma mulher?:
Fonte: Luã Andrade
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