O Afropunk Brasil traz em seu line-up ainda mais cultura negra brasileira
O evento foi alvo de críticas de alguns desavisados que só conseguem pensar em cultura negra estadunidense
O festival Afropunk, que celebra 20 anos de história, ocorrerá na cidade de Salvador no mês de novembro. O evento foi alvo de várias críticas, pois a grade de programação exclui artistas estrangeiros e valoriza a cultura negra brasileira.
Pelo quarto ano consecutivo, o festival Afropunk, que comemora 20 anos de história, será na cidade de Salvador. O evento liberou a grade de programação do festival, com previsão para acontecer no mês de novembro. Muitos estranharam a falta de cantores estrangeiros, algo comum em anos anteriores, além de várias críticas veladas a outros cantores que fogem desse ideal americanizado de cultura negra.
Todo ocidente é constantemente bombardeado por cultura estadunidense, seja na política, cinema, costumes, e na música não é nada diferente. É corriqueiro vermos em determinados nichos uma grande quantidade de pessoas falando sobre o funk estadunidense com orgulho da cultura negra, enquanto menospreza o funk carioca. Vemos também pessoas que entendem a importância da música gospel negra dos EUA, enquanto ignora personalidades negras brasileiras com destaque similar. Esse tipo de conduta é recorrente e acontece muito mais do que a maioria de nós imagina.
Eu amo MPB, tá? Sou fã de nomes como Gil, Djavan, Emílio Santiago, Caetano e Chico. Contudo, acredito muito que a música popular brasileira é o samba, e acredito também que quando pensar de maneira mais regionalizada, a música popular brasileira pode ser o arrocha, pode ser o piseiro, o tecnobrega e qualquer tipo de produção cultural expressa pelo povo dessa nação.
A gente vê cultura no que é exportado, por ter sido bombardeado pelo ideal de "bom" do que é de fora, enquanto mitigamos o que é produzido no nosso país. Gostando ou não é a produção do povo brasileiro.
Uma das coisas que me fez escrever sobre isso foi ver como essa galera que idolatra a cultura negra americana fez pouco caso da lenda do arrocha Silvanno Salles, anunciado no line-up do Afropunk.
Esse nome, junto com a falta de gringo, foi o que mais cutucou uma galera, sobretudo quem desconhece sobre cultura negra brasileira. Eu poderia até falar que ele é um cara negro e PcD, no corre há anos, mas nem vou chegar aí. Até porque a colaboração de Silvanno, outros nomes como Nara Costa, Novo Ton, entre outras bandas antigas de arrocha, pavimentaram o caminho para que hoje houvesse Pablo e aqueles sertanejos misturados com arrocha. Isso é uma coisa que ninguém fala e pouco se dissemina sobre.
O que estou querendo dizer é: tudo bem quem ache que o Afropunk deveria trazer artista estadunidense, porque é um festival que nasceu lá, etc. Mas, também não podemos esquecer que a regionalidade também faz parte da construção de qualquer evento. E o que o Brasil mais tem é cultura negra, com zero necessidade de importar qualquer coisa.
Samba é negro, axé é negro, pagode é negro, partido alto é negro e vários outros estilos de música são originados em cultura negra.
E nem vou falar em retorno financeiro do evento ou da importância de termos um festival que contempla nossa raça. Meu foco aqui é meio que decolonial. Podemos, sim, olhar, consumir e admirar o que rola lá fora, mas sem menosprezar e mitigar a cultura negra brasileira.
Não tenham dúvida, se caso toda essa produção cultural negra brasileira fosse produzida em uma país como o Estados Unidos, hoje teríamos metade o line-up do Afropunk tocando no mundo todo e em grande escala.