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O filme "Barbie" só incomoda homens de masculinidade frágil

Diferente dos meus pares de gênero, eu gostei do filme e me vi em algumas das caricaturas propostas

27 jul 2023 - 10h29
(atualizado às 10h34)
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Se você não é um cara mimizento, que acredita que o feminismo quer acabar com os homens, e que entende as questões patriarcais, a diversão estará garantida em "Barbie"
Se você não é um cara mimizento, que acredita que o feminismo quer acabar com os homens, e que entende as questões patriarcais, a diversão estará garantida em "Barbie"
Foto: Reprodução/Facebook/Barbie_the_movie

Começo o texto falando que eu entendo como o capitalismo e os produtos das indústrias culturais vêm se apossando de pautas sociais como feminismo e racismo para ganhar dinheiro. Contudo, compreendo também como os meios de massa são importantes para gerar percepções na sociedade, sobretudo no público infantojuvenil e acredito que temos que disputar as narrativas dentro desse nicho.

A partir de agora, esse texto CONTÉM SPOILER DO FILME, então pense bem para seguir lendo!

Apesar da protagonista ser uma mulher padrão, que no filme é chamada de Barbie estereotipada, também tem mulheres negras, inclusive a presidenta e a vencedora do Nobel, mulher trans, mulher gorda, amarela, PcD, ou seja, tem diversidade. Inclusive o fato da mulher branca, loira e magra ser a protagonista iria ser um ponto de crítica, mas eles resolvem isso de forma aceitável no final do filme. Em determinado momento, tem uma piada muito boa chamando a Barbie de 'White Savior', pena que na minha seção eu fui o único que entendi.

Fato é que o filme tem incomodado uma parcela dos homens, e isso acontece porque no mundo fictício da Barbie as coisas são opostas ao que acontece na sociedade real. As mulheres, ou melhor as Barbies, comandam tudo. Estão em todos os cargos de poder, são elas que tomam as decisões, são elas as donas das propriedades privadas. Diferente dos Kens, que estão ali só para enfeitar a paisagem e são diferenciados a partir de qual Barbie eles fazem par.

Interessante pensar que se você não é um cara mimizento, que acredita que o feminismo quer acabar com os homens, e que entende as questões patriarcais, a diversão estará garantida. Tem uma parte muito boa que as Barbies fingem interesse no papo dos Kens e os assuntos abordados por eles são bem aqueles heterotop, que querem parecer inteligente dissertando sobre o Poderoso Chefão, investimento e photoshop.

A maioria das reclamações são sobre a representação infantilizada, rasa e limitada. Porém essa mesma galera nunca se incomoda com as dezenas de filmes que são lançados todos os anos onde as mulheres cumprem esse mesmo papel. E, diferente deste filme, que é de forma escrachada para deixar bem nítida a intenção da autora, em filmes onde mulheres cumprem o mesmo papel, as coisas são feitas de forma maquiada dando a entender que o papel da mulher é realmente aquele.

Eu não achei o filme uma maravilha, mas acredito que homens possam passar a pensar sua masculinidade a partir dele. Pensar outra perspectiva que não o machão sem sentimento que acha que tudo se resolve na porrada. Até porque esse tipo de pensamento faz com que homens, sobretudo negros, liderem os índices de suicídio, mortes violentas, complicações por não cuidar corretamente da saúde e etc.

Para pessoas que estão ligadas em questões sociais, não tem nada de novo. Mas é um ótimo filme para levar sua prima de 12 anos que não tem uma percepção de gênero aguçada, seu irmão que já está sendo absorvido pelo ideal branco de masculinidade, até mesmo aquela sua amiga religiosa que acredita em submissão feminina pode ter um despertar com os paralelos feitos durante o filme. Ele não irá substituir um livro de Bell Hooks, mas pode fazer com que as pessoas se despertem para querer lê-lo.

Fonte: Redação Nós
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