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O filme Capitão América 4 dá o protagonismo a Donald Trump

A política dos EUA interfere nos seus produtos da indústria cultural e é isso que vemos no filme da Marvel

14 fev 2025 - 13h48
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Disney, detentora da Marvel, anunciou essa semana que alterou suas iniciativas de inclusão.
Disney, detentora da Marvel, anunciou essa semana que alterou suas iniciativas de inclusão.
Foto: Divulgação

Antes da estreia do filme Capitão América: Admirável Mundo Novo já havia um desânimo por parte de pessoas que gostam de cinema, são progressistas e entendem como funciona a indústria do entretenimento estadunidense. Isso porque desde que Trump foi eleito estamos vendo várias empresas excluindo pautas identitárias da sua agenda e cortando todo investimento que havia nesse sentido. Com a Disney, dona da Marvel, não seria diferente, e isso fica muito nítido no filme do Capitão América preto.

O filme começa mostrando a posse do presidente que é um ex militar conhecido por ser contra super heróis, querendo resgatar os Estados Unidos, Tirar da mão de quem tem super poder e voltar para mão dos “americanos”, uma energia make america great again. Esse atual presidente, enquanto era general do exército, teve problemas com o antigo capitão americano e o atual, que na época era o braço direito do Steve Rogers (capitão américa antigo). Logo, o trailer me deixou com a sensação de que o filme seria um paradoxo do homem negro trabalhando para o presidente racista. Tão racista, que perseguiu e manteve preso Isaiah. A pessoa que deveria ter sido o primeiro capitão américa, recebeu o soro do super soldado e foi descartado por ser um homem negro.

O primeiro indício que tive que a demanda da Disney havia mudado foi que, em nenhum momento do filme, diferente da série do falcão e o soldado invernal, fica nítido a problemática do capitão america ser negro. Eles flertam em falar, os negros se chamam de irmão, mostram cumplicidade e empatia entre as pessoas negras, mas tudo fica subentendido. Nada referente a raça é amplamente verbalizado. Tem até uma parte que o Sam Wilson (capitão américa) fala que pessoas como ele não podem errar, que ele carrega esse peso, mas não explicita a questão racial como, ao meu ver, deveria ter sido feito. Digo isso não só do ponto de vista ideológico, mas também pelo fato de toda a trama acerca do Sam Wilson ser o capitão américa ter sido pautada pela questão racial. Inclusive na cena quando Steve Rogers entrega o escudo para ele, no último filme dos vingadores é verbalizado o fato dele ser uma pessoa preta poder complicar a aceitação das pessoas e do estado.

Eu gostei do filme porque ele é inclusivo, afinal começou a ser gravado muito antes da eleição dos estados unidos, pessoas pretas, mulheres, latinos tendo protagonismo e homens brancos como coadjuvantes. Muita gente achou ruim porque teve muita regravação, falhas de roteiro, blur (filtro que embaça o fundo) em excesso e uns efeitos especiais que, nitidamente, foram renderizados em cima da hora. Para alguns foi graças a greve dos roteiristas, mas talvez tenha ocorrido pelo trumpismo que aflorou nos EUA no ano passado e fez o estúdio repensar a narrativa da história.

O presidente do filme que, é o Hulk vermelho, ao meu ver, era para ser o vilão. O roteiro original era para o Sam ser perseguido por ele, provar que ele conspirava internamente para fomentar guerra, tinha base secretas com pesquisa sigilosa e o capitão américa ia trazer isso a público e na hora o presidente ser preso ia virar o Hulk, não tenho a menor ideia de como ele seria derrotado e no final seria preso e o capitão america negro, vitima de racismo pelo estado estadonidense, teria salvado o mundo de guerra, de um megalomaniaco e assim cair na graças do povo e sendo engolido pelos racistas.  Mas não foi isso que ocorreu.

O filme tem 20 minutos muito bons, pegada investigativa e espionagem. Contudo depois disso que, me parece, é quando o roteiro começa a ser afetado e começa as regravações, vai tudo por água abaixo. A trama vai inocentar e humanizar o presidente que é uma alegoria ao Trump, até o fato dele ser o Hulk vermelho e a brincadeira do Donald Trump ser laranja, perde a graça e a história vira um ciclo de redenção ao presidente dos EUA, tirando até o brilho do Sam Wilson.

Por mais que muitos não gostem dessas buscas de inclusão em produtos da indústria cultural, é impossível negar que os meios de massa interferem na percepção do público em geral em relação a várias questões. A prova disso é como a Marvel sacrificou esse filme para mudar o tom nos próximos filmes desse universo. Não por coincidência a Disney, detentora da Marvel, anunciou essa semana que alterou suas iniciativas de inclusão, uma das mudanças é que o critério de diversidade e inclusão que era usado para avaliar os executivos, foi substituído por estratégia de talentos, ou seja, coloca o que vende e em uma sociedade racista o que vende é branco.

Capitão America 4 tinha tudo para ser um grande filme, marcando uma nova fase da Marvel, anunciando a volta dos vingadores, fechando o filme com o Sam Wilson gigante e preparado para liderar este novo ciclo . Porém, graças a essa ojeriza a diversidade, temos um filme ruim, que perde todo seu apelo racial e inocenta um dos vilões mais antigo do quadrinhos. Se esse filme for um prelúdio do que ocorrerá nos próximos anos com a indústria cultural, promovendo a desigualdade e comportamentos retrógrados, me negarei a consumir esse tipo de “cultura”, afinal, se não me vejo, não consumo.

Fonte: Redação Nós
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