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Robinho usa carta do racismo para se salvar e desrespeita negros

Jogador quer justificar sua condenação por estupro coletivo e parece querer apoio popular alegando ter sido vítima de racismo na Itália

20 mar 2024 - 14h53
(atualizado às 15h23)
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Robinho alegou ser vítima de racismo na tentativa de justificar sua condenação por estupro coletivo na Itália
Robinho alegou ser vítima de racismo na tentativa de justificar sua condenação por estupro coletivo na Itália
Foto: Reprodução/Instagram

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julga nesta quarta-feira, 20, o pedido da Justiça italiana para que Robinho, ex-jogador do Santos e da seleção brasileira, cumpra pena de estupro coletivo aqui no Brasil. O crime ocorreu na Itália, em 2013, e agora, 11 anos depois, será julgada a possibilidade da condenação ser transferida para o Brasil, já que nosso país não extradita seus cidadãos natos.

Em manobra que aparenta um certo desespero, Robinho deu entrevista essa semana para Rede Record falando sobre o caso. O jogador parece ter sido aconselhado a colocar a versão dele dos fatos na semana do julgamento. Isso talvez não seja coincidência. O ex-jogador pretende puxar a opinião popular para o lado dele após seus áudios grotescos serem divulgados, através do podcast Os Grampos de Robinho.

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Eu sou o primeiro a defender gente preta aqui. Inclusive, já escrevi sobre como homens negros, ao longo da história, foram condenados por falsas acusações de mulheres brancas e etc. Por outro lado, eu também já escrevi sobre interseccionalidadee, já falei sobre como o capital interfere diretamente nas leituras da justiça sobre o indivíduo, assim como também tenho total consciência de que homens negros podem, e são, extremamente nocivos às mulher, independente da cor. Aqui mesmo na coluna já falei sobre outros casos nesse sentido.

Robinho, que é bolsonarista - e isso é importante ser dito porque sabemos quais ideais cercam o bolsonarismo -, tem até foto disfarçado na frente de quartel. Ele resolveu usar a carta do racismo para tentar descredibilizar a Justiça italiana. Ele falou sobre outros jogadores negros que cansaram de sofrer racismo na Itália e, segundo ele, essa mesma justiça que o condenou não fez nada.

Eu entendo que uma boa mentira sempre tem elementos verdadeiros. Não sei se todos concordam com isso, mas me parece que a fala de Robinho tem um pouco desse elemento. E, podendo parecer um pouco soberbo, acredito que a fala não tenha sido por acaso. Talvez a intenção dele fosse que pessoas como eu escrevessem dizendo que ele tem razão e mudasse a perspectiva do tema dentro de um grupo do qual ele, nem de longe, faz parte.

Faz sentido ele dizer que a Justiça italiana é racista? Faz! É verdade a omissão dessa mesma Justiça com casos de racismo. É bem provável que os mesmos que o condenaram nunca ligaram para as acusações de racismo. Ele tem 100% razão nisso. Mas sabe o que isso muda na prática real? NADA. O brasileiro entra em contradição várias vezes durante os dias em que foi grampeado, faz piada sobre o caso, ri de coisas indescritíveis. É um show de horror.

Usar a carta do racismo, que é uma questão que, talvez, ele ache que é 'mimimi', é um sinal de desrespeito com a causa e de conveniência extrema. Quantas vezes vimos Robinho levantar a bandeira do antirracismo antes disso?

Isso, para mim, é muito perigoso, em vários níveis diferentes. Que exemplo esse caso passa para a geração mais jovem que o acompanha? O recado passado me parece ser “vocês podem cometer crimes e depois falar que foi racismo porque aí tudo será mitigado”. Isso é um tiro no pé da causa que, com frequência, já é desacreditada, sobretudo no meio do futebol.

Durante a entrevista, ele tenta falar também sobre xenofobia, fala sobre perdão, que hoje é cristão e não tem o mesmo linguajar da época, questiona várias vezes a vítima, se coloca no local de vítima de uma suposta extorsão, que muitas das suas falas foram sobre pressão de pessoas que se aproximam de jogador por interesse. Resumindo: foi o típico discurso de quem quer mudar a opinião pública. Apesar da  apresentadora Carolina Ferraz questioná-lo de maneira direta por vários momentos, os cortes e a forma de algumas colocações me pareceram orquestrados, mas pode ser só impressão, claro.

O fato de ser negro, pai de família, cristão e qualquer outra coisa não impede homem nenhum de ser um estuprador. Usar a carta do racismo nessa situação só mostra o pouco respeito que Robinho tem pela causa.

Por fim, espero que o STJ coloque Robinho para passar seus nove anos atrás das grandes porque, nessa altura do campeonato, não só vai mostrar que estupro é inadmissível em qualquer lugar do mundo, como irá mostrar também que usar pautas sérias para tentar se livrar de um crime hediondo repleto de provas não é caminho para se livrar da justiça.

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Fonte: Redação Nós
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