Zumbi dos Palmares é difamado por maneira de lutar contra escravagistas
A tentativa de sujar a imagem do símbolo da resistência negra consiste no medo da forma eficaz com que ele combatia a escravização.
Pela primeira vez, o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, foi feriado em todo o território nacional. Muitas comemorações e homenagens foram feitas. Uma delas foi a inauguração da estátua do Zumbi dos Palmares na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Um monumento de quase quatro metros de altura em uma cidade que, diferente do que muitos imaginam, tem um histórico de luta racial bem longo e conciso.
A partir do momento em que a notícia da inauguração foi se disseminando, várias críticas à iniciativa gaúcha foram feitas. Todas muito descabidas, mas a principal delas era em relação à forma de resistência de Zumbi. Para se fingirem de bem-intencionados, os covardes usavam a imagem de Luiz Gama para tentar mitigar os feitos de Zumbi. Não me entendam mal, Luiz Gama é um nome importantíssimo na luta pela abolição da escravização africana no Brasil. É dele a frase "Todo escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata em legítima defesa". Contudo, o que me parece é que parte dessa animosidade contra Zumbi vem pela sua forma de agir.
Para as pessoas que fazem esse tipo de comparação, Gama era apenas um burocrata do direito, enquanto Zumbi era o guerrilheiro que lutava de forma física e organizada para libertar escravizados de seus cativeiros e trabalhos forçados. Ele invadia as fazendas, matava os carrascos que escravizavam, se necessário, e fortalecia o Quilombo dos Palmares com as pessoas que libertava. Quilombo esse que era super organizado, equipado e armado.
O que parece é que há uma tentativa dos conservadores brasileiros de manchar a imagem de Zumbi com medo de que a referência da luta negra seja uma pessoa que ia para o combate. Eles têm medo que a população se inspire nos feitos de Zumbi e passe a ir para as ruas e enfrentar de maneira mais corporal todos os desmandos que acontecem com a população negra brasileira. Os retrógrados preferem lidar com burocratas do que com quem luta de forma física. Até porque o racismo institucional dá muita vantagem a eles quando falamos em decisões tomadas com base na caneta.
Com isso, não estou falando que devemos pegar em armas e tomar o poder, mas penso que ir para as ruas, parar o trânsito, fazer trabalho de base e outras posturas nesse sentido, faz com que os conservadores saiam da sua zona de conforto e temam os resultados que comportamentos como esses possam acarretar. Não que não haja valor nas lutas que não são físicas, tá? O racismo tem que ser combatido em todas as esferas, mas paralisações, greves e queimar uns pneus, na maioria das vezes, entregam mais resultados do que um texto como este, por exemplo.
A tentativa de apagar Zumbi não é de agora e seguirá acontecendo. Vão dizer que ele escravizava negros, vão dizer que ele era violento, um tirano dentro do quilombo e até que ele não existiu. A verdade é que essa tentativa de deturpar a imagem de Zumbi é uma forma de tirar o “mito” que fortalece a ideia de luta. Tirar a identidade de, talvez, o maior nome de luta e resistência que temos. Pode parecer bobagem, mas não é. Destruir a imagem de Zumbi é destruir uma das identidades da luta contra o racismo no Brasil, e é isso que eles querem: menos luta e mais alienação da população negra.