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Chance de gravidez tem a ver com idade, não com forma física

Depois dos 50 anos, a probabilidade de uma mulher engravidar naturalmente é menor que 0,5%, apontam estudos

22 set 2022 - 14h23
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As declarações de Claudia e Jarbas, dadas logo que a notícia foi divulgada, deram a entender que a gravidez pegou o casal de surpresa.
As declarações de Claudia e Jarbas, dadas logo que a notícia foi divulgada, deram a entender que a gravidez pegou o casal de surpresa.
Foto: @claudiaraia / Instagram / Estadão

O anúncio da gravidez de Claudia Raia aos 55 anos deu o que falar nesta semana. Por meio de suas redes sociais e ao lado do marido, o ator e bailarino Jarbas Homem de Mello, de 53 anos, a atriz contou que o sonho do casal havia se realizado. Claudia já é mãe de Enzo e Sophia, da relação anterior com o ator Edson Celulari, com quem ficou casada por 17 anos. 

As declarações de Claudia e Jarbas, dadas logo que a notícia foi divulgada, deram a entender que a gravidez pegou o casal de surpresa. Portanto, teria sido espontânea, não planejada e o casal não teria recorrido a métodos de reprodução assistida como, por exemplo, inseminação artificial, fertilização in vitro e ovodoação. 

A gravidez de Claudia foi saudada por outras celebridades e não custou a aparecer declaração de famosas dizendo como era maravilhoso viver numa época em que se pode escolher a idade para se tornar mãe. Calma, porque a história não é bem assim. 

A atriz e o marido podem não querer revelar detalhes sobre a gravidez, mas é preciso ter conhecimento que uma gravidez espontânea aos 55 anos é algo raríssimo na vida de uma mulher. Se ela estiver na menopausa, a probabilidade é nula. “Dependendo dos estudos, as chances ficam entre 0,03% e 0,3%. Sempre é menor que 0,5%”, afirma Ana Paula Aquino, médica especialista em reprodução assistida da Clínica Huntington que, no ano passado, realizou mais de 8 mil procedimentos em pacientes que foram em busca de tratamento para engravidar.  

“Meu receio é que uma mulher que esteja tentando engravidar sem sucesso pense que, se a Claudia  Raia conseguiu, ela vai conseguir também, perdendo um tempo precioso sem procurar auxílio”, diz a médica. “Mesmo que esteja em forma, que cuide da alimentação, seja saudável, o que determina as chances de gravidez é a idade”, conta Ana Paula Aquino. Quanto mais velha, menor a qualidade e a quantidade de óvulos de uma mulher.

Moral da história: nossa relação com a idade mudou, mas “os ovários não entenderam a mudança”, lembra a médica. A seguir, você confere mais trechos da entrevista com Ana Paula Aquino, especialista em reprodução assistida.  

Gravidez tardia e congelamentos de óvulos

“Recebo aqui muitas mulheres com 38 anos, 39 anos, que querem congelar o óvulo porque estão solteiras, porque priorizaram a carreira ou estavam num relacionamento que terminou. Na consulta, descobrem que a quantidade de óvulos não é tão grande assim, descobrem que a chance de gravidez já é menor. Elas costumam dizer que se tivessem sido alertadas por um ginecologista aos 32, 33 anos, tinham procurado congelar os óvulos antes. Acho que temos que rever a cultura do ginecologista. A abordagem sempre foi a seguinte: não engravidar na adolescência, engravidar só quando tiver vontade, usar anticoncepcional. Isso tudo é muito importante e continua valendo. Mas o ginecologista deve perguntar à paciente se ela quer engravidar e quando. Se quiser ser mãe depois dos 40, é bom pensar que a qualidade do óvulo pode não estar tão boa. Então, quando ela estiver próxima dos 35 anos, sem planos de gravidez, ela deve pensar em congelar, porque a qualidade de óvulo cai muito depois desta idade”, explica a médica.

Gravidez por ovodoação

"A ovodoação é um modo de engravidar digno e que traz muito resultado. Em mulheres acima de 50 anos, com uma chance de gravidez muito baixa, menor que 0,5%, quando faço ovodoação, aumento a probabilidade de uma gravidez para 50, 60%. Isso porque os óvulos que a gente usa são de mulheres com menos de 35 anos. Com a ovodoação, as chances são sempre as mesmas, entre 50 e 60%. A idade da mulher que vai receber o óvulo doado não interfere em nada porque as probabilidades de uma gravidez estão relacionadas à idade do óvulo e não do útero. Quem assumiu recentemente que engravidou por ovodoação foi a atriz Viviane Araújo e achei brilhante ela assumir. Você não é mais, ou menos mãe por causa disso. Mas entendo não querer contar. Não é fácil. Acho que o problema para mulher é mais o medo do julgamento do que ela aceitar isso naturalmente. A sociedade é cruel, a gente não faz bullying só quando é criança".

O útero não envelhece como o óvulo

"Se a mulher estiver na menopausa e quiser engravidar com óvulos doados, não tem problema. Através de hormônio, a gente consegue fazer com que ela menstrue artificialmente. Ela não está ovulando. O hormônio é usado para deixar o endométrio espesso, gordinho, para que a gente possa colocar o embrião lá dentro, sem problema nenhum".  

O espermatozoide do homem também perde qualidade

"Tem perda de qualidade principalmente depois dos 45 anos. Neste semana, saiu uma nova norma do Conselho Federal de Medicina para tratamento de reprodução assistida. Para mulher, é permitida a ovodoação até os 37 anos. Para o homem até aos 45 anos porque, depois disso, há uma perda de qualidade. Mas ele não para de produzir espermatozoide com a idade. Ele não entra na menopausa como a mulher e fica com zero espermatozoide. 

A cada 3 meses, o homem está fabricando uma nova leva de espermatozoides. Apesar de perder qualidade ao longo do tempo, o espermatozoide é novo. Com a mulher isso não acontece. Ela já nasce com todos os óvulos. Por isso que, à medida que eles vão envelhecendo, há mais risco de doenças genéticas, entre elas a síndrome de Down. Um óvulo mais velho traz mais probabilidades de u ma alteração genética. Não que isso vá acontecer sempre, mas a probabilidade é maior que em uma mulher mais nova".

Fonte: Redação Nós
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