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Como Maria Bruaca, mulheres devem buscar seus direitos

Personagem de Pantanal conta com rede de apoio para ir em busca daquilo que lhe é de direito

30 ago 2022 - 11h00
(atualizado às 11h11)
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Quantos Tenórios pelo Brasil afora acham um acinte quando suas ex-mulheres exigem o que está assegurado em lei?
Quantos Tenórios pelo Brasil afora acham um acinte quando suas ex-mulheres exigem o que está assegurado em lei?
Foto: Mais Goiás

"As mulheres uma hora ou outra têm que acordar para vida", diz Mariana (Selma Egrei) a um incrédulo Tenório (Murilo Benício) ao saber que sua ex-mulher Maria Bruaca (Isabel Teixeira) vai exigir na Justiça tudo o que lhe é de direito. Revoltado com a atitude da ex-mulher, Tenório qualifica como "um acinte" o fato de Bruaca cobrar parte de seus bens. "Vê se pode", diz o fazendeiro que enriqueceu com a grilagem de terras. 

Quantos Tenórios pelo Brasil afora acham um acinte quando suas ex-mulheres exigem o que está assegurado em lei? Assim como Maria Bruaca, quantas mulheres temem confrontar seus maridos por medo de represálias? Como disse a personagem da novela, "a fera acuada mostra os dentes". Ela tem motivos para desconfiar do homem com quem passou 30 anos de sua vida, humilhada e aprisionada numa relação abusiva.

Nestes momentos, a ficção se torna um meio poderoso para esclarecer questões  junto ao grande público. Nas cenas em que Maria Bruaca é aconselhada por personagens como Filó (Dira Paes) e Irma (Camila Morgado) ou pela advogada contratada para defendê-la, os diálogos vêm cheios de informações que funcionam como um serviço às mulheres. 

Em uma dessas conversas, Maria Bruaca descobre que existem muitas formas de violência contra a mulher, das quais ela foi vítima, embora não tivesse ainda sofrido uma agressão física.  

Uma delas é a violência psicológica, que consiste em atitudes como ridicularizar, humilhar, insultar, até mesmo chantagear a mulher. Nada mais sintomático dessa violência do que apelidar a mulher de Bruaca e insultá-la a todo momento usando termos como burra, idiota, etc. Outra forma é a violência moral, em que o agressor difama, calunia e comete injúria contra a vítima. 

O Tenório de Pantanal também fala com frequência que a companheira tem que servi-lo na cama. No entanto, forçar a mulher a transar, coagi-la a ter relações sexuais, ou impedir que faça uso de métodos contraceptivos resulta num outro tipo de agressão, classificada como violência sexual.  

Como o ex-marido de Bruaca representa um "combo do agressor", seu comportamento em querer se desfazer dos bens rapidamente para a ex-mulher sair do casamento sem nada, impedindo que tenha acesso aos recursos para sobreviver, caracteriza no que a lei chama de violência patrimonial. 

Nos próximos capítulos, a saga de Bruaca deve evoluir com mais violência. Desta vez, física. O triste é que o desenrolar da trama se baseia na mais pura realidade. 

O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em junho de 2022, três mulheres morrem por dia no Brasil por feminicídio. 

Ou seja, morrem pelo fato de serem mulheres. Em mais da metade dos casos, o assassino é um homem insatisfeito com o fim da relação.  

Romper com o ciclo de violência, através de denúncias e do afastamento do agressor, é a atitude recomendada. Na novela, Maria Bruaca pode se abrigar em um lugar seguro, contando com uma rede de apoio, sobretudo das mulheres da casa do personagem de José Leôncio (Marcos Palmeira).

Na vida real, há ainda um longo caminho a ser trilhado. Segundo levantamento do IBGE, apenas 7% das cidades brasileiras têm delegacias especializadas no atendimento de mulheres. Outros serviços como o Ligue 180 e casas de acolhimento dependem de recursos federais. A verba destinada a esses serviços caiu em 2022, de acordo com os números do Inesc, Instituto de Estudos Socioeconômicos

É preciso que haja uma ampliação nos serviços destinados ao atendimento de mulheres vítimas da violência de gênero. As vítimas não podem contar apenas com a sorte de cruzar pela frente com gente disposta a ajudar, tal qual na ficção. Nessas horas, uma rede de apoio estruturada garante o básico. Garante que a mulher se reconheça como uma pessoa que tem direitos, inclusive o de querer estar sozinha, bem distante do companheiro abusivo e de fazer o que quiser da sua vida.

Fonte: Redação Nós
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