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Jane Birkin fez do tempo seu aliado

Atriz franco-inglesa que morreu aos 76 anos se manteve criativa e relevante até seus últimos anos de vida

17 jul 2023 - 15h13
(atualizado em 26/10/2023 às 17h20)
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A notícia da morte de Jane Birkin neste domingo, chegou acompanhada das icônicas fotos da atriz e cantora ao lado do compositor Serge Gainsbourg, de quem foi musa e companheira durante 12 anos. O casal marcou a cultura dos anos 1970. O mundo não foi mais o mesmo após o dueto sussurrante protagonizado por ela e Gainsbourg na canção "Je t'aime… moi non plus"(1969). A música era a expressão sonora das liberdades experimentadas no final dos anos 1960 e foi um sucesso no mundo todo. Aqui entre nós, o hit embalava festinhas adolescentes quando a pista era tomada pela sessão de 'música lenta'. Era o momento de saber se o crush também estava a fim de você. Não é exagerado dizer que os gemidos de Birkin e Gainsbourg fizeram parte do imaginário de uma geração de jovens no mundo todo. 

Jane Birkin
Jane Birkin
Foto: Reprodução/Instagram/@janebirkinoff

No entanto, a cantora e atriz foi muito mais do que a companheira de Gainsbourg. Na manhã seguinte à morte de Birkin, o jornal "Le Parisien" chamou atenção de que estava mais do que na hora de reconhecer a grande artista que Birkin havia sido. Portanto, as homenagens deveriam se dedicar a ela, e apenas a ela, em imagens em que aparecesse como a única estrela. É preciso lembrar que ela esteve em mais de 70 filmes como atriz e teve duas dezenas de discos lançados. Birkin não se limitou a ser a musa de Gainsbourg ou a mãe da Charlotte (do relacionamento com Gainsbourg) e de Lou Doillon (do casamento com o diretor de cinema Jacques Doillon), ambas cantoras e atrizes, assim como a mãe. 

Para mim, Jane Birkin era alguém que se permitia viver o tempo presente. Não aparentava querer se lembrada eternamente pela imagem de símbolo sexual que causou furor nos anos 1960 e 1970. Muito menos por ser o nome por trás da bolsa valiosa e que leva assinatura da exclusivíssima grife francesa Hermés. Pelo contrário. A artista chegou a pedir que retirassem seu nome do acessório após denúncias de maus tratos com os crocodilos cujo destino era virar bolsa de luxo.   

Só uma mulher livre e à vontade com sua 'persona' desconstrói intencionalmente sua própria imagem. Foi o que fez ao subir pela primeira vez num palco e se apresentar ao vivo diante do público, em 1987. Birkin tinha 41 anos e estava determinada a apagar os atributos pelos quais se tornou conhecida e que a faziam parecer quase como uma boneca de cabelos longos, franja, olhos grandes e cílios bem desenhados. O mais importante era que a plateia prestasse atenção na sua voz e nas letras de suas canções. Não queria mais que a aparência fosse o foco. Por isso, passou a tesoura nos cabelos, que eram uma espécie de marca registrada da artista. 

Ela, que é um dos grandes ícones da moda, ensinou às mulheres que o essencial era se sentir à vontade. Roupas largas, associadas ao guarda-roupa masculino, podiam ser extremamente elegantes. Birkin era a rainha da camisa branca folgada, usada para fora do jeans que parecia ser dois números maiores e dos suéteres de cores neutras. Seu estilo era espontâneo, sem a pretensão de aparentar alguém que não era ela. 

Não se importava que a aparência dos últimos anos havia se tornado a de alguém mais envelhecida. Os problemas de saúde, um AVC e uma longa batalha contra um câncer, podem ter contribuído para acelerar o processo. Birkin também teve que processar o luto pela perda da filha mais velha. Kate, fruto do seu primeiro casamento com John Barry, o compositor do famoso tema de James Bond, morreu após a queda do 4º andar do prédio onde morava. 

Jane Birkin se movia com a consciência universal de que o tempo passa para todo mundo. Nele, é preciso conviver com as ausências, como a da filha que partiu tragicamente. Mas também é preciso celebrar a vida dos que ficaram. Um dos caminhos encontrados por Birkin foi se manter criativa até o último momento. 

Em 2020, lançou o álbum  "Oh ! Pardon tu dormais…" após ficar 10 anos longe dos estúdios de gravação. O disco foi considerado uma jóia ("un bijou" para os franceses) pela crítica musical. Logo depois, estrelou o belo documentário "Jane por Charlotte", primeiro trabalho da filha do meio como diretora. Pela lente amorosa de Charlotte, Birkin é mostrada na intimidade de sua casa no sul da França e também em apresentações que fez pelo mundo recentemente. 

Lotando teatros, seja em Nova York ou Tóquio, não havia nada de decadente na passagem do tempo com Jane. A referência cultural que passou pelos anos da contracultura e da liberdade sexual, a inglesa, que foi adotada por um país abertamente xenófobo, se manteve relevante ao longo de décadas. Fará falta. 

Fonte: Redação Nós
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