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Por trás de nossas maiores conquistas estão mulheres que ousam resistir 

O ouro de Rebeca Andrade e Beatriz Souza é pura representatividade num país que insiste em maltratar mulheres negras e periféricas

5 ago 2024 - 18h31
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A medalhista de ouro Rebeca Andrade no pódio sendo reverenciada
A medalhista de ouro Rebeca Andrade no pódio sendo reverenciada
Foto: REUTERS/Hannah Mckay

Quem assiste ao documentário "O Retorno de Simone Biles" (Netflix,) em que o fenômeno da ginástica relata suas batalhas para voltar ao Olimpo do esporte, descobre que uma das maiores preocupações da atleta ao desistir dos Jogos de Tóquio era comunicar a decisão à sua mãe, Nellie Biles.  

Ao sentir que sua integridade física estava em risco, em virtude de uma perda da noção do espaço, problema conhecido por "twisties", Biles se retira da competição e liga para mãe. Na chamada exibida no documentário, Nellie imediatamente apoia a decisão da filha.   

Rebeca Andrade pôde contar com a mãe na plateia desde o começo dos Jogos de Paris. Dona Rosa saiu do Brasil pela primeira vez para ver a filha encantar o mundo nas Olimpíadas de 2024. Enrolada numa bandeira brasileira, com lágrimas nos olhos, viu a filha sair maior ainda do que chegou a Paris, com quatro medalhas, sendo uma de ouro no solo. Após o feito, a ginasta brasileira foi reverenciada pelas duas medalhistas dos Estados Unidos. Uma delas, ninguém menos do que Simone Biles. 

Difícil imaginar como seria a vida de Rebeca sem a força e a coragem de uma mãe que desafiou todas as dificuldades do mundo, pessoais e financeiras, para que a filha seguisse na ginástica artística. Antes de se tornar a atleta brasileira com mais medalhas em Jogos Olímpicos, Rebeca só queria saber de dar uma escapada para se aconchegar num longo abraço de mãe.

A expressão de felicidade nesse momento de candura máxima não deixa dúvidas sobre o orgulho que sentem e os laços gigantes que unem mãe e filha.

Rebeca Andrade tem encontro emocionante com a mãe após pódio; assista ao momento:

Quando a judoca Beatriz de Souza ganhou o ouro no judô, derrubando outras três medalhistas olímpicas, ela emocionou todo mundo com cinco palavras ao sair do tatame exibindo a medalha. "É para a vó, mãe", disse Beatriz em entrevista após o grande feito.

Brecholina Rodrigues da Silva, a avó, tinha morrido dois meses antes dos Jogos Olímpicos. A judoca não só transformou o luto em um momento de alegria como reverenciou as mulheres da família que vieram antes dela. Se chegou até ali, foi pela importância que essas mulheres tiveram na vida da campeã. 

Beatriz e Rebeca estão no topo do mundo. Até este exato momento, elas são responsáveis pelas únicas vezes em que vimos a bandeira do Brasil ser hasteada ao som do hino nacional. Momentos que provocaram lágrimas e um sentimento de esperança de que o esporte pode ajudar a transformar a realidade de mulheres pretas e periféricas num país que insiste em maltratá-las.

São elas as maiores vítimas de violência sexual e as maiores injustiçadas quando se trata de igualdade salarial, ganhando 47% menos do que a média da população brasileira. São apenas alguns exemplos de como o Brasil é cruel com avós e mães de meninas como Rebeca e Beatriz foram um dia. 

Não poderia haver representatividade mais poderosa do que ver que nossas maiores conquistas são delas, as descendentes de mulheres que personificam o mais puro significado de resistência. Mulheres que se lançam numa batalha diária para manter vivos sonhos e projetos de uma vida melhor para quem vem depois delas.

Não precisava ser tão difícil assim. Mas diante da realidade, nossas reverências também se destinam a elas.

Fonte: Lúcia Soares Lúcia Soares foi repórter em alguns dos principais canais de televisão (Rede Globo, Band, Record TV, TV Cultura). Atrás das câmeras, trabalhou na edição (Decora) e direção (Chegadas e Partidas-temporada 5) de programas de variedades.
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