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Porque ultraconservadores se incomodam tanto com pessoas sem filhos?

Faltando dois meses para eleição nos EUA, a candidata à presidência Kamala Harris sabe que não terá vida fácil

26 ago 2024 - 05h00
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Eleições americanas: não existe caminho fácil para a atual vice-presidente
Eleições americanas: não existe caminho fácil para a atual vice-presidente
Foto: Reprodução/Instagram @kamalaharris

Primeiro foram os curativos na orelha, imitando o de Donald Trump após o atentado. E mais recentemente, alguns eleitores republicanos surgiram exibindo potes com a foto de JD Vance, o vice na chapa de Trump, simulando o que seria o esperma do senador republicano, de 39 anos.  

Mas o pote de esperma, ao contrário do curativo de orelha, vai além da bizarrice. Na origem de tudo, estão declarações de Vance, de revirar o estômago, em que deu sua opinião sobre pessoas que não têm filhos. O teor delas assusta pelo desprezo às liberdades individuais e à democracia. 

Faltam pouco mais de 2 meses até a eleição nos Estados Unidos. Mas como bem avisou Michelle Obama na Convenção Democrata que homologou o nome de Kamala Harris como candidata à presidência, não existe caminho fácil para a atual vice-presidente. "Pessoas estão prontas para criticar cada movimento que Kamala fizer, ansiosas por espalhar mentiras", disse Michelle num discurso histórico que eletrizou a plateia presente à Convenção. 

Entre as muitas tentativas de desqualificar uma mulher candidata está a afirmação insidiosa, por exemplo, de que Kamala não se preocupa com o futuro do país pelo único fato de não ter filhos. Aliás, também vimos aqui nos debates à prefeitura de São Paulo a mesma estratégia de um candidato da extrema-direita de desqualificar uma das únicas mulheres que está na disputa, a deputada Tabata Amaral. O candidato ironizou a formação de Tabata, dizendo que ela só se mostra mais bem preparada porque não tem marido. Não tem marido!! É a mesma misoginia desavergonhada e estridente, usada aqui ou lá no hemisfério norte. Atitudes assim revelam o que essas pessoas pensam sobre o papel da mulher, alguém que sempre virá a reboque de um homem. 

Se não ela não tiver um marido e filhos, é uma mulher coitada, solitária, com uma vida miserável. Pelo menos é isso que tentam colar na imagem de uma mulher livre e que disputa os mesmos espaços de poder deles. Tentam colar uma imagem de que essas mulheres são uma ameaça à própria existência da família tradicional. 

Como se famílias não pudessem se formar em torno do afeto que sentem um pelo outro em vez de somente por laços de sangue. Prova disso é a própria Kamala, com dois enteados, filhos do primeiro casamento do marido Doug Emhoff, e com quem mantém uma relação aparentemente de bastante carinho.  

Em 2021, numa entrevista que foi recuperada recentemente, o candidato a vice de Trump, chegou a dizer que o país estava na mão de "um bando de cat ladies"(mulheres dos gatos). Não contente em usar um dos estereótipos mais sexistas da história, ainda sustentou que pessoas sem filhos deveriam ser punidas por isso. A punição, pasmem, incluiria pagar mais impostos e restringir os direitos políticos delas, como o direito ao voto. É como voltar séculos na história quando os senhores feudais, os donos da terra, eram os que tinham poder de decisão. É muito grave que pessoas concorrendo à presidência de um país ventilem teorias contra a igualdade de direitos, contra a base das democracias. 

O apetite para legislar sobre o corpo feminino é tão grande que até tratamentos para infertilidade, como a fertilização in vitro, entram na mira dessa gente. Querem interferir na vida de quem tenta um filho através de tratamentos consagrados, porque embriões seriam "descartados" nessa prática, sendo que existe legislação para isso. Infelizmente, sabemos por experiência que ideias assim acabam sendo repetidas por ultraconservadores de outros países, entre eles do Brasil. A política de lá não é dissociada da política daqui. 

Trump e seus apoiadores colocam os direitos reprodutivos das mulheres no front de uma batalha que não leva à melhoria de vida de ninguém. Só falta sugerirem a existência de Aias, uma escravizada sexual cuja função é procriar, como resposta à infertilidade de casais. A escritora Margaret Atwood pensou o "Conto de Aia" como uma distopia. Mas o desejo pelo retrocesso é tão grande que, se bobear, um dia desses alguém vai propor uma sociedade à imagem e semelhança de Gilead. 

Fonte: Terra
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