Quantos insultos misóginos cabem numa fala de Neymar?
Com comportamento polêmico, Neymar se divorcia da imagem do ídolo que permanece nos corações dos torcedores mesmo quando sai de cena
Neymar usou ofensas misóginas e etaristas para responder à atriz Luana Piovani que criticou uma PEC de autoria de Flávio Bolsonaro. O jogador cumpriu à risca comportamentos associados com o pior do machismo e chegou a insinuar que Luana estaria interessada nele.
Nada mais previsível do que um macho incomodado com uma opinião feminina desferir ataques misóginos e etaristas como resposta. Neymar não fugiu à regra. Desde que a atriz Luana Piovani criticou a PEC de autoria de Flávio Bolsonaro – que pode abrir caminho para privatização de trechos da costa, margens de rios e lagoas que pertencem à Marinha – e classificou Neymar Jr como anti-ídolo, uma vez que seria beneficiário da proposta, a atriz foi chamada de louca, velha, entre outras ofensas proferidas pelo jogador.
Em resposta à Luana, Neymar diz aos seus seguidores que "abriram as portas do hospício", naquela velha e surrada tática de homem machista que tenta colar nas mulheres a imagem de louca para desqualificar o que elas têm a dizer. É muito chocante que o atacante ainda use deste expediente que não cabe mais no mundo de hoje. Justo alguém que teria todas as condições de ser minimamente informado.
O jogador também diz que a atriz "está querendo alguma coisa" com ele porque "não tira meu nome da boca". Assim, insinua que Luana estaria interessada em algo mais. A gente sabe exatamente o que seria algo mais. Já que não tem, fala mal. Puro suco de misoginia.
De novo, assusta saber que um atleta considerado ídolo consiga cumprir à risca comportamentos associados com o pior do machismo. No entanto, não satisfeito, Neymar vai além e defende que é preciso "enfiar um sapato" na boca de Luana porque "só fala merda”. Um depoimento que perturba pela violência gráfica do conteúdo.
Para encerrar, o jogador que um dia foi considerado o maior craque surgido no futebol brasileiro depois de Pelé ache por bem destilar etarismo. "Quer ser famosa, filha? Seu tempo já foi", diz ele. Complementa alertando a atriz que certas coisas não pegam bem quando se tem uma certa idade. "Tem mais de 50 anos e quer vir lacrar na internet", dando a entender que mulheres com essa idade deveriam se recolher e sequer dar as caras num universo apenas reservado aos mais jovens.
O atleta que, com frequência, é ironizado por receber tratamento de "menino", mesmo tendo passado dos 30 anos, parece estar cada dia mais distante do futebol que lhe deu fama e dinheiro.
Sem jogar bola desde outubro do ano passado por causa de lesões frequentes, e com um comportamento fora dos campos considerado polêmico, Neymar vai se divorciando da imagem do ídolo que permanece nos corações dos torcedores, mesmo quando se retira de cena.
Bem que poderia ter aprendido com outros atletas que ele admira como o sete vezes campeão mundial de Fórmula 1, Lewis Hamilton, que se notabilizou por ser um ativista das principais causas mundiais, em favor das chamadas minorias.
Neymar também poderia ter se inspirado nas lendas do basquete como LeBron James e Stephen Curry. O armador do Golden State Warriors, quando seu time foi campeão da NBA em 2018, liderou um movimento para que sua equipe não fosse cumprimentar o então presidente Donald Trump. Anos depois, Curry saiu em defesa do colega LeBron James quando o político de extrema-direita,ofendeu o jogador dos Lakers numa clara demonstração de racismo.
Aliás, LeBron sempre foi um dos jogadores mais alinhados com o movimento Black Lives Matter, numa consciência clara do tamanho gigantesco de seu papel de ídolo.
Alguém consegue imaginar LeBron James fazendo papel de MC de chá de revelação de um político de extrema-direita, como fez Neymar ao anunciar em live o sexo do filho do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira?
Pelo visto, o caminho que Neymar escolheu está cada vez mais distante de um ídolo nacional ou mundial. Agora, além de 'parça' do clã bolsonarista, o jogador exibe, sem nenhum constrangimento, sua porção machista e misógina. Triste destino para alguém que um dia encantou o mundo com seu talento em campo.