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Sob nova direção, Miss Universo abraça feminismo de autoajuda

A principal competição de beleza acontece neste sábado, a partir das 22 horas de Brasília, com transmissão pelo Youtube do Miss Universo

14 jan 2023 - 05h00
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Mia Mamede é a representante brasileira no concurso Miss Universo 2023
Mia Mamede é a representante brasileira no concurso Miss Universo 2023
Foto: Reprodução/Instagram

"É hora da mulher se impor. É hora das mulheres mandarem no mundo", disse Anne Jakkapong Jakrajutatip, a nova dona do Miss Universo, ao receber as mais de 80 candidatas em busca da coroa mais icônica dos concursos de beleza. Em seu discurso não faltaram palavras  típicas do mundo corporativo, como propósito e liderança, e frases às candidatas em tom motivacional, assim como fazem palestrantes focados em autoajuda. "Beleza não é somente a aparência ou o andar. É o jeito de falar. E o mais importante: o cérebro por trás da fala", completou a empresária, numa demonstração de que o Miss Universo, que acontece neste sábado (14/01), em Nova Orleans (EUA), pretende ter mais a cara do século 21, refutando qualquer anacronismo. O Brasil estará representando pela capixaba Mia Mamede.

Para isso, a principal competição internacional de beleza feminina promoveu algumas mudanças históricas em suas regras, incluindo a participação de mulheres casadas, divorciadas, grávidas e mães. 

Outra grande inovação talvez esteja representada na própria Anne Jakrajutatip que, aos 43 anos, é a primeira mulher a se tornar dona do Miss Universo em 71 anos de história do concurso. No final do ano passado, a empresária tailandesa desembolsou 20 milhões de dólares (algo em torno de 102 milhões de reais) na compra do evento. 

Anne é uma mulher trans que, desde os 5 anos, sabia quem era. Por sua trajetória, coloca-se como um exemplo para as novas candidatas à rainha da beleza de que tudo é possível quando você acredita no poder do universo em retribuir com boas energias aquilo que se deseja. No caso dela, foi uma retribuição e tanto: empresária bem sucedida, celebridade de reality shows em seu país, Anne entrou para o clube das pessoas bilionárias aos 38 anos. Neste mesmo período, segundo suas palavras, "renascia como mulher". Fez a cirurgia de redesignação sexual em 2018 na Tailândia, país onde nasceu e que é uma referência mundial neste tipo de procedimento. Dois anos depois, tornou-se mãe de um casal de filhos. 

Assim como as misses que desfilam em suntuosos trajes de gala, Anne é adepta de um bom brilho e maquiagem impecável. A mensagem que gosta de transmitir é a de que reforçar a beleza usando esses artifícios é parte da jornada em direção ao autoconhecimento. Sentir-se bela nada mais é do que uma maneira de ter poder sobre si mesma e inspirar outras mulheres a fazerem o mesmo. Portanto, as candidatas à coroa de Miss Universo cumprem uma importante função. 

Esse discurso imprime um tom mais contemporâneo à competição, num esforço de aproximar o Miss Universo das últimas mudanças que aconteceram na sociedade. Mas até que ponto isso é possível num evento cuja razão de existir é escolher qual mulher é a mais bela, entre tantas candidatas com belezas que refletem diferentes características e origens? Quais critérios definem quais são as que têm mais chance de vestir a faixa de Miss Universo e usar a coroa num próximo reinado? Quando a Venezuela era uma incubadora de Miss Universo, ganhando um título atrás do outro, eram famosas as histórias de candidatas submetidas a procedimentos cirúrgicos apenas para atenderem aos requisitos do júri. 

Por mais que o conceito de beleza possa e deva incluir personalidade e intelecto, o que prevalece é o que o olho do público e jurados(as) enxerga quando as candidatas desfilam em roupas de gala ou de biquíni, envoltas em capa transparente, movimentando os braços como asas de uma borboleta.

A empresária tailandesa trans Anne Jakkapong Jakrajutatip é a dona do Miss Universo
A empresária tailandesa trans Anne Jakkapong Jakrajutatip é a dona do Miss Universo
Foto: Reprodução/Instagram

Tenho na memória que, antigamente, como parte da apresentação de cada candidata, eram detalhadas as medidas de altura, busto, quadril à medida que elas entravam na longa passarela. Imagino que isso tenha ficado no passado, assim como Donald Trump, dono do concurso até 2015 e que se referiu à venezuelana Alicia Machado, Miss Universo 1996, como Miss Piggy, porque ela, que sofria de distúrbio alimentar, tinha engordado. Aliás, todo o capítulo Trump, um notório misógino e xenófobo, parece surreal quando se olha para a história da competição. 

Quem sabe, com as alterações nas regras da competição, vamos ver as candidatas à coroa de Miss Universo trocarem o famoso apelo pela paz mundial por um discurso mais conectado à realidade. A competição pode continuar sendo o que é: entretenimento. Mas nunca é tarde para mudar.

Fonte: Redação Nós
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