Povos indígenas ocupam Brasília contra todos os retrocessos do atual governo
Acampamento Terra Livre reúne cerca de cinco mil indígenas, de 120 povos diferentes
A diversidade de povos e cultura com canto cores e seus adornos ocupam Brasília (DF) na maior mobilização mundial: o Acampamento Terra Livre 2022 (ATL), que tem como tema esse ano: “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política". O encontro começou neste dia 04 e vai até 14 de abril, essa é a 18ª edição do ATL.
Os debates já iniciaram na tenda do Acampamento Terra Livre e três temas foram abordados no primeiro dia de articulação. O pontapé inicial começou com o “Emergência Indígena”, que tem como objetivo debater as ameaça aos territórios e fortalecer a visibilidade de urgência da demarcação das terras e como a morosidade das instituições em cumprir a lei coloca em risco a vida dos povos originários brasileiros.
Logo depois, o dia seguiu com o “Alerta Congresso”, que discute os impactos do Legislativo, com o lançamento de uma carta aberta contra o PL da destruição (PL 191/2020). A chamada “PL da Lama” ou “da mineração” é mais um delírio do governo genocida de Bolsonaro que quer legalizar os garimpos ilegais nos territórios indígenas.
No período da tarde, a discussão retornou com o tema “Emergência Indígena”, com o debate “Nossa luta pela vida: impactos no Executivo, demarcação e políticas públicas” E à noite foi iniciada a programação cultural com a diversidade cultural dos mais de cem povos presente no evento.
Dinamam Tuxá, coordenador executivo da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), ressalta a importância da mesa “Emergência Indígena” para o fortalecimento das lutas coletivas.
“Esse tema que propomos para o debate ‘Emergência Indígena’ é um assunto que sempre reiteramos porque nós, povos indígenas, nunca deixamos de estar em emergência. Poucas vezes na história, tivemos um momento político tranquilo. Sempre foi de muita violência, retrocessos, extermínio e genocídio. Esse genocídio, que tanto citamos, é praticado, endossado e executado pelo poder público, que tem por obrigação constitucional proteger os povos indígenas e seus territórios. Isso é o que consta no nosso texto constitucional, mas infelizmente, ao longo da história, sofremos um verdadeiro extermínio”.
O coordenador ressaltou ainda que a luta do movimento indígena não é recente. “Nossos antepassados derramaram sangue pra conquistar esse território que pisamos, e nós somos sobreviventes daqueles que não conseguiram matar”.
Acampamento Terra Livre
O Acampamento Terra Livre foi fundado em 2004 quando um grupo de indígenas do Sul do Brasil, dos povos Kaingang, Guarani e Xokleng, vieram até Brasília para expor às autoridades suas demandas em defesa da terra. Chegaram e não foram recebidos pois era necessário agendar. Decidiram então acampar em frente ao Congresso Nacional.
Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), ressalta a força da coletividade do movimento indígena e sua resistência.
“Hoje estamos na 18ª edição e juntos estamos vivendo uma emergência, os povos indígenas estão em emergência devido a todos os ataques, a todas as invasões que acontecem em nossos territórios, todo esse discurso de ódio, de incitação à violência, que é praticado pela maior autoridade do País, o presidente da República e todo seu governo. Não vamos permitir esse entreguíssimo dos nossos territórios, esse divisionismo que tentam fazer todos dias entre nós, aqui está a unidade dos povos indígenas do Brasil. Viemos dizer não a mineração. Dizer não a PL 191. Dizer não ao garimpo ilegal. Dizer não a PL 490, que impede a demarcação dos territórios indígenas do Brasil. Dizer não a retirada das madeiras, não ao agronegócio. Dizer não a PL da grilagem que premia invasores. Dizer não ao marco temporal. Essa é a luta coletiva do movimento indígena”, afirma Sonia Guajajara.
Já se somam no Acampamento cerca de cinco mil indígenas, de 120 povos diferentes, serão dez dias de conversas, debates, manifestações, assembleias, acontecerão plenárias sobre o impacto e a ameaça das ações do Executivo, do Legislativo e do Judiciário aos territórios indígenas; uma plenária virtual com o Parlamento Europeu e a Organização das Nações Unidas (ONU); conversas sobre saúde, economia, educação, diversidade e juventude; bem como um resgate dos 18 anos do Acampamento Terra Livre. A previsão é de que até o final do ATL estejam mais de oito mil indígenas.
Confiram a programação completa aqui.