Promover a representatividade regional fortalece a luta indígena coletiva
Brasil precisa seguir na tentativa de reconstruir uma democracia que respeite sua diversidade cultural
Temos a participação de 13 indígenas de povos diferentes no governo de transição do presidente eleito Lula. A importância da participação de povos que compõem as regionais da nossa maior organização, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) que tem representação em todos os estados brasileiros através das suas organizações regionais pela primeira vez na história do nosso país, tem gerado bastante discussão nos mais de 305 povos espalhados nesse Brasil profundo.
O direito de participação de todos garante a ampla diversidade cultural, ancestral e milenar que temos. Promover essa representatividade dentro da construção dessa nova política fortalece cada vez mais a luta coletiva. É necessário estar presente neste espaço. Nós, indígenas, somos diversos e cada povo tem sua especificidade.
Queremos fazer história e declaramos também que “a política será território indígena, sim!”. Nosso intuito é promover o bem viver, reflorestamentos e aldear a política. Uma forma conjunta e democrática de decidir e conduzir o futuro.
Vale ressaltar que o projeto “Campanha Indígena” é uma iniciativa da Apib em parceria com as organizações regionais desde 2020, pretendendo ampliar a representação dos povos nas instâncias dos poderes Legislativo e Executivo em todo o país. Durante o Acampamento Terra Livre, lançamos mais de 30 candidaturas indígenas para as eleições de 2022 em todo o Brasil. Dessas candidaturas, tivemos Sônia Guajajara eleita por São Paulo e Célia Xacriabá eleita por Minas Gerais, duas deputadas federais que compõem a bancada do cocar.
Seguimos no diálogo para garantir a participação de todos os povos na criação do ministério. Estamos enfrentando pautas urgentes que ameaçam nossas vidas e tradições. E todos precisam ter voz. A demarcação dos nossos territórios segue como bandeira principal, de forma que a defesa pela vida contra a agenda de destruições é nossa prioridade. Apesar de termos uma luta coletiva coesa e bem definida, não podemos ignorar que o território brasileiro é extenso e, por isso, cada região pode ter outras demandas igualmente importantes.
Há uma tentativa incessante de aplicação de projetos de morte contra nossos territórios e vidas. Uma das propostas centrais do atual governo federal é a abertura das Terras Indígenas para exploração em grande escala por mineradoras, hidrelétricas e grandes projetos de infraestrutura. Está em trâmite no Congresso Nacional Brasileiro o Projeto de Lei 191/2020 que é um dos principais instrumentos dessa política de destruição, o qual tem sido apresentado como prioridade legislativa do governo federal desde o seu início.
Ainda que siga em processo legislativo para eventual regulamentação, já é possível sentir os impactos danosos da mineração sobre nossos territórios. Observamos a contaminação de nossos rios e a devastação de nossas florestas e de comunidades inteiras que, quando não foram destruídas ou levadas pela lama tóxica do vazamento de barragens de resíduos minerais, ficaram sem acesso à água.
Teremos um ano de muitos desafios, mas seguimos comprometidos com a liberdade dos nossos territórios, do nosso povo, da sociedade brasileira e com o planeta.