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Quantos indígenas ainda precisam morrer para que os culpados sejam punidos?

Depois da posse histórica da ministra dos Povos Indígenas, vivemos o sofrimento de ver mais dois de nós assassinados

19 jan 2023 - 05h00
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Sonia Guajajara e Anielle Franco tomaram posso no dia 11 de janeiro
Sonia Guajajara e Anielle Franco tomaram posso no dia 11 de janeiro
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O dia 11 de janeiro de 2023 ficará marcado nas páginas dos jornais e nos livros de história de todo o mundo com a repercussão da posse de Sônia Guajajara, a primeira ministra dos Povos Indígenas.

Acompanhando de perto cada momento, já chamava a atenção logo na chegada. Na fila para o evento de posse da ministra um toré era puxado por Júnior Xucuru e toda sua delegação ali presente. O ritual já dava boas vindas por quem ali passava e sentia a energia ancestral que fortalecia aquele lugar, que alguns dias antes tinha sido palco de um atentado terrorista por aqueles que não aceitaram o resultado das eleições e não respeitam a democracia do nosso país.

Terroristas praticaram vandalismo destruindo completamente todo o Supremo Tribunal Federal, o Congresso e o Palácio do Planalto, onde ocorrreu a posse da ministra Sônia Guajajara e Anielle Franco, duas mulheres e duas histórias de luta e superação.

A cerimônia teve início com a reza do povo Guarani puxado por Thiago Guarani e os xondaros. Seguindo a solenidade, repleta de simbolismos, foi marcada pela sonoridade da cultura de matriz africana, do samba e da música indígena. O hino nacional foi executado na língua indígena Tikuna na voz da artista indígena Djuena Tikuna.

Anielle homenageou a irmã Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 14 de março de 2018, e elencou uma série de ações voltadas ao combate à desigualdade racial, em especial, fortalecendo o papel das mulheres negras.

Sônia homenageou o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, que foram assassinados em uma expedição à região amazônica do Vale do Javari, no Amazonas, em junho de 2022. Ela destacou a simbologia do evento, com um discurso que focou bastante na valorização da ancestralidade, e anunciou a recriação do Conselho Nacional de Política Indigenista.

Foram momentos único para quem presenciou a cerimônia. A história está sendo reescrita. Foi uma conquista para todos que respeitam a democracia do nosso país.

Mas o esforço de reconstrução do Brasil ainda não está sendo respeitado. Uma semana depois da posse histórica a violência voltou a ganhar os espaços dos jornais.

Dois indígenas da etnia pataxó foram assassinados por volta das 17h30 desta última terça-feira (17) na BR-101, próximo ao distrito de Montinho, no município de Itabela. Samuel Cristiano do Amor Divino, 25 anos, e o adolescente Nawy Brito de Jesus, 16, trafegavam pela rodovia em uma moto quando foram baleados.

Segundo testemunhas, eles estavam sendo perseguidos por pistoleiros em um carro. Conforme os relatos, as vítimas foram derrubadas, rendidas e executadas com vários tiros, inclusive na cabeça.

O clima na região é bem tenso entre fazendeiros e indígenas, várias denúncias já tinham sido feitas . Quantos de nós, indígenas, ainda precisam tombar para as autoridades fazerem o que é certo e punir os culpados?

Os dois jovens indígenas foram mortos na entrada de uma das fazendas ocupadas por 19 comunidades pataxós do extremo sul da Bahia há cerca de um ano. O povo pataxó reivindica a homologação da área, que fica entre os municípios de Porto Seguro e Prado. Basta de violência, basta de preconceito. Nunca mais um Brasil sem nós, mas queremos estar vivos para ver nossos direitos garantidos na constituição de 1988.

A ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara lamentou nas redes sociais o assassinato dos dois jovens pataxós. Ela ressaltou que o crime está ligado ao conflito por terra e prometeu acompanhar de perto a violência que vem acontecendo naquela região. A mesma adiantou que pediu o envio da Força Nacional ao local.

Não basta termos um governo que dá oportunidade para os verdadeiros donos dessa terra e, ao mesmo tempo, termos uma bancada ruralista eleita que não aceita e não respeita os nossos modos de vida. Querem nos expulsar, humilhar e até mesmo matar para ocupar o nosso lugar. Chega de tanta impunidade!

Fonte: Redação Nós
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