Associar deficiência à dependência reforça o capacitismo e segrega PcDs

Esses dias, me peguei pensando o quanto temos contato com a palavra e o conceito de independência desde muito cedo. Grávida do meu segundo filho, reparei muitas pessoas falando o quão Davi, agora com 2 anos, é independente e estou aqui lembrando que até bem pouco tempo atrás eu usava essa palavra para tudo e qualquer coisa, como: “quando eu crescer, quero logo alcançar minha independência financeira”; “quero ser independente”; “ai, como eu odeio depender das pessoas”; “olha como o baby cresceu e está independente”, entre muitas outras.

Você deve estar se perguntando: qual o problema disso, uma vez que depender dos outros para qualquer que seja a coisa pode vir a ser uma questão, não é? Seja porque você não gosta, não consegue pedir ajuda e/ou porque não tem com quem contar mesmo.

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A sociedade em geral associa a dependência a algo ruim e, para nós, pessoas com deficiência, isso se torna uma sentença, já que para vocês ter uma deficiência é sinônimo de dependência e algo que ninguém quer ter/ser, certo?

Antes de continuar, deixo aqui alguns questionamentos: você costura/confecciona as roupas que usa? Você fabrica/produz todo alimento que consome? Você montou algum veículo que usa para se locomover na cidade? A casa que mora foi você quem construiu? Criou algum aplicativo que utiliza no seu dia-a-dia? Fiz essas perguntas para ilustrar o quanto somos seres interdependentes o tempo todo e que o fato de conseguirmos fazer as coisas sozinhos está diretamente ligado ao nível de autonomia que temos para fazer o que queremos e que, assim como vocês, nós, PCDs, tendo as ferramentas necessárias, também conseguimos ter bastante autonomia. Depender não é algo pesado e a busca incessante pela independência pode ser adoecedor porque nunca seremos completamente independentes!

Associar a deficiência automaticamente à dependência reforça muitos pensamentos capacitistas, afasta e segrega as pessoas com deficiência de uma vida plena em sociedade, desconsidera a nossa humanidade, ajuda a manter estereótipos e, mais do que isso, cria uma ilusão de que pessoas sem deficiência não dependem tanto quanto pessoas com deficiência e que o simples fato de ser como somos nos torna indivíduos dignos de pena e de cuidados extremos e pesados.

Nós, pessoas com deficiência, dependemos tanto quanto vocês, o que muda é a autonomia que temos para fazer o que queremos e devemos fazer, e essa autonomia está diretamente ligada a ferramentas/tecnologias assistivas que possuímos para nos auxiliar. Isso vai desde escovar os dentes, nos vestir até trabalhar, ir a shows e muitas outras tarefas. Somos todos seres interdependentes e isso não é algo ruim!