Como é ser uma mãe cega?
Você acha difícil o maternar? Criar um filho? Já imaginou fazer isso sem enxergar?
De fato, gestar uma criança não é uma tarefa muito fácil, no meio de uma pandemia então, nem se fala. Não posso negar que me vi com muitos medos ao longo da minha gestação, ainda mais porque passei oito meses isolada e eu tinha feito muitos planos para quando estivesse vivendo esse momento e que ficaram apenas nos planos mesmo. Até porque, naquele instante, estar saudável era o que mais importava.
Criar um indivíduo não é das tarefas mais fáceis desse mundo e fazer isso sem enxergar com os olhos pode ser ainda mais desafiador. Como faz para dar banho? Como troca fralda? Como faz para dar remédio? Como escolhe roupa? E vai ficar sozinha com o bebê? Como amamenta? Como saber se está com dor, cólica etc. Tudo isso sem ver? Perdi as contas de quantas vezes eu ouvi isso ao longo da gravidez. Como se uma pessoa que enxerga e fica grávida pela primeira vez também não tivesse essas questões.
Eu sempre quis ser mãe e acredito que isso fez toda diferença no meu processo. Davi nasceu prematuro e a primeira vez que “vi” meu filho foi ainda no centro cirúrgico, quando a médica colocou o rostinho dele grudado ao meu, e só fui o sentir mesmo na UTI, na incubadora, que foi quando o amamentei pela primeira vez e foi uma das melhores sensações que eu tive. Ali eu tive a certeza de que todos os planos que eu havia feito para ele seriam diferentes porque a gente tenta ter controle de tudo, mas não temos controle de nada e essa foi uma das coisas que eu mais aprendi depois que tive filho.
A real é que quando nasce uma mãe, nasce uma culpa e no maternar as cegas não é diferente. O meu leite secou e se antes a dúvida era como eu iria amamentar, a questão passou a ser com o que amamentar? A fralda, o banho, o remédio, a roupa, como tudo na minha vida, fomos nos adaptando e depois que adapta, não tem dificuldade porque vira rotina, cotidiano. Eu não conseguia dar banho na banheira, mas passei desde muito cedo a dar banho no chuveiro e assim nós vamos nos descobrindo. O que não consigo fazer, peço ajuda e Davi já sabe que mamãe não é perfeita e que tem coisas que ela consegue e coisas que ela não consegue e está tudo bem.
Para mim, enxergar não é essencial e por isso acho que os meus medos nunca foram com relação ao cotidiano, porque eu sei que sempre preciso dar um jeito, já que não tem quase nada pensado para quem não vê, imagina para quem não vê e é mãe? Eu já sabia com o que iria lidar! Agora, no que diz respeito ao subjetivo da maternidade, sempre tive muito medo e isso é comum entre as mães, não é? No fundo, toda mãe quer que seu filho cresça saudável, feliz, que seja bondoso, gentil, que tenha caráter, etc.
Aqui em casa tudo é falado, tudo é descrito, vivemos intensamente a rotina e os sentimentos! A cegueira entra muito mais como metáfora para não saber como lidar com o que está por vir, do que no sentido real de não se deixar de fazer porque não estou vendo. É uma diferença sutil de perspectiva, mas que faz toda diferença