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O amor como forma de humanização de corpos PCD’s

Pertenço a um grupo cujo corpo físico e a humanidade não são considerados para relações afetivas, sexuais e amorosas

3 dez 2022 - 05h00
(atualizado às 18h51)
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Tenho 30 anos, sou formada em jornalismo, tenho um filho, estou na minha segunda gravidez e ontem completei um ano de casada
Tenho 30 anos, sou formada em jornalismo, tenho um filho, estou na minha segunda gravidez e ontem completei um ano de casada
Foto: Arquivo Pessoal

Hoje é Dia Internacional das Pessoas com Deficiência e ontem eu completei um ano de casada. Vocês podem estar se perguntando: o que uma coisa tem a ver com outra? Ou até mesmo onde essas duas coisas se relacionam? 

Eu tenho 30 anos, sou formada em jornalismo, trabalho, tenho um filho e estou na minha segunda gravidez! Uma vida comum, dentre muitas aspas, não fossem todos os rótulos que atravessam a minha existência, né? Afinal de contas ser uma mulher negra, favelada e cega, e estar onde eu estou, me fazem parecer pro imaginário comum da sociedade um ser de outro planeta. Mas, alguns desses meus rótulos, mais precisamente o de Pessoa com Deficiência, quando percebidos, anulam todos os outros. No entanto, todos os olhares e dedos apontados que eu e mais cerca de 15% da população mundial recebemos não se revertem em ações que nos faça de fato pertencer e participar da vida em sociedade de forma equivalente.

Pertenço a um grupo cujo corpo físico e a humanidade não são considerados para relações afetivas, sexuais e amorosas, logo, estar quatro anos juntos, um ano de casados e dois filhos, não é algo comum de se ver entre os meus. Lucas, até hoje, recebe os parabéns por estar comigo e eu sou questionada frequentemente por viver um relacionamento interracial. Foi preciso olhar além desses rótulos que nos embalam, considerá-los e não ignorá-los, para estarmos juntos.

Na teoria, eu enquanto mulher negra, favelada e cega, não teria nada a ver com ele, um homem branco, órfão de pai e mãe e TDAH. De fato, nossas diferenças aparecem todos os dias em nossas escolhas e atitudes mas, o que nos une, vai muito além de todas essas questões que descrevi acima. Nosso relacionamento é baseado em companheirismo, cumplicidade, alegria, carinho, amor próprio e muito amor coletivo. O amor que respeita as nossas individualidades, celebra as nossas diferenças e vibra com as nossas semelhanças! Um amor ciente de que é bom estar sozinho, mas de que é muito melhor estar junto! Nossa família interracial, atípica, diversa e muito potente seguirá existindo e resistindo!

Demorou um tempo para que eu começasse a considerar a possibilidade de viver o amor sendo um corpo que carrega consigo infinitas particularidades, mas, hoje estando resistindo até mesmo a esse sistema que influencia diretamente o cotidiano de pessoas como eu, vejo o quanto vale a pena o resultado: uma felicidade indescritível e, de fato, um processo de humanização do meu próprio corpo que transcende as barreiras que o preconceito impõe.

Neste Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, reforço a importância de nossa luta para que essa realidade que estou inserida hoje, se torne também uma realidade dos meus pares. É necessário que sejamos vistos e considerados pela sociedade como indivíduos que erram, acertam e que assim como o todo: possuem direitos e obrigações. Mais de 1 bilhão de pessoas que não estão nas escolas, praças, faculdades, empresas, na política, e nas lideranças, e nós de fato não estamos, quando estamos, reforçamos uma regra da estrutura social: a exceção. É inegável o cansaço físico e mental que cerceia a nossa existência, mas penso que resistir e coexistir com o todo é criar diariamente o desenho de uma sociedade mais igualitária.

Fonte: Redação Nós
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