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Como a 'ideologia de gênero' afeta mulheres trans no esporte

Debate fomentado por conservadores é usado para excluir mulheres trans do esporte

31 jan 2023 - 16h03
(atualizado às 16h04)
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No início do Mês da Visibilidade Trans, Ana Moser, atual ministra do Esporte, deu uma declaração importante a respeito da inclusão de atletas transexuais no Brasil. “Temos de tratar [pessoas trans] com todo respeito e condições de inclusão”, disse a ex-atleta em entrevista concedida ao Poder360.

Esta afirmação vem após um período político falho em relação a iniciativas inclusivas. Muito pelo contrário, durante os quatro anos do governo Bolsonaro a discussão em torno do termo “ideologia de gênero” foi bastante intensa. Inclusive, este debate foi muito mais amplo, uma vez que o ministério esportivo foi extinto no início de 2019.

Ana Moser quer criar políticas públicas para incluir pessoas trans no esporte
Ana Moser quer criar políticas públicas para incluir pessoas trans no esporte
Foto: Lance!

A definição, utilizada para expressar a preocupação delirante de conservadores com o ensino de sexualidade nas escolas, tem uma conotação pejorativa e que ataca a existência de pessoas trans. Afinal, ideologia de gênero simplesmente não existe. O que existe é a identidade de gênero, que deve ser ensinada para que o preconceito seja combatido. 

Sheilla Souza, atleta da Desportiva Lusaca (BA) e única mulher trans no futebol feminino profissional, sabe bem como a abertura do debate de ideologia de gênero é prejudicial à existência de pessoas trans. 

“Algumas pessoas acham que a gente vira trans. Já ouvi gente falando: ‘Ah, você nasceu homem. Você virou mulher’. Inclusive, várias vezes essa questão ideológica afetou a vida profissional da Tifanny [Abreu], no vôlei. Apesar de nos esforçarmos mil vezes mais do que uma mulher cis, sempre vão nos questionar e tentar diminuir o nosso trabalho”, contou a jogadora em conversa com o Papo de Mina

Sheilla Souza de Jesus é goleira
Sheilla Souza de Jesus é goleira
Foto: Reprodução Instagram

Além das barreiras impostas diariamente pela sociedade a uma mulher trans, Sheilla viu nos últimos quatro anos uma crescente do discurso de ódio, principalmente nas redes sociais. 

“Eu lembro de quando comecei a jogar bola, como foi difícil me firmar no profissional, porque as pessoas têm uma ideia de que tudo o que a gente faz é porque temos vantagem. Mas não é verdade. Temos a exigência do tratamento hormonal, que muda todo o corpo. Para mulheres trans, o trabalho é dobrado.”

O Papo de Mina contou a história de Sheilla, que se divide entre a ocupação durante o dia e os treinos à noite, aqui na coluna. No entanto, a rede de apoio que a atleta conquistou nos últimos anos, principalmente com o auxílio do seu preparador, Tarcísio Carvalho, tornou o processo de adaptação mais tranquilo. 

“Para cada pessoa conservadora que quer nossa exclusão da sociedade, tem muitas outras que nos querem praticando esporte. Espero que, desta vez, como disse a ministra, [o governo] cumpra as promessas e não esqueça que atletas trans existem e precisam de espaço”, concluiu.

Papo de Mina
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