Como a 'ideologia de gênero' afeta mulheres trans no esporte
Debate fomentado por conservadores é usado para excluir mulheres trans do esporte
No início do Mês da Visibilidade Trans, Ana Moser, atual ministra do Esporte, deu uma declaração importante a respeito da inclusão de atletas transexuais no Brasil. “Temos de tratar [pessoas trans] com todo respeito e condições de inclusão”, disse a ex-atleta em entrevista concedida ao Poder360.
Esta afirmação vem após um período político falho em relação a iniciativas inclusivas. Muito pelo contrário, durante os quatro anos do governo Bolsonaro a discussão em torno do termo “ideologia de gênero” foi bastante intensa. Inclusive, este debate foi muito mais amplo, uma vez que o ministério esportivo foi extinto no início de 2019.
A definição, utilizada para expressar a preocupação delirante de conservadores com o ensino de sexualidade nas escolas, tem uma conotação pejorativa e que ataca a existência de pessoas trans. Afinal, ideologia de gênero simplesmente não existe. O que existe é a identidade de gênero, que deve ser ensinada para que o preconceito seja combatido.
Sheilla Souza, atleta da Desportiva Lusaca (BA) e única mulher trans no futebol feminino profissional, sabe bem como a abertura do debate de ideologia de gênero é prejudicial à existência de pessoas trans.
“Algumas pessoas acham que a gente vira trans. Já ouvi gente falando: ‘Ah, você nasceu homem. Você virou mulher’. Inclusive, várias vezes essa questão ideológica afetou a vida profissional da Tifanny [Abreu], no vôlei. Apesar de nos esforçarmos mil vezes mais do que uma mulher cis, sempre vão nos questionar e tentar diminuir o nosso trabalho”, contou a jogadora em conversa com o Papo de Mina.
Além das barreiras impostas diariamente pela sociedade a uma mulher trans, Sheilla viu nos últimos quatro anos uma crescente do discurso de ódio, principalmente nas redes sociais.
“Eu lembro de quando comecei a jogar bola, como foi difícil me firmar no profissional, porque as pessoas têm uma ideia de que tudo o que a gente faz é porque temos vantagem. Mas não é verdade. Temos a exigência do tratamento hormonal, que muda todo o corpo. Para mulheres trans, o trabalho é dobrado.”
O Papo de Mina contou a história de Sheilla, que se divide entre a ocupação durante o dia e os treinos à noite, aqui na coluna. No entanto, a rede de apoio que a atleta conquistou nos últimos anos, principalmente com o auxílio do seu preparador, Tarcísio Carvalho, tornou o processo de adaptação mais tranquilo.
“Para cada pessoa conservadora que quer nossa exclusão da sociedade, tem muitas outras que nos querem praticando esporte. Espero que, desta vez, como disse a ministra, [o governo] cumpra as promessas e não esqueça que atletas trans existem e precisam de espaço”, concluiu.