Como criação à "garra e gasolina" moldou 1ª chefe da Stock
À frente da Hot Car - New Generation desde 2020, Babi Rodrigues combate o preconceito no automobilismo
Quem acompanha a principal categoria de automobilismo brasileira, a Stock Car, talvez já tenha se surpreendido ao ver imagens de uma mulher como chefe de equipe. Ela é Babi Rodrigues, responsável pela Hot Car - New Generation desde 2020, e que dia após dia supera o sexismo do esporte para cumprir dois objetivos: honrar o legado de seu pai, Amadeu Rodrigues, fundador da equipe, e abrir portas para mais mulheres no automobilismo.
"Meu pai conseguiu transformar um sonho em um negócio, e foi assim que a Hot Car surgiu. Por ter todo esse amor, ele fazia questão que a família o acompanhasse em cada passo que ele dava nas pistas, que entendesse o que é um espírito de equipe, como você pode ser competitivo mas também ser ético, como você pode fazer grandes amizades aqui sem precisar prejudicar ninguém. Então ele foi me moldando, moldando o meu caráter, com o plano de fundo que eram as pistas. Ele foi com certeza a minha maior inspiração", explica Babi, em entrevista exclusiva ao Papo de Mina.
A referência do pai, que morreu em 2020, é a motivação para superar os desafios diários que o cargo exige. Como filha única, Babi conta que desde cedo foi encorajada a assumir o cargo, mas que a desconfiança por ser mulher sempre a rondou. "Falavam para ele [pai] que só quem tem filho homem continua com a equipe, e ele batia nas minhas costas e falava: 'Quem falou que eu não tenho filho homem?'. Era a maneira dele de falar que tinha orgulho e que ele via sim que eu não precisava ser um homem para estar ali comandando, que ele tinha criado uma filha feita a base de muita garra e gasolina."
Após a vitória da equipe na etapa de Velocitta, Babi viu mais uma vez sua capacidade de estar no cargo ser questionada, mas garante que lidou com isso da forma mais natural possível. "Eu nunca duvidei do meu próprio potencial e quando você tem certeza que está no lugar que deveria estar, fazendo o que ama e se dedicando ao máximo, não existe ser humano nesse mundo que vá fazer você acreditar no contrário. E o que importa mesmo são o que os membros do meu time consideram como uma grande vitória, um bom trabalho, e eu tenho certeza que eu tenho a força, o carinho e a dedicação de todos", define.
O papel das mulheres no automobilismo
Única mulher como chefe de equipe da Stock Car, Babi confia que o cenário deve melhorar no futuro, inclusive com novas pilotos aparecendo, já que a última representante do sexo feminino no grid da Stock Car foi Bia Figueiredo, em 2019, e reconhece o esforço feito pela Stock Car para garantir um ambiente seguro. "É muito importante sempre abrir portas, sempre abraçar outras mulheres e, se você ver qualquer situação de assédio, de violência, não se calar, porque é assim que a gente vence o ódio. Não podemos deixar algo só porque não está acontecendo diretamente com você ser aceitável. Nós fazemos o ambiente que a gente vive".
O otimismo da chefe da Hot Car encanta, e deve servir de lição para encorajar as novas gerações: "enquanto eu puder, eu vou mostrar para mulheres que amam esse esporte que é possível sim, que você pode dar a volta por cima. As pessoas vão duvidar de você, isso aconteceu também na minha história. Quando eu peguei o time uma boa parte acreditou que eu não ia continuar e a outra acreditou que eu iria continuar mas seria um fracasso, e hoje eu estou mostrando, passo a passo, com muita humildade, que eu tenho o meu valor".
O legado de uma equipe de mais de 40 anos segue sendo escrito, mas uma "nova letra", como define Babi, que mira estar entre as cinco principais equipes da categoria em 2023. "Resolvi fazer tudo diferente, trabalhar de uma forma diferente, com pessoas diferentes, e estamos obtendo resultados diferentes. Então é assim, eu dou muito valor para a minha tradição, para a minha história, mas agora é uma nova geração, um novo capítulo, e temos outros objetivos e, se Deus quiser, uma linda estante de troféus pela frente".