Envolver criança em violência do futebol é ato criminoso
Imagens do torcedor do Inter com criança no colo agredindo jogador adversário são tão surreais que parecem delírio coletivo
Mais uma vez as brigas em estádio ganharam mais relevância do que o resultado esportivo. Ao invés de falarmos sobre a conquista de Bia Ferreira, campeã do Mundial de Boxe Feminino pela segunda vez na carreira neste domingo, 26, me vejo na obrigação de escrever sobre a cena absurda flagrada no Beira-Rio, após a eliminação do Inter para o Caxias no Gauchão.
Um homem, com uma criança no colo, invadiu o gramado e agrediu o jogador Dudu Mandai, do Caxias, e um cinegrafista da emissora gaúcha RBS TV.
O mau exemplo começou entre os jogadores, que trocaram agressões assim que a disputa de pênaltis decretou a classificação do Caxias e, na sequência, alguns torcedores do colorado invadiram o gramado, aumentando a confusão.
A violência, dentro ou fora de campo, é algo absolutamente condenável, mas que infelizmente segue se repetindo nos estádios. Mas o fato de alguém, com uma criança de colo, pular das arquibancadas para o gramado com a única intenção de agredir outro ultrapassa todos os limites. Não há nada que justifique.
No ano passado escrevi aqui para o Papo de Mina uma coluna intitulada "Você se sente seguro para levar sua filha a um estádio?", abordando justamente os episódios de violência no futebol, que prejudicam o acesso de mais mulheres e crianças aos jogos. Aparentemente esse torcedor se sentiu seguro não só de levar a menina ao estádio, mas também de levá-la para dentro de campo e realizar uma barbárie. Inadmissível.
A experiência dessa criança - que parece ter menos de quatro, cinco anos - poderia ser triste, por ver seu time eliminado, mas faria parte do universo do futebol, composto por vitórias e derrotas. O que ficará agora, depois de participar desse ato irracional, possivelmente será um trauma, uma associação de futebol à violência, e não apenas para ela, mas para muitas outras crianças, pais e mães que assistiram às imagens.
Com mais esse caso, me vejo obrigada a novamente perguntar: "você se sente seguro para levar sua filha a um estádio?".
E ainda há quem diga que o boxe, esporte que nos permite uma atleta como Bia Ferreira, com 36 pódios em 37 campeonatos internacionais e 31 ouros, é o que incita a violência.